quarta-feira, junho 27, 2007


Vieste pela madrugada alta
Chegaste a mim, ao meu corpo quente
As tuas mãos frias em mim
O arrepio que senti
O frio das tuas mãos a cortarem. Lâminas do fogo
Estremeço
Rolo na cama
Sinto o teu cheiro e os teus cabelos a roçarem-me o rosto
Escuto a tua voz em sussurro
-Quero-te!
-Quero-te dentro de mim!
Abro os olhos. Demasiado na penumbra
O quarto demasiado grande
A cama do hotel onde estou só!
-Ah! Se pudesse afastar-te do pensamento
Arrancar-te do coração.


João 2007

Fotografia; Tiago Xavier/www.olhares.com

domingo, junho 24, 2007


Os sonhos demoram a morrer.
Ficam durante muito tempo nas mãos
Mesmo depois de se tornarem pó...


João 2007
Fotografia Noora

domingo, junho 17, 2007


A noite passada acordei-te com beijos
Sorriste
Os teus olhos negros luminosos
Quais estrelas na noite
A noite passada


João 2007
Fotografia de Stephane Kindler

quinta-feira, junho 14, 2007

Chego tarde. Sempre tarde
Um dia perco o caminho e já não chego a lado nenhum...

domingo, junho 10, 2007

Todo o dia…




Todo o dia aqui tentando amar-te nas palavras
Esperando que a chuva passe na vidraça
E o sol retorne ao olhar cansado

Todo o dia aqui preso
O pensamento em ti agora e sempre
Porque o ocupas todo do tamanho do ecrã na sala do cinema
Nos momentos breves do dia

Ocupas todo o meu espaço
Espécie de tela gigante onde projecto o filme nosso
Visto a dois na penumbra da sala de cinema cúmplice
Enquanto te seguro a mão
A tua mão na minha mão
O momento único e breve em que te imagino
Para lá das palavras com que te quero amar ou tento.


João marinheiro 2007
Fotografia Google

quinta-feira, junho 07, 2007

Carta ridícula...


Às vezes escrevo cartas.
Gosto de escrever cartas sentidas e imaginar o efeito das palavras nas pessoas a quem são dirigidas. Na maioria não obtenho respostas, não sei o efeito, acho que o destinatário é um ser imaginado por mim. Por vezes brincamos com as palavras sem medir as consequências. Esquecemos que existem pessoas que estão do outro lado das palavras …
Mas escrevo cartas. Acho que vou sempre continuar a escrever cartas. Umas de amor outras de desamor outras de despedida, outras desesperadas de saudade.
Esta é uma carta ridícula a esta altura em que me sinto ridículo a escrever outra carta que eu não queria ridícula mas de saudade. Uma carta de saudade ridícula.
Esta é uma espécie de carta de amor. Breve.Vazia. Sem amor nenhum. Só saudade em cada letra. Saudade em cada palavra. Saudade em cada linha e em cada folha cheia de palavras a disfarçarem o amor, a tornearem a saudade, a fintarem o tempo. Esta é, afirmo, uma carta ridícula. Vazia de amor. Do nosso amor. Que posso fazer mais, além de não te deixar morrer por dentro, seco da sede de ti. Custava dares-me a mão e guiares-me nas noites frias ciclónicas, que enfrento em cada noite que te sonho e desejo. É que eu já não sei o que mais faça. Se desisto. Se me abandono. Se fecho os olhos definitivamente e deixe que as lágrimas brilhem exaustas da saudade.
Esta é mais uma carta, mais uma só a juntar a tantas outras que colecciono, uma colecção de saudades, de sentires angustiantes, de mortes. Morro em cada palavra que te escrevo vestida do negro da ausência.
Que me fizeste?
E eu que me parece, partiste ontem.


Peço-te um momento e ele é um momento do mundo sem tempo. Ficam as palavras de novo. Sempre as palavras. As palavras são assim espécies de rosas coroadas de espinhos em nós.
Hoje não me recomendo para companhia. Persegue-me a saudade como uma nuvem negra, espécie de bicho papão que me assusta.
Estou desesperado. Olho o telefone não sei quantas vezes ao dia na espera de noticias que já não chegam.
Liguei-te e atendeu o gravador frio a falar inglês. E eu fiquei mudo, parado, estático. Quantos anos se passaram.
E eu que me parece, partiste ontem…


Parti também. Fui atravessar o mar…
A última viagem foi difícil e longa.
Estremeço. Sinto o estremecimento do navio, e aqui no meio do oceano neste dia de fúrias e ventos e angustias e medo, é em ti que penso e no último acto antes de embarcar. Tenho mais medo do gesto simples de te ligar que enfrentar esta tempestade monstruosa que me quer engolir junto com o navio cansado. Fecho os olhos em cada investida. Sob os meus pés todo o navio estremece quando as vagas medonhas se abatem sobre nós. A máquina principal trabalha certa, alheia à fúria do mar. Gira precisa, e o navio avança por entre gritos, estilhaços de espuma, silvos do vento e muitos medos. Os nossos medos recolhidos que estão no corpo cansado. Na ponte atento, olho a agulha, os imensos mostradores, as coloridas luzes que piscam. O ecrã do radar descortinando o imenso vazio sem um eco, só o ruído do tempo. Aqui, longe de tudo de todos, os medos que sinto em terra, quando me perco pelas ruas do Porto em tua busca, imaginando que na próxima esquina te vou encontrar. Aqui despido das emoções e das ternuras, sou frio como o aço do casco e tento ser um só com o navio cansado e com a máquina/coração que nos leva singrando por entre a fúria. Tu não sabes da beleza que é o mar assim furioso. Não tenho palavras para te escrever disso, é preciso sentir entendes. Sentir na pele e no olhar este mar. Beber o sal, ficar ensalitrado até aos ossos. Os pulmões inebriados de maresias. Sou um lobo-do-mar solitário já. Só tu és plena na companhia que me fazes na memória. Por isso enquanto o navio avança te escrevo esta espécie de carta, confissão, desabafo para vencer o medo. Para te sentir próxima. Não te conto as novidades por não existirem e não te interessarem. Não pergunto por ti, por não obter resposta. Não sei de ti porque já partiste e não vou em tua demanda. Espero só que regresses, porque quando regressares eu estarei cá para te receber de braços abertos e o coração pleno do amor que juramos um dia.

