segunda-feira, maio 29, 2006

NENHUMA PALAVRA É INOCENTE…


Escrevo-te agora
Porque já não existes em mim
O coração gotejando
E tu sem te importares despedes-te assim fria
Ficas do lado de fora do abraço, logo não existes
Deixas de ser sonho.
Porque o que sinto hoje é a dor da história repetida
Hoje escrevo
Dedicado a ti,
Já em tua memóriaTenho uma memória fantástica
Selectiva, diziam-me um dia destes…
Memória estranha que deixa o sonho apagar-se
Como um ficheiro anexo neste velho cérebro com processador virtual.
Questionavas porque escrevia a um amor, uma amor assim…
A minha história instituída.

No momento escrevo-te a ti, és a minha história do momento
De novo instituída, só historia, não sei de ti.
Quem és?
Porque vieste até mim
Disfarçada em palavras
Sedenta de amor
A transbordar sonho.
Porque surgiste na minha vida?
Porque andaste de roda de mim?
Porque andei de roda de ti?
Porque andamos de roda um do outro?

O meu coração sangra
Não sangra de amor.
Estou curado!
Sangra de saudade
Sangra de conversas contigo
Sangra em cada frase que já não partilhamos…
Sangra em cada letra na msg moderna por móvel que mandaste a despedir-te
…Tenho a impressão por dentro de uma repetição, uma segunda via…
Preferia uma carta de despedida escrita numa folha de papel pardo como antigamente.
Mas,
Já não se escrevem cartas de amor, quanto mais cartas de despedida à mão…
Tempos modernos estes em que miseravelmente nos reduzimos ao nada vazio…
Refugio-me no silêncio da tua ausência, como pedes…
E
Quando as saudades comigo passearem de mão dada como queria andar contigo
A ver o Tejo na nossa Lisboa
Escrevo-te.
Se um dia leres
Porque espero que um dia possas ler
Escrevo-te
Agora dedicado a ti
Como antigamente dediquei a alguém
Com a mesma ternura
O mesmo sentimento
A mesma paixão
Chama-lhe amor se queres, já não interessa…
Escrevo
Com a mesma vontade de confessar o que sinto
Para lá da ausência tua, porque te despediste também.
Agora por ti
Em tua memória que não sei se és…
Porque verdadeiramente não sei quem és
Nunca te revelaste fora do sonho que dizias querer viver
E porque agora me dou conta ou talvez não
Afinal eu fui sempre o papel secundário dentro do teu sonho
Mas não importa isso, fico magoado só, para que saibas.
A minha memória é selectiva
Recordo o bom de ti
Tudo o resto são palavras

