sexta-feira, março 20, 2009

dos oceanos a fio...



Gostava de te encontrar pela manhã dos dias azuis
Descias a ladeira que te trazia à vila
E eu, sabedor das horas anunciadas pelo sol madrugador esperava-te
Nunca deste por mim
Nunca te dirigi a palavra
Ficava-me a olhar-te graciosa enquanto caminhavas
Os teus cabelos esvoaçando na brisa que se sentia impregnada com o cheiro das camélias em flor.
Um dia não vieste
Soube que foste embora em busca do amor
Dei-me conta nesse dia que o meu tinha partido
Nunca deste por mim, ou pelo cheiro das camélias que já morreram
Cansado
Um dia parti também
Quis o destino pregar-me a partida, ou quem sabe
Reencontrei-te na cidade à beira mar onde habitas
Depois de atravessar oceanos durante anos a fio
E quase ter esquecido o cheiro das camélias.
Os dias madrugadores de cor azul
Ou a ladeira por onde caminhavas em direcção à vila.
Ficamos os dois parados, tolhidos pela surpresa súbita
A partida do destino
Então sorriste
E então falaste
Então sorri
E então falei-te
Palavras breves como os segundos que marcam os intervalos do tempo




João marinheiro 2009
Foto, Mara Mitchel