terça-feira, março 28, 2006

UM DIA SE CALHAR…


Um dia se calhar
Vou pagar para ter amor.
Não será já o teu
Porque esse findou
Como a flor cortada e na jarra colocada.
Porque nós nos estamos metamorfoseando
Em continuo.
Dois estranhos íntimos.
Reservados nas carícias
Vigilantes no espaço ocupado
Da cama imensa e fria.
Porque as minhas mãos já deixaram de buscar teu corpo
No silêncio e no escuro da noite cúmplice.
Porque deixei de dormir com teu seio poisado na minha mão em concha
E teus cabelos soltos perfumados deixaram de me acariciar o rosto.
Porque temos uma cama comum
E uma imensa fronteira!
De dois corpos que se repelem hoje
Mas que antes se atraiam.

Sei que à luz da ciência, é um problema de física.
Ou das emoções, ou dos sentimentos
Será um problema dos homens?
É um problema de sensibilidade acusas!
Estou demasiadamente sensível, insensível, ou se calhar estúpido!
Ou finjo estar!
E sofro em silêncio e só!
Como geralmente estou.
Que é como me conheço desde que sou pessoa
Rodeado de gente, mas só como eu mesmo.
Assim calmo.
Por isso me dói
Por isso, e se calhar
Vou pagar para ter amor
Um outro tipo de amor comprado que desconheço.
Nas esquinas das ruas escuras desta cidade imensa e fúnebre.
Nas alcovas tantas vezes partilhadas em gemidos
Ensaiados neste imenso teatro da vida.
Um amor frio impessoal
Indigno desse nome tão sublime. Amor!
Um amor frio desconhecido, comercial com certeza
Que não deixa marca nem saudade.
Mas que fere e violenta.
Mas que acalma, relaxa…

Sei?
Ou talvez não?
Escutei na rádio.
Que geralmente se está às avessas?
Ou de costas voltadas?
Uma questão de idade
Dizem os terapeutas
Uma questão de orgulho ou de insensatez?
Não sei!
Que se o soubesse, não estava aqui
Nestas letras expresso em dor!

Sei só!
Porque já é assim desde o princípio
Depois deste Inverno frio
Onde diariamente e a todo o instante sinto a tua falta
Nesta cama imensa onde também te encontras.
Que ciclicamente vai voltar a Primavera
E com ela voltam as andorinhas,
As flores, e os cheiros nos campos
O calor dos dias claros…

Sei só que eu!
Mais dia, menos dia
Também volto à terra de onde surgi
Reciclando-me sempre em contínuo
Inexoravelmente!
(Ou desistindo!)
João marinheiro ausente
Fotografia de Barcoantigo

5 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

excelente reciclagem....:)


abraço.

Anónimo disse...

Gostei de ler...voltarei...

claudia disse...

Amor não se compra!

Bjs!

Lagoa_Azul disse...

Um dia devagar, descobres que o lugar do lobo jamais foi o mar...
Um dia se calhar tropeças numa concha de amor á beira desse mar...

Deixo-te beijos com carinho

Anónimo disse...

As ondas vão e vêm, e as marés também. Como o amor...