E

NENHUMA PALAVRA É INOCENTE…


João marinheiro , Estoril Maio 2006
Fotografia de Barcoantigo

sábado, maio 27, 2006

PORQUE ESTOU AUSENTE, NUNCA ESTOU…


Queria-te aqui
Queria-te aqui, por favor
Diz que vens
Diz!
Quero-te agora neste preciso momento em que os segundos se conjugam com os minutos e os minutos com as horas, as horas com os dias, os dias com as semanas as semanas com os meses e os meses com os anos, os anos com os séculos os séculos com a eternidade
A minha eternidade…
Queria-te aqui
Para chamar-te de meu amor
Minha eterna namorada que amo
Para descansar o olhar triste nos teus olhos melancólicos
Para dizer outra vez que te amo
Faz falta dizer que te amo
Eu sei, eu sei
Digo para não me esquecer de te amar diariamente como tu gostas
Digo para sentir que te amo agora neste intervalo de segundo que fica para lá do tempo presente
Do tempo passado, do tempo ausente da minha ausência que notas
Do meu silêncio que sentes, da minha voz que não escutas
De mim que não estou
Nunca estou…
Queria-te aqui agora ao meu lado
Sentada na minha perna
Enquanto escrevo as palavras que não te digo
Enquanto te entreténs brincando com o meu pescoço em beijos e lambidelas lânguidas
Que me fazem ficar assim arrepiado e alerta
Excitado.
Enquanto me segredas ao ouvido que me queres intervalada com pequenas mordidas
És uma sedutora…
Queria-te aqui
Neste momento
O momento preciso em que a lua dá volta à volta da terra e a terra se volta à volta do sol
Queria-te aqui mesmo neste preciso instante onde não sei por onde andas…
Imagino-te só…
Queria-te aqui para poder descansar o meu braço grande e minha mão tão rude à volta da tua cintura
Afagar a tua barriga deixar subir e descer a minha mão atrevida…
Enquanto escrevo com um dedo
As palavras que não sei dizer-te ao ouvido.
Eu que sou espécie de máquina sem sentido ou sentimento
De olhar como um farol brilhante só e triste na noite longa de insónia.
Queria-te aqui
Para conversar
Neste preciso instante em que uma pomba cai dizimada pelo chumbo mortal no campo imaginado em flores primaveris num sítio qualquer.
Queria-te aqui neste instante
Que uma mãe dá à luz só, com lágrimas, emoção, sangue, e muito amor
Queria-te aqui no momento exacto em que a tesoura num golpe grotesco e frio corta o cordão umbilical.
No instante do primeiro grito
No instante do primeiro choro
No instante do primeiro contacto com o seio e o alimento materno
Queria-te aqui no primeiro sono.
Por onde andas?

Escuto as sirenes que gritam
Tocando a rebate
Escuto os clamores no campo de futebol
Escuto a ovação no coliseu
Escuto gritos e choros
Travagens bruscas de pneus no cruzamento
O rangido dos freios eléctricos do alfa pendular apressado em direcção ao sul
E penso
Em ti e em mim
De roda das palavras sentidas
O que me contas o que me escreves
Porque te quero
Porque te queria aqui neste momento em que o CD dá mais uma volta a sete mil e oitocentas rotações por minuto
Demasiado de pressa…
Gosto dos discos lentos a trinta e três rotações por minuto. Pretos, grandes
Gosto de ti lenta
Grande
De madrugada ou pela tarde, ao anoitecer ou na hora da ceia
Em vinte e quatro horas seguidas em dias claro e dias cinzentos
Em semanas de sete dias ou de oito que não sei se existem…
Em meses de trinta dias e em meses de trinta e um dias
Em cada ano seja comum ou bissexto
Gosto de ti
Neste preciso momento
Num século de inventos de idas à lua
Ou das novas gerações de telemóveis
A cores na Tv digital ou numa velhinha a preto e branco
Gosto de ti
No preciso momento em que tocas à campainha da porta e eu não estou em casa
Ou no telegrama:
Stop!
Tu não estavas.
Stop!
Em casa.
Stop!
Gosto de ti ao abrir a caixa de correio electrónico e tenho os 250 megas da caixa cheia de ti…
E dizes:
Que eu não estava em casa.
Que tocaste a campainha
Que foste embora
Que mandaste um telegrama na estação dos correios da velha vila
E não conformada
Para que eu saiba que tu estiveste do outro lado da porta
Mandaste mails, correio moderno, frio impessoal, a dizer que eu não abri a porta porque com certeza não estava
E já não sabes se voltas, se vale a pena. Se o encanto perdura, se a inocência se perdeu
Se eu te quero ainda…
Que estás confusa e que estás só…
E eu neste intervalo em que te escrevo, o tempo em que se calou a campainha, a chave rodou no trinco, a porta se abriu, chegou o correio, e abri a caixa de mensagens, em toda esta eternidade numa fracção do tempo eterno e cósmico
Eu
Eu só te queria aqui
Neste momento
Para te dizer que te amo
Te amar
Fazer-te minha, só minha, na eternidade
Olhar-te nos olhos beijar teus lábios
Sorrir para ti
Chamar-te de minha eterna namorada
E não me esquecer de te amar todos os dias como tu gostas
Deixar que continues sentada na minha perna enquanto escrevo com um dedo só lentamente…
Queria-te aqui hoje e amanhã
Para te dizer que me podes amar livremente em sonho
Em desejo
Em querer que arde por dentro nas entranhas
Para te dizer que mesmo ausente, é assim que ando
Me podes amar porque te amo também
Um amor grande em segredo, eterno, proibido
E para te dizer que te queria aqui neste momento
Fora de horas
Em que me lembro e não sei de ti…
Porque estou ausente
Nunca estou.


