terça-feira, outubro 30, 2007

Sobrevivência…




...Aquilo que nos escapa frequentemente é que os barcos não existem sem as comunidades humanas que lhes deram origem e identidade, e que essa relação é recíproca.
Esse é o elemento da sobrevivência...
Ivone Magalhães
Fotografia de Barcoantigo 2004

sexta-feira, outubro 26, 2007

Invento...



Invento um mundo sem tamanho ou margens
e aqui sou eu que vivo encerrado na muralha
as palavras são um tempo paralelo onde existo
O facto importante é que tenho demasiada saudade tua
e só a mágoa a disfarça


João 2007
Foto de Barcoantigo

terça-feira, outubro 23, 2007

venho hoje despedir-me...


Venho hoje despedir-me de ti
Trouxe um braçado de flores do campo que colhi enquanto caminhava
Despeço-me para morrer
Vou para longe
Um sítio onde as feras me façam a companhia e os abutres esperem a refeição
Deixo de existir porque já não existes em mim


João 2007
Fotografia Balazs Borocz

quinta-feira, outubro 18, 2007

Haja o que houver...


Sinto-me cansado. Muito cansado. A espera é longa. Demasiado longa.
Não voltas. Já li todos os livros. Escrevi todas as palavras. Abandonaste-me. Agora vou por esta rua da cidade, as mãos nos bolsos, vou desamparado. Sou um estranho aqui.
Não sei se te amo ainda, ou o pensamento que tenho de ti, me tem cativo, do amor que imagino. Já não sei. Sinto-me terrivelmente cansado.
É já noite, e a rua mal iluminada cai em mim, como o negro do luto carregado nas vestes das mulheres, do mar da Póvoa.
Queria dizer-te. Queria olhar-te. Queria tocar-te as mãos. Percorrer a tua face. Sentir a tua pele, e já não sei rigorosamente nada de ti – Não existes por fora da minha cabeça pois não? – Sou eu que te imagino pois sou? Olho-te se fecho os olhos. Os teus olhos negros a rirem de mim. Da minha fragilidade.

Haja o que houver vou sempre esperar por ti. Só tu não. Já não esperas. Já não chegas. Já não vens. Já não voltas. Só eu fico aqui, exposto ao tempo a enferrujar como uma máquina velha obsoleta.
Ás vezes as lágrimas escorrem por dentro, são lágrimas de saudade, mas tu nem sabes o significado, nem o sabor das lágrimas. Nem sabes que eu aqui fico sempre à espera das notícias que não chegam. As cartas vêm devolvidas, perdi a tua direcção, o teu endereço postal.

Há dias fui em tua busca até à foz. Fui em vão.
Fui em tua demanda até à nossa praia. Viagem inútil. As memórias são só minhas agora. Escrevo uma invenção da memória, a ver se coincide com a tua memória minha, e te lembras de mim, um dia, e então regresses à minha memória de hoje, em que me sinto angustiado e terrivelmente cansado.

E o tempo agora é um tempo de Inverno que vai chegar aqui, junto a mim.
E eu para me aquecer, para me sentir reconfortado precisava de um mimo teu. Queria dar-te um abraço hoje, um abraço grande. Com os braços a envolverem-te toda. As mãos a agarrarem-te toda. Uma espécie de laço forte feito de amores e de afectos. Com o sentir, todo, à flor da pele arrepiado. Enquanto o tempo, esse, se reúne no céu, a decidir se há-de deixar cair as lágrimas em bátegas de chuva, ou nos ensurdecer os sentidos com o ruído dos trovões a fingir que nos atemoriza.
Sou eu que me assusto, só, com o vazio da tua ausência em mim.
A falta que me fazes.

João 2007
Fotografia Barcoantigo 2007

quinta-feira, outubro 11, 2007

Da ultima vez...


Da última vez, quando vim embora. Regressei triste. Despediste-te de mim. Sabia que ias partir. Vi nos teus olhos nublados a tua partida breve, e eu, impotente, não tinha palavras para te convencer a ficar, aqui, na distância das minhas mãos, no calor do meu corpo, no estremecer dos sentidos.
Da última vez, o beijo breve fugidio que demos na face, foi um beijo de despedida, ácido, a queimar por dentro, e todo eu tremia, um arrepio frio no corpo.
Não deste por isso, porque tu, lentamente, também fechaste a emoção no quarto escuro do coração. E depois olhamo-nos longamente. Como que, a querer ver a eternidade possível que ainda resiste em nós. Segurei a tua mão durante um momento que me pareceu demasiado breve. Deste-me um abraço. Como só tu me sabes dar. Um abraço pleno a aninhar-me em ti, de encontro ao teu peito. Quase não falamos… Já não consigo olhar-te de olhos nos olhos como me ensinaste a fazer, quando eu te dizia, que tinha medo de olhar, olhos nos olhos a revelar-me. Já não consigo. E tu partes. Vais pela pequena rua deserta da tua cidade demasiado grande em mim. Fiquei aqui a ver as águas do braço da ria que escorrem. Dentro em pouco tomo o rumo da estrada para me afastar de ti e nem consigo dizer-te adeus.
Nem sei porque vim
Não sei para onde vou agora, assim, triste.
Já não sei de nós.
Só esta tristeza a minar o corpo. A entorpecer os sentires.
Da última vez, sabes, fui a medo ter contigo. Sentia-me estranho em mim e em ti, o medo de não te reconhecer. De não me quereres.
Não deveria ter ido.


João Outono 2007
Fotografia de Barcoantigo 2007

segunda-feira, outubro 08, 2007

Só tu...


Tinha saudades nossas.
Fui à foz ver o Douro
Só tu não estavas reflectida nas águas planas…
João 2007
Fotografia de Barcoantigo

quarta-feira, outubro 03, 2007

De um sonho...



Algumas pessoas aqui chamam-me poeta…
Não é isso que sou. Sou um marinheiro velho com sonhos por cumprir.
É isso que sou…
A história de amor e desamor de José Belchior aqui, para quem não conhece:


João 2007

Foto José Belchior