domingo, março 19, 2006

HOMENS DE NASSIRIA






Estendo o olhar.
De novo vejo e relembro
Os heróis!
Eu que ainda não morri, e vivo, e viverei
Porque sobrevivo!
Mas!
Aparte isso.
Tenho comigo todos os sonhos
E as lembranças.
De todos os heróis mortos, perfilados em Nassiria!
Envoltos em lágrimas e nas flores
Ou no luto das esposas
O clamor do choro. Dos filhos órfãos.
Todas as homenagens tardias
Todas as condecorações a titulo póstumo!
Todas as visões de guerra na Tv! Reality show em directo.

Fora isso carrego comigo, e vou só, com este peso.
Todos os sonhos dos que tombaram.
E eu que também sonhei
E eu que também tive uma farda
E uma guerra dentro da guerra. Estúpida guerra!

Homens!
De Nassiria!
Envoltos em escombros e gritos de ambulâncias
Em qualquer parte, neste mundo redondo, mas obtuso!
Os heróis mortos!
Soldados!
À deriva nesta terra.
E eu?
E tu?
Por onde andas a estas horas do dia, meu amor?
Eu que ainda não morri
E carrego os sonhos de todos os heróis que tombaram
Sei que já não estas mais comigo ou te importes
Apenas viverei o suficiente para te esquecer.

Assim reconfortado
Com o pensamento cheio
De tristezas
E de lamentos
Sinto ainda nos ouvidos o ruído forte da explosão
Poetas suicidas!
Histórias de bandeiras desfraldadas
Pelo Islão?
Pelo Corão?
Que Deus és tu?
Que amas a todos de igual para igual
Que Deus és tu?
Que deixas as crianças órfãos
Que Deus és tu?
Que permites a vinda do Anti Cristo em forma de presidente Bush!
Que Deus és tu, e acredito!
E tenho esperança
Que atrás dos dias de terror, o sol de novo brilhe
Na terra árida juncada de cadáveres e de escombros
E então germine a semente da flor, ou a roseira desponte
E abra o botão vermelho rubro ao sol
Eu, que por ali vou passar um dia
Colherei a flor com minhas mãos, cheirar o seu perfume suave
Assim num acto simbólico, ou de amor instituído
Vou ajoelhar na terra estéril e seca
E oferecer-te a flor num acto de remissão ou de perdão ou do amor que sinto.
A ti Deus! Que permites que os homens matem
As crianças indefesas nesta guerra desigual
Entre Mouros e Cristãos.
Desde os princípios dos tempos…
João marinheiro ausente

Excerto de "Reencontros"
Poema escrito em 21/11/03
fotografia de Barcoantigo




2 comentários:

Anónimo disse...

Percebes mar a minha revolta com Deus? Sei que acreditas que um dia vou fazer as pazes com ele...mas como poderei se em cada esquina vejo as lágrimas de uma mãe que chora a perda de um filho, de uma mulher que clama aos céus a piedade para com seu amor, um filho que grita a dor de perder a mãe.
A minha revolta é demasiada..a minha falta de confiança tremendamente quebrada...acho que Deus nos esqueceu mar!
Ele não nos ama....
somos filhos de ninguém...

Anónimo disse...

Como os bons ventos te levaram até mim, aproveitei a maré e vim...passeio, saboreo, namoro cada uma das palavras que semeas em cada onda...abraço-as e... pasmo!