João marinheiro ausente
Foto gentilmente cedida por A. Diogo

domingo, maio 21, 2006

VIA E-MAILL


Despediste-te por correio electrónico hoje
Tinha de ser hoje, um dia assim
Dos poucos que gosto neste verão tardio
Céu azul profundo e nuvens dispersas alvas de algodão
Tinha de ser hoje, assim desta forma impessoal
Sei, sabia ou esperava, que mais dia, menos dia, tinha de ser
Mas não hoje
Podia ser num dia de chuva, nevoeiro ou frio
Ou no Outono que se avizinha…
Não hoje! Um dos raros dias do verão que eu gosto
Um dos raros dias em que admiro o céu. Respiro o ar a plenos pulmões
E me apetece partir voando…

…Eu
Sabes que sou a imperfeição reunida em momentos
Um amontoado de ideias, planos por realizar
Projectos adiados indefinidamente
Também muitas conversas para ti, dedicadas a ti, pensadas em volta de ti. Monólogos ensaiados ao pormenor em voz alta.
Naqueles dias em que ando só, conduzindo.
Assim, tenho a serenidade e o tempo para pensar. Ao mesmo tempo, vou fazendo corridas com os traços descontínuos das estradas, vencendo quilómetro sobre quilómetro, numa luta nervosa de homem e máquina.
E quando finalmente chego e páro o motor da máquina que comigo competiu, no final do dia de trabalho, sinto-me mais aliviado, vazio, ausente do tanto que te disse, (o tal monólogo de surdos…).
As respostas tardam em chegar. Nunca chegam.
Não escuto o eco de tua voz.
Não vislumbro o teu rir ou o teu olhar.
Não passas de uma miragem vazia de essência
Miragem sem tempo!
O tempo!
Inevitável tempo que já não tens
Nem sei porque já não tens mais tempo?
Para nós, ou o nosso amor. Ou só para me escutar!
Ou será que ainda existe amor?...ou existiu alguma vez?
Tinha de ser hoje, e hoje eu tinha de te escrever, febrilmente rabisquei o meu monólogo num papel de rascunho na berma da estrada.
Eu preciso do tempo para escrever
Por isso escrevo agora, ou passo a limpo as ideias do papel solto, onde aponto os meus monólogos.
Não tenho uma agenda, assim muito do que te disse, perde-se na memória, nunca o vais escutar ou ler porventura
E tenho tantos rascunhos para passar a limpo…
Por isso escrevo agora, escutando música de Ivan Lins “ A Minha história”
Recordando mentalmente como um filme.
Pode ser o filme da nossa vida, e confesso
Não me reconheço como actor
Sou personagem de adereço?
Ou secundário?
E tu!
Quem és?
Ou o que foste para mim?
E o que sou para ti?
Ilustre desconhecido sem direito a ser amigo?
Amigo é aquele que partilha, bons e maus momentos
Que andamos fazendo nos últimos tempos? Sem tempo para partilhar!
Degladiando-nos com palavras ou omissões…
Um deslumbramento ou um clic? Li algures, faz tempo…
Ou algo de exótico misto de rudeza e diamante em bruto a lapidar?
Afinal quem és tu que te aproximas de meu coração desta forma que dói
Afinal, alguma vez me amaste? Ou alguma vez acreditas-te no meu amor?
Alguma vez me quiseste assim como te quero. Ou queria…
Quanta desculpa inventada, quanta distancia instituída em nós!
É tarde
Tarde para se começar de novo. Vale a pena?
Tudo vale a pena quando se quer
Se o coração sente as palavras não são precisas…
Olhos nos olhos diz que não me amas, ou nunca amaste
Que tudo é um engano. Não me digas por palavras escritas…Porque são frias!
Olhos nos olhos na profundidade do nosso olhar
Ou se queres, não te dês ao trabalho, porque como dizes vivo na ilusão…
E deixe de te murmurar ao ouvido que te amava. Ou doa ainda...

