sábado, março 18, 2006

QUEM SOU?

Devo uma explicação possível a quem cruza este mar de palavras.
Quem sou interrogo-me por vezes. Demasiadas vezes até.
Não era assim, acho? Não sei. Desde que me conheço que sonho ou vivo num mundo paralelo.
Dizia há dias que por te conhecer íamos para uma oitava dimensão. Continuo a não saber se existe…
Refugio-me na escrita por vezes, ai, sou eu noutra dimensão não sei se 8ª ou não?
Perco-me na escrita, nos sentidos, nas ausências, nas saudades, acho que a saudade vem da infancia, das separações forçadas em menino, vivi isolado numa ilha uns tempos, éramos cinco, os putos, e milhares de ratos á noite para nos divertirmos atrás deles nos dias de calor.
Quando tinha saudades, não sabia o que era isso na altura contemplava as luzes muito ao fundo que tremeluziam, era terra dizia o pai…Ás vezes os pedaços de terra andavam, vinha até ao socairo da ilha nos dias de vento, gostava de ir a bordo comer umas caldeiradas de peixe fresco com o pai a esses pedaços de terra.
Andei aos saltos pela borda de água um quarto de século.
Porra! Que palavra! Fiquei velho?
Sei lá? Hoje, ás vezes, para matar as saudades, retorno aos sítios da minha infância. aos poucos, a um de cada vez...
Desconheço-me, sou um estranho no chão que pisei, onde brinquei ao berlinde ao apanha apanha, ás escondidas. Ou onde só, inventava as brincadeiras embalado pelo som monótono e frio dos motores que geravam a luz que guia ainda hoje os meus barcos…
Custa voltar, custa voltar cá dentro, ser um estranho dentro de nós, uma espécie de estrangeiro do Camus.
Essas são as minhas memórias, algumas, mas tenho mais…E outras fases da escrita da minha guerra pessoal dentro da guerra.

Tive uma farda também…Libertei-me dela, ficam as palavras que agora resolvi aos poucos partilhar, ás vezes coisas parvas, ideias malucas…tanta vezes tive a liberdade cinco andares abaixo, era só saltar livre e voar…esperei sempre o dia seguinte.
O dia seguinte, eram na altura 24 horas adiante da angústia.
A angústia persistiu trinta e tal meses, depois curei-me ao passar o portão verde e deixar de ser um número mecanográfico…
Hoje pertenço aos inúteis…Que gozo. Já não estou na reserva territorial por excesso de idade…

Não sei o efeito das palavras no coração das pessoas. Costumo dizer que nenhuma palavra é inocente, e eu sei disso, mas repito vezes sem conta para não me esquecer. Perdeu-se a candura, a inocência da palavra. Ora! O que são palavras… Deixei de me preocupar…

Este é um mundo global, dou-me conta. Que gira à velocidade do chip no computador pessoal, as pessoas passam a ter a forma plana, virtual dum monitor estático.
Gosto delas com 19 polegadas. Grandes…
Assim como gosto das palavras...

Abraço aos mareantes…

João marinheiro ausente

3 comentários:

Anónimo disse...

Adorei este teu cantinho das palavras!Este teu texto está fenomenal...O que são as nossas palavras diante os outros?Parecem que são ditas ao vento qdo na verdadde são ditas directamente para k só um só coração as ouça!Mas hoje em dia as pessoas teimam em fazer de seus ouvidòs a razão...As palavras que muitas vezes escolho para poder tocar alguem, no fim não surtem efeito e pra mim mais parecem bocados rasgados de uma folha de papel onde outrora escrevi minhas emoções! Abraço grande!

Anónimo disse...

Gosto de passar o meu tempo a ler-te como faço com os grandes poetas...e a sonhar que sou onda nessa grandiosa maré....nas tuas palavras rasgo o coração e os olhos... e deixo-me embalar como quem chora, não me preocupo em saber como te ler...ou em saber para quem escreves...muito menos em saber pk o fazes...gosto de te ler e passo a palavra que escreves numa forma de a libertar......pk não me arrogo em aprisionar a tua palavra. É demasiado bela...para se manter presa.......gosto de ti João, o poeta do mar!

Anónimo disse...

...bravo marinheiro.