domingo, setembro 30, 2007

Outra vez...!



Sobre o silêncio, ou a liberdade de expressão.
Para pensar aqui...
E divulgar

http://videos.sapo.pt/clCTCzNteFNugzBg3DDa
Apetece dizer outra vez!


ACORDA AMÉRICA!

Restam-me as palavras, América
As palavras que a alma guarda
Quando o momento se aproxima
Porque nós, América, que amamos a vida, a nossa e a de todos os outros
Pensamos em como tem sido possível calar a revolta que se sente
Por tamanha, demente e perversa hipocrisia.

Desencadeaste os motivos, os longínquos e os próximos
Vês em cada esquina um inimigo
Inventa-los à dimensão dos teus interesses
Trespassas as leis, violas as convenções
Serves-te do teu poder militar para calar
E do financeiro para comprar
Os submissos, os covardes e os fantoches.
Serás uma nação rica
Apesar da ignorância que tolhe o teu povo
Figurinhas sorridentes de um filme mudo
Pateticamente intoxicadas por campanhas e slogans
Sob o efeito dos meios mais avançados de conhecimento
De amolecimento

Onde passa a constante ameaça ao sei modo de vida
Que usas sempre com Deus do teu Lado
Como se Deus fizesse parte do teu projecto
Justificaste esta guerra
Fosse uma patente por ti registada
E fizesse fretes aos mais espertos:
Mas Hollywood é assim
O rato Mickey é assim
Os cowboys foram uns heróis e os ameríndios uns bandidos
O que dá jeito desde os bancos de escola.

Procuras petróleo, eternamente mais petróleo
Mais energia poluente lucrativa
Ambicionas dominar toda a produção possível
Guardar muito para ti
E dominar os preços da distribuição do restante
Dirás que é o preço que este mundo livre tem de pagar
Sob o peso da tua liderança vigilante
Da tua farsa democrática
Da defesa da liberdade que cultivas em estátua gigante
Petrificada.

O terrorismo que agora acenas
Não nasceu espontaneamente, tem causas
Firmadas pelas tuas constantes e hediondas agressões:
Onde a América achar que a sua segurança nacional está em risco
Sentir-se-á o estrondo severo do seu braço armado
Às vezes disfarçado
Descaradamente imperialista
Implacável e mortífero
Levas o sofrimento onde for preciso
E como todo o monstro arrogante
Viras as costas
Justificas os raides, os assassinatos, os golpes de estado
Os bloqueios do FMI
E ignoras
Porque gente-gente, só há a tua.

Quantos governos e governantes tens suportado
Financiado e protegido
Se for caso conveniente na tua politica?
Quantos fantoches torcionários promoveste
Enquanto os povos sofriam
Os opositores morriam, desapareciam
Sob o peso vergonhoso dos direitos humanos violados
Que urras defender
Como se isso valesse a pena defender
Quando os interesses das tuas corporações industriais
Exigem mais lucro, mais exploração
Mais dividendos, maior controlo.

Estás perigosa, América
E para o dizer não preciso de ser comunista
Nem fanático nem profeta.

A tua constituição simples e humanista
Vive hoje golpeada por normas e decretos avulso
Justificados por abusos que não passam de mistificações
Porque falharam as sombras dos espiões
Colheste a sombra dos terroristas
E em toda a encenação
A história da indústria militar continua.

Que actos podem levar homens à loucura de 11 de Setembro?
Os homens tornam-se fanáticos
Quando, depois de tudo extorquido, só lhes resta
A visão de um Deus superior, exclusivamente do seu lado
Que santifique o desespero e as acções que o desespero produz
Quando só lhes resta a causa última da vida
Que é uma morte ambígua à luz do profeta escolhido.

É agora, América
Agora, depois da noite da Segunda Grande Guerra
Que assistimos à erupção desenfreada dos fanatismos:
O mundo sempre dividido
Contra a força da razão
Ao sabor do xadrez dos tratados
Na ganância e na vaidade dos blocos
Políticos, religiosos, penosos por tanta falha de inteligência
Neste mercado livre dos pobres cada vez mais pobres
E dos ricos tão obscenamente ricos que enoja
Vê-los regatear que a lei da vida é esta, a tua lei.
A corrida industrial e o consumismo exigiram
Mais energia e mais matérias-primas
Que tu, América, laboriosamente
Rapinaste onde foi e é preciso
A bem ou a mal
Sob o peso da bala
Justificando as acções da forma mais desgraçada
Para manteres o teu povo na miragem
De um nível de vida sem paralelo.

Em ti, América, tudo é grande
Como um culto uma cultura
Barrada de estupidez:
Os carros, as auto-estradas, as casas
Os jogos da bolsa, o sexo e as falências
Os milionários, os empresários, os generais
Os tribunais, as prisões, os quartéis
É tudo tão grande
Que o desdém impera ao olhares em redor
Há um mundo em menor
Onde se morre de fome sem se saber o que foi comer.

Preparas-te para nos dares uma nova guerra
De consequências desconhecidas
E nesse albergue espanhol que é a sede da ONU
Usas e abusas dos critérios mais miseráveis
Das informações mais disparatadas
Da chantagem para impor ao mundo os desígnios
Dos teus cabos de guerra
Servos da tua classe politica
Homens de mão de Wall Street.

Não sei se o proclamado Amargedão se aproxima
Mas a tua severa ganância
Acabará por colocar
Todo o mundo de Alá contra o Ocidente.

Porventura nós merecemos
Esta nova guerra santa que se anuncia
Nós que vivemos agachados
Às tuas ordens e agradecidos
Disfarçando o compromisso natural
De cada homem com a paz.
É por tudo isto, América
Que me destino ingénuo
A escrever-te uma carta
Pelo supremo bem do amor
Que une todos os homens
De todos os credos
De todas as raças por que só há uma espécie -humanos seres
Sensíveis e inteligentes

Portugal -17 Fevereiro de 2003

Poema de António Manuel Ribeiro vocalista dos UHF

Extraído do livro: «Se o amor fosse azul que faríamos nós da noite»
Edição de Garrido Editores, Outubro 2003

As palavras demasiadamente actuais...
Foto da net

sábado, setembro 29, 2007

Por dentro...

Hoje só me apetece o silêncio para me estremecer dentro. - Por dentro!

segunda-feira, setembro 17, 2007

Na madrugada lenta...


O facto é que me faltam as tuas palavras aqui na madrugada a corrigirem os erros, a provocarem a explicação. A crescerem por dentro de nós.
Às vezes regressas.
Encontro-te na madrugada lenta e ficas aqui a contar histórias a falar histórias. As nossas vividas. A tentar perceber e separar o sentir do viver, – como se isso fosse possível!

Depois estás sempre a mandar-me sonhar, e tas sempre a dizer-me isso. E eu?
Na maioria do tempo parece que vivo na porta ao lado deste tempo. Se pudéssemos escolher, sonharíamos sempre com aquilo que queríamos na realidade mas não podemos!


João 2007
Fotografia de Cristina Funes