(…Um dia descubro um botão neste teclado, e então apago num clic o sentimento…)

Dizes que é impossível ser teu amigo?
Todo o mundo é feito de impossíveis possíveis no acto próprio
Não queres que te ame. Não queres que te diga ao ouvido, e eu não digo
Deixo de encostar os meus lábios ao teu ouvido
Deixas de escutar o timbre de minha voz
Mas fico com o teu desamor por mim, e o meu amor por ti em sobressalto
E em curva descendente
Porque te amo ainda hoje em pensamento
Inevitavelmente, quer queiras ou não
Inevitavelmente, quer acredites ou não
A mim que me importa que não acredites
Estou louco ou sou louco. Quem sabe? Não me importo nem quero saber
Nem quero que os outros saibam que te amo ainda em pensamento
Ou que me doa permanentemente, embora não o creias, o sentimento saudade
Ou que te importes, porque já faz tempo deixei de te falar
Ou insistir…
Porque a voz não pode levar a língua e os lábios que lhe deram asas
Despediste-te por correio electrónico hoje, não num outro dia qualquer
Dos trezentos e sessenta e cinco dias do ano
Tinha que ser hoje, por isso não me importo, ou se calhar importo e protesto
A mágoa que sinto é por ter sido num dia excepcionalmente belo
Tudo o resto é acessório
O que importa é mesmo o dia de hoje que não volta
Não me importo já, se te perdi numa despedida
Num último beijo
Ou na festa no rosto
Ou no abraço longo
Na gare do aeroporto quando entraste por aquela porta
E me viraste as costas sem olhar para trás
Ou nas asas do avião que te levou para longe…

Não me importo já, se te perdi numa despedida
Consequência das vidas desencontradas, ou em cruz
Não me importo. Inevitavelmente
Se foi em cruz, a nossa vida tinha de se encontrar na curva descendente
E encontrou, mas continua afastando-se mais e mais
A curva ascendente de novo
Nada disso me importa agora
O que me custa é por ter sido neste dia azul profundo
Não por ter sido em correio electrónico
Porque hoje, tempos modernos, já não se escrevem cartas
Cartas de amor, ou as outras das más noticiais
Cartas de amor que se guardam como tesouros
Ou as outras que se deitam fora ou se queimam.

Nunca te escreveram cartas de amor?
Escritas com a mão e o coração?
Essas são as verdadeiras cartas de amor, com o coração escritas
Que me importa a mim hoje, tempos modernos
Que esta não tenha sido uma carta de amor
Se não foi escrita à mão. Com o coração, como podia ser de amor
Que hoje o amor é moderno e global. Vive nas teclas do computador pessoal
Ou via e-mail…
Portanto que me importa a mim, que esta seja uma carta de más noticias
Que deito fora
Ou que te tenhas despedido por correio electrónico
A despedida vive até ao momento do clic, do “Delete”
Depois deixa de ocupar espaço no disco
Que me importa a mim, que não saibas escrever cartas de amor à mão
Ou que te importa a ti, o espaço que essa carta electrónica ocupe em mim…

Continuo escrevendo ou tentando
Umas vezes cartas de amor
Porque o confesso, ou que te quero ainda, ou escrevo com o coração
Outras de despedida
Revistas mentalmente quando conduzo correndo contra o tempo
Ou se páro ao sinal vermelho do cruzamento
E tu, porque nunca. Não passas do outro lado da rua
Ou porque quero continuar a escrever
Sem me importar mais, que te despeças diariamente na ausência de notícias
Que não dás
Porque te despediste por correio electrónico e isso te basta
Um amor global, moderno, e sem marcas. Gravado no disco
Fora do coração

Não te perdoo que tenha sido hoje. Neste dia tão lindo
A despedida por correio electrónico
Podia ter sido ontem ou amanhã
Ou nunca!

