sábado, março 18, 2006

O SACRIFICIO DE ESCREVER











Ou a ausência de nada de nada para falar
Ou talvez a interrogação que me assola o espírito
Ou talvez a tua falta, ou a tua enorme ausência
Eu sinto
E sinto o sacrifício de escrever
Pois que se esgotaram as palavras na garganta
E meus lábios estão quedos e mudos
Embora outrora beijassem os teus
Eu sinto
Que algo se partiu cá bem no fundo
Da alma ou do espírito
Ou da luz diáfana que ilumina o nosso amor proibido
Mas desejado no olhar, e ao de leve
No leve tocar das mãos
Ou do olhar como um rio de desejos
Em sonhos e lágrimas afogado
Ou em ti que já esqueço
Ou em mim, afundado em pensamentos
Ou no sacrifício da escrita,
E das palavras que saem mas não falam
Ou porque não escuto tua voz
O teu sorrir
A luz dos teus olhos lindos
Ou o teu respirar tranquilo de encosto ao meu peito
Ou então e se calhar?
Porque me sinto cansado e de peito dorido
Nele não encostas teu rosto que acaricio em pensamento
Com um medo natural e compreensível
De me magoares ou te magoares. Mais do que esta realidade
Que somos os dois
Prisioneiros desta descoberta tardia
Da vida ou do amor desejado e compreendido
Tantas, mas tantas vezes sem conta, das contas de vezes dolorosas
Em que nos buscamos perdidos
E passamos lado a lado como estranhos
Cegos pela cobiça ou a beleza efémera da TV
Num qualquer concurso de beleza artificial e anoréctico
Mas tu vales tudo isso
Os dias que passo só. Vazio
Os dias que passo do outro lado da vidraça
Os dias que passo do outro lado das grades
Os dias que passo do outro lado do rio
Ou o rio que és… Serpenteando por entre as arvores
E eu, um barco, percorro teus caminhos de prata proibidos
De águas ora límpidas ora revoltas
Escutando o barulho que fazes no rodízio e na mó
Da velha azenha onde te roubei um beijo
Qual água clara e fresca numa manhã orvalhada
Da erva fresca que alimenta, ou do cheiro das camomilas em flor
Ou dos jacintos de águas floridos
E das libelinhas que esvoaçam
Por entre as flores aquáticas
E o chilrear dos pardais de manhã cedo, em busca do pão e alimento
Que também nos alimenta a nós pobres mortais com vícios…
Mas tu vales tudo isso
Os dias, poucos, que demoram a chegar
Em que revejo e me revejo no teu olhar
Ou porque tem que ser assim, ou talvez não?
Todos os outros dias
Em que continuo parado e quedo
Porque noto a tua ausência, para qual não tenho remédio
Ou a cura ou talvez a doença?
Deste sacrifício da escrita ou do amor escrito
E repetido. E repetido. E repetido…
Como um disco em círculos complexos de vibrações musicais
Que é como sinto teu rir, complexo de vibrações musicais
Das quais tenho saudade
Porque sou português e portanto saudoso, que foi assim que aprendi
A saudade e o fado
Ou a melancolia dos dias esperando que voltes…
Ou numa carta em palavras escritas e dolorosas
Ou no outro lado da rua, que cruzo diariamente só
Porque um dia te vi nesta mesma rua
Caminhando apressada, mas do outro lado
Sempre do outro lado de mim
Por isso esta ausência do nada para falar
Ou o sacrifício de escrever
Um dialogo partilhado num monólogo de surdos
Porque o único actor sou eu
Porque o único espectador sou de novo eu
Porque não fui eu que escrevi este guião
Mas sou eu que sinto as personagens
E sou eu que continuo a dar-me conta da tua ausência
E sou eu que insisto sempre, sempre, e sempre
Em gritar teu nome, e ficar à escuta
Que o eco me devolva o chamamento, ou o grito, ou o lamento
E sou sempre eu, só e triste, que não obtenho resposta ao desejo
Ou ao sonho construído na beirada da praia, em areia
Que o mar teima em destruir
E eu teimo em reconstruir com minhas mãos
Numa tarefa árdua e inglória de batalha perdida desde o inicio
Porque tem que ser assim desde os princípios dos dias ou dos tempos
E eu que já vivi, e renasci, sei do que falo. E do amor que sinto
E que me falta
Como um lamento do pássaro ferido, na asa, ou no olhar…
Porque o meu é um olhar sofrido e triste.
Ou uma tarefa árdua sobre humana.
De te amar assim, calmamente e em segredo…
E revelar aqui nestas folhas, esse segredo
Porque se esgotaram as palavras na garganta
E o sacrifício de escrever que eu sinto
Dói menos que esta sensação de ausência
Ou a profundidade azul do silêncio no fundo do mar
Que é para onde eu vou um dia se calhar
Porque continuo a querer-te e desejar-te
Um amor proibido, mas em segredo…
João marinheiro ausente
Fotografia de Barcoantigo

4 comentários:

Anónimo disse...

Por muito tempo achei que ausência é falta.
E lastimava, ignorante, essa falta.
Hoje não a lastimo.
Pk não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,ninguém a tira mais de mim. Talvez por isso eu não acredite em amores proibidos, nem em desejos contidos....e quem acreditar é pk não vive, apenas sobrevive. Os sonhos se foram.

Anónimo disse...

Agradeco a visita ao meu blog. Adorei teu espaco. As fotos sao encantadoras. Me fazes querer ir para o mar e sentir o sal e o sol. Tudo ao mesmo tempo e sentir-me intensa maresia.

Que as mares sempre e tragam ao A Maritima.

Anónimo disse...

Olá, vim dar uma espreitada, deixo um abraço...

Luna disse...

Quero agradecer a tua visita.
Tens aqui um espaço muito intenso de emoções, julgo que a maioria de nós sofre de alguma forma com os amores vividos por viver, com a solidão no meio da multidão,ás vezes não enfrentamos as vagas do mar para ficar em porto seguro...
beijos