terça-feira, março 21, 2006

ANDAMOS DE RODA UM DO OUTRO




Andamos de roda um do outro.
Em círculos, ando de roda de ti faz tempos
E tu por dentro de mim em círculos.
Andamos girando em sentidos contrários
Unido por um eixo que range
E o sangue quente arrefece e escorre em rios de ferrugem
Andamos de roda um do outro faz tempos
Dos tempos dos tempos do tempo perdido.
Giramos, rodopiamos doidos, um pelo outro
Como asas gigantes dos geradores que criam
A luz, a energia, a força
Do vento que sinto nos braços como asas
Andamos de roda um do outro
Em círculos concêntricos excêntricos, egocêntricos.
Silvando, urrando, gemendo o vento nos braços
Que caem como pêndulos sem corda
Do relógio monótono na parede nua
Onde os ponteiros ciclicamente se beijam nas doze horas exactas
De um tempo que não existe por não existirem horas já
Andamos de roda um do outro ainda
Como crianças no jardim brincando.
Escuto os risos, os gritos de alegria
Mas não te escuto a ti
E estás aqui, bem por dentro de mim em círculos
Fervendo no leito de sangue vermelho que queima
És um sol de Inverno que desponta depois da chuva miudinha
Ou um cheiro a terra lavrada de fresco e arada.
És! És! És!
O bicho papão que me assusta nas noites de insónia
A fada madrinha da historia repetida. Repetida. Repetida!
Um disco CD com as nossas musicas cúmplices
Que escuto repetitivamente, doentiamente, que sei de cor…
E giras! De roda! Bem por dentro de mim. Em sentido oposto!
Oposto! Oposto! Oposto!
O mundo ao contrário, o mundo às avessas o mundo não mundo.
Mudo! Estático! Parado! Finito!
E eu aqui vendo a tua graciosidade rodopiante
A minha cabeça tonta, zonza.
Os ponteiros quase juntos
As hélices como asas girando a 75RPM
Os milhares de megawattes presos nas veias condutoras
O vento que sopra e faz dobrar a copas das árvores
O relógio de pêndulo que já parou
O jardim vazio das crianças
As nuvens de chuva que tapam o sol
Os cheiros nauseabundos da central incineradora onde existiu terra lavrada
Os livros de historias com fadas e papões que já não se lêem
Ou as musicas apagadas dos cds…
O mundo ainda ao contrário…
Fecho os olhos,
Já não te vejo.
Já não te sinto.
Rodas em sentido descendente
E eu, descrente, penso
Que um dia
Com a brisa da primavera
Possa abrir os braços e girar como asas gigantes
Que te abracem
E então recomeçar
Lentamente o rodopio concertado
Os dois sincronizados, cronometrados
Como um, só eu e tu
Em círculos perfeitos elípticos, lunares
De roda um do outro
Eu por fora de ti
Tu por dentro de mim
Em sentidos oposto…

João marinheiro ausente

9 comentários:

Anónimo disse...

É um belo poema João Marinheiro, bastante criativo...tudo de bom...

Zeca disse...

Gostei do poema, o cuidado posto na montagem do post está perfeita, a reciprocidade entre a foto e o texto ficou óptima, parabéns.

Anónimo disse...

Enquanto as luzes cintilavam
na dança sensual da aurora boreal,
meu coração crescia dentro do peito
sentindo a explosão do amor
em todas as nuances de suas cores,
tomando-me fascinada pelo homem
que bem à minha frente estava...
Enquanto no pólo norte
tudo isso acontecia,
em mim nascia a esperança e a certeza de
que agora o conquistaria.
Ah!
Abençoadas férias no Alasca!
Onde mais despertaria esse amor
gigante e adormecido
nos braços de quem mais queria?

Anónimo disse...

Os livros podem não ser os mesmos...os herois podem ter morrido...amusica pode ter sido apagada, mas...eu vejo-te de olhso fechados...abraço-te quando tens frio, beijo-te quando choras, mimo-te quando te sinto fragilizado...por isso rodam as coisas...mesmo que o unico sitio que nos leve, seja a um abraço imaginário......toma este abracinho...toma este beijo...toma este miminho......e vê se tens corgem de dizer que rodamos em vão...

claudia disse...

Um Lobo do Mar ,não para de me surpreender o meu amigo MAR:)

Sê bem vindo ao meu aquário:)

Parabêns pelo teu blog está mto bem concedido:)

Voltarei!Bj!

isabel mendes ferreira disse...

tu por dentro de mim em sentidos opostos_______________!!!!



posso dizer?


magnifico.


beijo

Joaninha disse...

"O mundo ao contrário"... É supreendente quando conseguimos reconhecer que alguém nos dá a volta à cebeça, aos sentidos, às nossas coordenadas... Muito bem escrito, como sempre!

Miriam5 disse...

Muito bom, gostei deste blog
bjinhos

Anónimo disse...

Oi voce sumiu do meu blog.
Espero ter voce por la .
Beijinhos ,seu blog esta lindo parabéns.