Tudo o resto é ilusão dizes…
Ou nevoeiro…
Ou dias de verão cinzentos… à mistura com um beijo, seco, ou em espiral.
(… mudei entretanto a musica que ouço, e escrevo porque me inspiras…)

Despeço-me ao som da Teresa“ Haja o que ouver...”

João marinheiro ausente
Fotografia de Barcoantigo

sábado, maio 20, 2006

NESTE MOMENTO...


Neste momento existes aqui
Vejo-te chegar ao longe
És inconfundível
Neste flash da memória
Caminhas pelo meio do jardim abandonado
Neste instante estamos juntos
Fui ter contigo à foz
Esperava-te faz alguns minutos…
Passeamos pela Cantareira,
Sentamos onde demos o primeiro beijo
As mesmas pedras com limos e saudades dos barcos que acostavam
Dei-te a mão, sorriste para mim
E eu feliz olhei os teus olhos que amo
Fomos os dois subindo a margem deste nosso Douro
Passamos o ouro, velho estaleiro que não existe
Notei a ausência dos barcos
Falei-te dessa ausência
Continuas sorrindo para mim.
Sentamo-nos na esplanada, a mesma mesa lembras?
Onde confessei o meu amor por ti, tímido
E tu com o brilho imenso do teu olhar
Beijaste as minhas mãos cansada num consentimento consentido.
Bebeste uma água fresca eu um café forte
Lembras?
Provei o amor de teus lábios doces
Sentia no peito o coração desarvorado em rotações frenéticas…
Passamos o dia juntos junto ao Douro.
Pela tardinha despediste-te na promessa de voltar
À Cantareira a ver-o-mar
Atravessaste a ponte para a outra margem
E eu senti que nesse instante da travessia te perdia
Não sei de ti…
Neste momento
A janela aberta manhãzinha
O sol quente inicia o dia a nascente
Incide no rosto, a custo abro os olhos.
Neste momento existes aqui
Num flash que dura a eternidade do clarão branco
Enquanto desperto
Tive-te comigo
E fiz a história que esqueço diariamente
És a minha memória dos dias bons
Que guardo religiosamente
Porque existes
Para lá do tempo
Porque existes
Para lá da vida
Porque existes
Para lá do amor eterno
Porque existes…
E então
Porque existes em momentos
Estamos juntos de novo
Não importa que seja no clarão do acordar
Ou no pesadelo a meio do sono.
Neste momento vieste ter comigo, estou contigo de mão dada
Existes aqui
Como memória
E eu vejo à velocidade da luz a minha vida contigo
Com principio, meio e fim
Compreendidos no espaço dum abrir de olhos ao acordar.
Desperto finalmente
Afasto os lençóis, lavo a cara, visto-me
Enfrento mais um dia igual de trabalho
Sorrio para mim próprio
Amanhã pela manhã encontro-te de novo e dar-te-ei mais um beijo
Confessarei de novo o meu amor por ti
Contento-me
És a minha memória dos dias bons
Memoria virtual…
joão marinheiro ausente
Fotografia Google

quarta-feira, maio 17, 2006

GOSTO DE TI


Gosto de ti porque gosto do teu nome
Podia gostar de ti de outra maneira
Ou por outra coisa qualquer.
Gosto de ti assim, simples
O complicado aqui sou eu.

Gosto que me fales
Gosto que me sorrias
Gosto que me escutes
Principalmente que me escutes

Gosto do teu nome
E isso não é uma maneira qualquer de gostar
Porque te contemplo
Para lá do firmamento
Para lá do horizonte virtual
No outro lado do horizonte imaginário onde habito
Ou abaixo do zero hidrográfico
Onde todos os barcos encalham
E os peixes morrem secos.

