sábado, março 11, 2006

MÃE



















Mãe
Desde que partiste nunca mais falei contigo,
Ou me sentei no teu colo e abracei teu pescoço
Ou te dei um beijo, e tu com o teu olhar perspicaz de mãe
Me dizias, que se passa meu filho,
E eu desabafava contigo as minhas incertezas e duvidas…
Ou te pedia um conselho. Sábio de mãe…
E tu, com o amor espalhado no rosto e no teu sorriso que recordo
Me falavas e aconselhavas com sabedoria e certeza
A certeza que só uma mãe sente
Quando me dizias: -Filhote que se passa?
E eu desabafava meus segredos contigo…

Sabes Mãe. Já passaram três anos que partiste
E eu, só agora falo de novo contigo
Ou só agora ganhei coragem…
E as lágrimas teimam em brotar nos meus olhos…
E sabes, no dia em que partiste…
Estavas longe de mim, no hospital
Mas esse dia, eu o senti
Doloroso e longo.
Dolorosamente sentia que ias embora em silêncio. Mãe.
Lembro. Não posso deixar de lembrar…
Sabias que ias embora
Tu me disseste bem cá dentro, falaste-me ao coração
Como dizem e falam as pessoas iluminadas por Deus. O nosso Deus.
E tu és iluminada por Deus, o mesmo Deus que tenho por companheiro nas horas más, E principalmente nas horas boas…

Sabes mãe, enquanto escrevo. Eu confesso
Custa escrever. Muito mãe. Mas eu preciso de falar contigo.
Sabes…
Rolam as lágrimas no meu rosto
Porque quando partiste elas secaram, e eu compreendo porque partiste.
Mas hoje deixa que rolem no meu rosto
Porque preciso de me reencontrar desta mágoa que sinto.
Da tua ausência que noto nas horas em que estou só
E me dou conta que nada tenho de meu
Ou alguém que me apoie e compreenda. Como tu mãe…
Por isso hoje deixa que te escreva ou te fale ao espírito, ou chore…
Porque estou confuso e só de novo.
Sem o meu espaço onde me reencontre em silêncio, e me anime.
Que é como gosto de estar. Em silêncio, ganhando forças…
Esteja triste ou feliz, mas em silêncio…
E assim desta forma, deixando que os dias rolem
Ciclicamente, como costumo dizer
Vou fechando as portas ou as janelas que deixavam o sol entrar
Iluminando a vida e o pensamento.
Sabes Mãe. Hoje escrevo-te, e amanhã é Domingo de Páscoa.
Vou andar com a Crus e o Cristo.
Levar a Boa Nova ao lar de cada um. Do Cristo ressuscitado.
Mas sou eu que estou moribundo…
Desta vida, de mim, ou cansado…
Das incertezas que me questionam
Ou do amor que finda dia após dia,
Ou porque eu não me sinto em casa.
Porque não tenho casa, ou raízes que me prendam à terra
A esta terra que adoptei como minha, mas ilegítima…
Porque tu sabes,
Que esta não é a minha terra, a minha casa, ou o meu mundo.
Porque eu não sou deste mundo assim, de violências e guerras…
Porque me sinto só permanentemente, e não amado
Ou o amor que quero, não é este assim convencional.
Mas o descrito pelos poetas e os cantores…
E porque tenho saudades tuas, de me chamares filhote…
Das tuas comidas, ou dos teus mimos …
Ou do teu colo e das tuas carícias…
E porque hoje me dou conta. Ou lembre
Que tanto ficou por partilhar e dizer, Mãe…
Ou porque ao falar me custa imenso. Hoje.
Ou porque tenho saudade…

João marinheiro ausente Reencontros 19/03/03

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