domingo, março 12, 2006

APRENDI A LER NAS ESTRELAS...


Aprendi a ler nas estrelas
A descortinar o rumo na escuridão total
Encontro o meu norte
Observo a estrela polar.
Espero que tu, Lua, te desnudes das nuvens em noite de lua cheia.
É nesses momentos que me junto a ti.
Em murmúrios,
Sussurros da brisa nas velas deste velho barco.
Não sei o que te diz o vento ao ouvido
Vou concentrado no leme, quero chegar a bom porto.
És prata Lua, e fazes brilhar os golfinhos libertos aos saltos à proa
São eles que me ensinam o caminho Lua quando não te encontro
Ou,
Distraído,
Me perco de ti.
São eles Lua que levam este velho barco,
Nas noites de calmaria, empurram-me no seu vogar…
Tu sabes Lua. Tu vês.
Um barcoantigo.
Entrego-me ao silêncio perfumado deste oceano imenso, vens comigo
Vamos sós, eu, tu e o vento que nos transporta, enfuna as velas de algodão branco.
Aprendi a ler nas estrelas…
Aprendi a ler-te Lua
Nas tuas quatro fases, gosto de ti minguante, crescente, nova ou cheia.
Gosto!
Gosto quando és crescente e surges plena, cheia, lua completa. Nova!
Aurora boreal lindíssima que só meus olhos contemplam
Porque só eu, velho lobo-do-mar
Que possuo todo o tempo do mundo e toda a vida para alem do horizonte imaginário
Sei ver, ou olhar-te como tu te revelas Lua
Nua. Diáfana. Transparente perante meus olhos cansados.
Aprendi a ler nas estrelas
Distinguir o Zénite do Nadir
Traçar as coordenadas, medir as distancias, altitudes e longitudes
Transformar graus em minutos, e os minutos em milhas
E as milhas em distancias e as distâncias em tempos
Os tempos que faltam para chegar Lua
Porque os que se avizinham nem sei como são.
Espero que o vento não amaine
Não afrouxem os cabos que prendem as velas que o vento enfuna
E me fazem andar Lua.
Me fazem sonhar Lua
Porque sei ler nas estrelas
Porque sou homem do mar Lua
Um marinheiro ausente quase sempre em viagem.
Viajo por ti Lua, agora
Os teus mares desertos, os teus vales, as crateras que vejo
E pensava em menino, serem teus olhos Lua…
Viajo por dentro de ti.
Sinto o ribombar das lágrimas como pingas de sangue
Que ecoam, que rangem
Como rangem as tábuas deste casco de navio velho de encontros ao mar
Sinto as tuas saudades Lua
Sinto os teus refúgios da escrita Lua
Tens uma boa escrita…
E sinto a ausência que sentes Lua
Porque durante tempos foi a minha ausência
De que guardo a sete chaves num lugar do cérebro só meu
As memórias, que me impelem a escrever
E
A saber ler-te, Lua
Viajo por dentro de ti.
Hoje aportei ao lado esquerdo do coração
Sinto-o vivo Lua, pulsante.
Pleno.
Gosto do que vejo Lua
Uma cirurgia estética perfeita
Não encontro as cicatrizes Lua, e isso é bom não se vêem a olho nu
Só os iluminados as vêem, tu sabes, falei nisso
Por isso nos queremos tanto
O Mar e a Lua…
Sinto-te viva Lua
Aprendi a ler nas estrelas…

João marinheiro ausente 12/03/06

4 comentários:

Anónimo disse...

Sinto-me iluminada mar...
ninguém a não seres tu, entende as minhas palavras.
Ninguém entende que a lua tem coração... e que se muitas vezes corre num fio rubro de sangue, noutras rejuvesnece na brisa da manhã iluminada pelo sol.
Assim como tb ninguém entende o que une o mar e a lua.
É demais para eles...é algo que só se vê no silêncio das palavras.
Tu entendes os meus suspiros quando partes em aventura por esse mar que amas do mar.
Compreendes o meu olhar que se perde na imensidão do céu
Vês as minhas cicatrizes, mesmo não estando a olho nu...talvez pk elas também já tivessem sido tuas. O que nos une mar é algo que está para lá dos sentimentos, para lá da razão. Ninguém entenderia como é que o mar e a lua ficam horas a contar estrelas e a dançar em volta delas. Só tu e eu entendemos, só nós sabemos ler as estrelas.

Anónimo disse...

Vim até aqui pela mão da ana Luar, gosto muito dos seus escritos, deixo um abraço...

Anónimo disse...

... a minha lua! Obrigado pela tua visita ao blog! Mil beijos na alma!

Zeca disse...

Sentimento forte, visitei hoje pela primeira vez o teu cantinho e gostei, tens sentimentos Mar... Voltarei mais vezes.