Gosto de ti porque gosto do teu nome
Porque vieste até mim sem que eu tenha gritado teu nome
Sem que eu tenha sonhado teu nome
Porque afinal não sei o teu verdadeiro nome…
Mas, no naufrágio em que morri
Tu me salvaste
Assim,
Emergi das profundezas escuras e frias. Abissais
Amparado por ti qual medusa gigante
De encontro à luz
Que eu a medo por estar nas trevas desconhecia.

Salvaste-me num contacto íntimo. Os lábios nos lábios
E eu senti
O teu ar, um fôlego imenso que me restituiu
À vida
Abri os olhos e dei contigo o teu olhar quente de mistério
Nesta praia deserta de areias negras e rochas nuas…
Onde a luz se espraia no por do sol imenso…
João marinheiro ausente
Fotografia Google

domingo, maio 14, 2006



Passei já

A dolorosa fase da tua ausência

Fiz o luto das palavras assumidas

A revelação de meu amor por ti

O teu desamor por mim

Já não existo em ti

És

A minha memória virtual

A quem escrevi

As palavras da saudade

Hoje renasci do nada

Olho para dentro e

Vejo a ferida curada

Tenho plena consciência da cicatriz visível

O que resta de ti

Dedico-te este poema
Em forma de palavra amor

A
de ausência

M
de mundo

O
de oceano

R
de rio, o nosso rio ao sul…
Atenta!
O som que escuto no amanhecer hoje
É o barulho do silêncio
Teu!

REGISTOS


I

Sou uma espécie de impressões reunidas
Sou de um cinismo atroz
Sou de uma junção perfeita de confissões
Sou um ego super valorizado
Sou um monte de ilusões
Sou a real caçada de todos os imaginados
Sou enfim um ser social...
20/11/83

II

A praça pública onde todos se encontram.
Os muros, as grades
A cerca de arame farpado.
A feira de nós próprios...
Ah! Como gosto destas impressões.
O ser um animal rodeado
As algemas que sinto invisíveis.
Os trilhos dos comboios que passam bem pelo meio de mim
As estações abandonadas, as gares desertas...
As velhas máquinas cansadas arrumadas ao calha, tão tristes...
Todas as ervas daninhas que crescem nos jardins públicos
Todos os projectos que morrem no acto de projectar
Um outro sonho que ficou...

24/11/83
João marinheiro ausente
" Das vezes que não posso ser quem sou" Excertos de um livro por editar escrito em 1983
Fotografia de Barcoantigo

terça-feira, maio 09, 2006

NAUFRÁGIOS...


As minhas sereias que eram barcos...
morreram um dia
Num naufrágio de prantos e lutos com rostos tristes
Como um quadro do pintor anónimo
ou uma descrição do Redol,
Algumas naufragaram mesmo ali
Frente à janela do meu quarto
E os meus olhos de menino nessa altura
Não se importaram
com a tragedia que se desenrolava à boca da barra
Sem ensaios
Sem duplos
Sem luzes
Sem guião
O filme real da vida dos pescadores da Póvoa...
Um filme povoado pelas minhas sereias que eram barcos
e a cor em negro das viúvas.
E eu por lá
Feliz
Saltitava na borda de água
construindo barquinhos
que lançava ao mar
com cuidado e amor
E eles partiam em viagem
Levando os meus sonhos...