João marinheiro 2007
Fotos de Geno

quarta-feira, junho 06, 2007

Só aqui nas palavras magoadas pelo silêncio eu te consigo achar…




Cometemos muitos erros ao longo do nosso caminho.
O maior é este silêncio.

Não o devia ter feito. Mas tive de vencer o medo. Peguei o telefone e marquei o teu número. Não atendeste, deixaste que o gravador me ensinasse a deixar-te uma mensagem. Não o fiz. Acontece sempre aquele aperto, aquele nó na garganta, aquele estremecer por dentro. Imagino-te ao lado do telefone a veres que é o meu número e a virares as costas. Não o deveria ter feito. Já não sabes de mim. Quantos anos se passaram. Dás-te conta? Dás-te conta do tempo que nos separa hoje. Das pedras que erguemos ao redor de nós. Acho que nunca mais vou saber de ti e vives por dentro de mim como da primeira vez que fizemos amor. Da primeira vez que te vi. Da primeira vez que te beijei. Da primeira vez…
Tu não imaginas como vivo fechado. O teu amor é um segredo meu. Quase todas as palavras que não te digo me magoam porque ficam como um eco a rebarbar por dentro. Espécie de câmara de ecos com efeitos especiais.

Já não me falas. Já não queres saber de mim. Nem tu nem algumas pessoas que foram importantes. Na ânsia de te querer substituir. Também já não falam comigo e eu não consegui substituir-te. Iludi-me por breves momentos. Mas eras sempre tu que eu queria. O amor que lhes queria dar era teu. Pertence-te. Se calhar deram por isso. Viram nos meus olhos, lá no fundo, escondido, que não as podia amar como te amo a ti. Um amor antigo. O meu amor é assim, um amor fora de tempo. Tardio. É teu para sempre. Mas sei perfeitamente que já não voltas, portanto o meu amor é dor, é ausência. Como perder um braço cortado rente. Sei que existe porque o sinto, e lhe sei o lugar, mas já não está. O meu amor é uma amputação dolorosa. Farto-me de o envolver em ligaduras para que cicatrize, para que estanque. Disfarço a ferida, mas ela existe e um olhar mais atento facilmente descobre a dor que finjo não ser.
Acho que ao longo destes anos tenho arranjado desgostos e confusões, é que o meu amor é só teu. É um amor fiel. Fiel como o cão guia do cego. Sabes aqueles cães meigos Lavradores que conduzem o cego na cidade crua.

A espera é sempre desesperante. Sabes. Não sei porque temos de fechar os olhos para querer, para recordar, para sonhar direi. Aos poucos desaprendo tudo isso, e tento manter-me lúcido porque uma primeira vez é sempre uma primeira vez.

Só aqui te escrevo o amor puro que sentia por ti e recusaste
Só aqui te escrevo da palavra ausência e ela distancia todo o tempo que já não tens
Só aqui sinto os dias claros que passei contigo e todos os outros cinzentos quando foste embora.
Só aqui o poeta te escreve da saudade porque queria o tempo todo e um dia pode ser a eternidade.
Só aqui.
Só aqui nas palavras magoadas pelo silêncio eu te consigo achar…

João marinheiro 2007
Foto Geno

domingo, junho 03, 2007

Um dia...



Um dia
Quando descalça possas poisar os teus pés nos milhares de grãos da areia húmida
Lá na minha praia das memórias no cabo do mundo
E os teus olhos encontrarem a concha
O beijo/desejo/sonho
Distante, por ser proibido
E recordes o dia breve em que te ofereci um
Vais lembrar deste marinheiro que partiu
Ausente já.
João marinheiro 2007
Fotografia Barcoantigo

sábado, junho 02, 2007

Ontem foi dia da criança, hoje deparo-me com esta notícia que fizeram o favor de me enviar. E porque ontem foi dia da criança e porque me incomoda este Portugal sem rumo abro a excepção e aqui expresso a minha indignação publicando o mail recebido:


«Hugo Marçal está em vias de ser admitido a frequentar o curso de auditor de justiça do Centro de Estudos Judiciários. O nome do arguido no processo de pedofilia da Casa Pia vem publicado no Diário da República de ontem, entre centenas de candidatos a frequentar a escola que forma os juízes portugueses. Mas ao contrário dos outros, Hugo Marçal não vai prestar provas. Pelo facto de ser doutor em Direito – grau académico que terá obtido em Espanha – está por lei «isento da fase escrita e oral» e tem ainda «preferência sobre os restantes candidatos». Resultado: o advogado de Elvas está na prática à beira de ser seleccionado para o curso que formará a próxima geração de magistrados!O nome de Hugo Manuel Santos Marçal surge na página 4961 do Diário da República, 2.ª série, com o número 802, na lista de candidatos a ingressar no CEJ. Se concluir o curso com aproveitamento e iniciar uma carreira nos tribunais – primeiro como auditor de justiça, depois como juiz de direito – Marçal terá também o privilégio de não ser julgado num tribunal de primeira instância.·»

AH,POIS É!!! É O PAÍS QUE TEMOS!!!

Obrigado Cristina pela informação