sábado, março 11, 2006

DEDICATÓRIA



















Museu Municipal, 7 de Outubro de 1999

Querido irmão:

Hoje é sem duvida uma data feliz. Faz anos que nasceste. Para a vida. Para a luz.
Nós quando falamos, escrevemos ou pensamos em”luz” temos entre nós a cumplicidade que só os iluminados podem partilhar. Ou sentir.
No dia 1 de Julho deste ano nós sentimos a “luz” na pele. Não quer dizer que fosse uma partida voluntariamente feliz. Somos egoístas por natureza, logo tivemos a maior relutância em aceitar essa partilha. Afinal, humanamente falando, ela, a mãe, era nossa. Partilhá-la com a “luz” foi, para mim pessoalmente, um esforço de titãs. Acredito que para ti também. Talvez por isso, porque ambos aprendemos esta nova forma de partilha, afinal a renunciarmos aquilo que mais amamos em nome desse mesmo amor, eu tenha um carinho especial por ti. Quem sabe as nossas almas antigas sejam desde sempre irmãs…
Por tudo isto, hoje, no teu dia de aniversário pensei que este livro sobre “Os segredos da censura” te iria agradar. A censura ou o outro lado da liberdade de expressão e da renuncia de sentir numa época em que a mediocridade dos homens imperava mas onde sempre houve alguém que teimosamente erguia a sua voz em nome dessa mesma humanidade amordaçada.
É um livro ligeiro em jeito de documento para quem quiser construir com ele uma nova historia da nossa história. Fala dos telegramas e dos telefonemas entre os censores e o Jornal de Noticias, entre 1967-1974, ordens para cortar ou demorar noticias, partes de texto ou apenas ideias em forma de títulos que não podiam entrar a publico em letras gordas…Coisas de um tempo em que o sistema funcionava entre incertezas, traições e medos. Coisas que depois de lidas nos parecem hoje ridículas e insignificantes, mas que então a ideologia espartilhava ao milímetro. Coisas de um país devassado 24 sobre 24 horas por telegramas e telefonemas confidenciais a moldar o pensamento dos que ainda teimavam em pensar e sentir. E isto de pensar, sentir, saber sentir, é uma coisa que ainda só alguns de nós, os que teimam em erguer a voz, os “iluminados,” sabem fazer.

Por tudo isto espero que neste dia tão cheio de sentimentos a vogar dentro de ti como folhas soltas de um livro aberto ao vento, encontres um tempinho para pensares e sentires a luz em ti.
Se este livro servir esse propósito então tanto melhor.

Da tua Irmã Ivone

p.s.
O César Príncipe é actualmente professor e Redactor Principal do Jornal de Noticias onde desde muito jovem trabalha. Na véspera de Abril numa apresentação pública do seu trabalho na Biblioteca Municipal dedicou-te a meu pedido estes” Segredos que revelam o que os censores quiseram ocultar”.
Fica com os anjos.

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