Nem sei porque escrevo estas coisas...
João marinheiro ausente
Fotografia Google

domingo, maio 07, 2006

A VIDA


A vida, o que é a vida?
O que é a minha vida sem ti?
Arrasto-me penosos estes dias por aqui, como faço diariamente
Sou uma rotina instituída em mim, como qualquer repartição pública
Onde fazemos bicha para tirar a senha e fazemos bicha para entregar papeis mecanicamente…
Tenho tudo para ser eu próprio, ou penso ter
E tudo o que tenho não me chega
Porque penso assim. Porque fico vazio parado ou estático
Ausente de mim sem querer viver o dia a dia feliz
Que falta me fazes, e porque me fazes falta?
Se já tenho um grande amor instituído que me ama e respeita.
Porque te quero a ti?
Arrasto-me penoso dia após dia, na luta que travo diária
E no final terminada a jornada
regresso a casa e queria regressar para teus braços
Porque não estás mais comigo?
Porque foges?
Que se está a passar que não vejo?
Pedi-te um tempo
E o tempo que me deste foi o da ausência.
O tempo da distancia
O tempo do silêncio
O tempo da espera por notícias
O tempo da angústia
O tempo nervoso por não saber de ti
Faz tempo que deixei de ser o teu amor…
Faz tempo que não me deixas amar-te, à minha maneira
Faz tempo que me acusas de não te querer
Faz tempo que dizes não confiar em mim…
Faz tempo que me magoas com as palavras ditas
Faz tempo que as tuas palavras escritas são armas de arremesso
Faz tempo que me rejeitas em actos e omissões
Faz tempo que te desconheço assim como te revelas…
Faz tempo que tenho saudade…
Faz tempo que não te ouço
Faz tempo que te conheci
Faz tempo que te desejava encontrar. Encontrei. E partiste…
Uma entre milhões
Faz tempo que não tenho esse tempo para me escutar…
Faz tempo que não tenho tempo para sair da rotina diária…
Faz tempo que me animo depois do desanimo…
Faz tempo. Demasiado tempo…tenho já pouco tempo. Sei.
Segredo meu…
Afinal quem és tu?
Que me impeles a escrever sempre para ti! Dedicado a ti! Em memória a ti!
Ou finalmente, por tua causa…
Afinal porque não sei, ou não quero, escrever de outra forma
Verto no papel o que sinto no momento escrito. O coração.
Não o pensamento
Que o pensamento é feito, e o coração sentido…
Luta inglória neste temporal de sentimentos, que me divide em bocados…
Afinal quem és tu?
E porque sonho contigo ou penso porque és real
E porque quero partilhar todos os momentos que vivo
E por não te ter, aos poucos perco as forças e vontade de viver esses momentos…
E deixo de os viver ou repartir…
Hoje tenho uma dor de cabeça instituída, faz vinte e quatro horas
A dor ou a cabeça metidas em pensamentos comigo mesmo
E penso em ti, minuto a minuto, hora a hora
És a minha enxaqueca para a qual não existe remédio…
Que me fizeste para ficar assim! Apanhado de amor!
Que raio de amor!
Ausente!
Amor doloroso. Sofrido em silêncio. Expresso aqui por vezes…
Espécie de amor por “ Ofélia” como o Pessoa…
Não em sonho, ou em palavras, forma de escrita ao correr da pena, nem isso
Mas uma infinidade de emoções transcritas ao papel
Por assim o serem. Perdem o sentimento.
Que o momento deixou de ser intimo e passou a ser publico…
Nem sei já por que te quero?
Se por teimosia,
Se por ser novidade tardia…
Se por te desejar
Se por te querer simplesmente
Se por te amar ainda, sim, sei que é por isso…
Por te amar ainda
Mesmo que não me queiras jamais, ou que te ame, ou que te diga
porque te dói
Mesmo que me digas que não tens tempo para o meu amor
Ou tenhas medo do meu amor, por ser diferente
Porque é um amor novo e tão antigo…
Como antigo é o sentimento ou a existência dos homens
Ou tenhas medo por nunca te terem amado assim. Um amor destes
forte e grande!
Terno e apaixonado, feito de lutas e partilhas, onde um são dois e dois um
Nem sei porque te quero ainda?
Será deste amor que tens medo?
De não seres tu própria e fazeres parte de mim, e eu de ti
O amor
É feito de essências químicas em partes iguais
Com o que resta dos setenta por cento de água dos nossos corpos
Por isso se transpira quando se faz amor…
…Sabes o rio que é rio, e selvagem, corre sempre para o mar
E o mar é salgado
Mas isso já tu sabes
São os dois compostos de água, essa é a essência principal…
Eu já não sei porque escrevo, estive tantos anos estático
Em estado latente ou adormecido
Ou não eu
Estive fora. Fora de mim ou dos meus sentimentos
Porque antes falava da guerra, dos traumas da guerra, por causa da guerra!
Hoje falo do amor, ou melhor da sua ausência…
Ou do que tenho e não me chega. Por não ser o teu
No dizer de “ Bernardo Soares” que é ajudante de guarda-livros…
Serás quem eu quiser. Farei de ti um ornamento da minha emoção, posta onde quero, e como quero, dentro de mim. Contigo não tens nada. Não és ninguém, porque não és consciente apenas vives…”
Apenas vives dentro de mim.
Posso amar-te agora, logo, amanhã
Fazer amor contigo, manhãzinha, à tarde, ao jantar, ou noite fora
Aqui. Ou na banheira, ou na praia, ou no prado, ou no monte, ou no céu
Apenas vives dentro de mim.
Posso odiar-te agora, logo ou amanhã
Gritar contigo, magoar-te manhãzinha, à tarde, ao jantar, ou noite fora
Aqui. Ou na banheira, ou na praia, ou no prado, ou no monte, ou no céu
Apenas vives dentro de mim
Podes caminhar ao meu lado ou eu ao teu, porque o quero…

João marinheiro ausente
Fotografia Barcoantigo

sábado, maio 06, 2006

ESTAMOS LONGE.DEMASIADO...


Estamos longe. Demasiado…
Penso em ti
Não te entendo?
Pedes-me que vá até ti
E dizes que sou um amor pecaminoso…
Acordas-me com palavras de amor
Presas na caixa de mensagens
Que teimo em revisitar ao longo do dia
Para me sentir mais perto de ti…
Fico saudoso,
Acordo manhãzinha cedo nesta terra estranha
Sopra um vento forte
Não navego
Os barcos quedam varados na praia
Em terra tristes, desejosos de vogarem
Nestas águas verdes mediterrâneas.

…A barca de que Dali gostava queda-se a desfazer-se
Atravessada por um cipreste junto à sua casa…

Percorro este trilho de pedras negras
Um lugar de criação mística do génio
À sua amada Gala
E o pensamento voa para junto de ti
Queria-te aqui e agora
Só aqui!
Não sei de ti
Não atendes o telefone
Já não lembro o teu riso
O timbre da tua voz
Assalta-me um medo frio. Ventoso
Repete-se a história uma outra vez por cá
E ando só por esta terra estranha
Contemplando os rostos dos namorados felizes
E sinto saudade tua
De te dar a mão
De me rir contigo
De te olhar nos olhos
Passear contigo mãos dadas pela Calle que bordeja o mar
Este mar de mistério verde-esmeralda e águas transparentes…
Passeio-me só por aqui hoje
Olho
Continuo saudoso
Não sei se te amo já
Ou se és uma memória
Das muitas que tenho
Memória virtual…

João marinheiro ausente Porttlligat – Cadaqués 30/04/06
Fotografia de Barcoantigo

quarta-feira, maio 03, 2006

FICA


Este é o momento para a reflexão
Este é o momento para parar
Este é o momento
Nem antes nem depois de ti…

Fica
Aqui
Hoje
Esta noite.
E faremos amor…

Amor

Repetido
Forte
Em duas linhas paralelas
Uma espécie de sexo seguro
Nunca nos tocamos…

Assim

Ficamos aqui
Hoje
Ontem
Amanhã
Ou depois
E faremos amor…

Amor

Despido
Despudurado
Demente
Doente
E faremos amor…

Amor

Palavras
Desejos
Quereres
Ausências
Saudades

Ou

Simplesmente
Queremos
Ficas
Aqui
Hoje

Amor

Não vens
Já não vens
Agora
Hoje
Amanhã
Nunca
E faremos amor…


João marinheiro ausente Portlligat 30/04/06
Fotografia de Barcoantigo