quinta-feira, março 30, 2006

POESIA A QUATRO MÃOS....


Hoje resolvi partilhar dois poemas de duas pessoas virtuais e grandes para mim.
Virtuais porque não passam de palavras trocadas via net, resumidas à quadratura do monitor...
Grandes porque é assim que gosto das pessoas, como das palavras...
Chamo-lhe poesia a quatro mãos, se calhar estou errado
Mas gosto do som limpido, os dedos nas teclas branco e negro do piano que não sei tocar.
Se calhar continuo errado, por gostar do som do piano. Podia gostar de outro som, mas este é especial, são as mãos que fazem amor com as teclas, logo gosto do piano e pronto! Já não falo mais nisso.
As vezes gosto de descobrir um poema dentro de outro, o tal mundo ao contrário...
este foi o resultado aqui exposto.
Penitencio-me da ousadia por ter profanado as vossas palavras.
Obrigado ao Sol obrigado à Lua.
NESTA MADRUGADA ( poema a 4 mãos…)

Nesta madrugada sem sono, nem sonhos
Igual a tantas outras
Olho o mar que me acordou
Com o seu lamento triste
E entoo baixinho, este fado
Que a vida me ensinou.
Olhando a pauta, e as notas
Em gestos repetitivos
Dedilhando uma guitarra
Muda
Que nada emite!
Queda e triste como um lamento
Nem sons nem gemidos
Nem ais por ti
Só meus pensamentos sentidos.

Reparo que nada tenho
Reparo que nada sou
Nem guitarra, nem canção
Ou a sombra de mim
Só o mar entoa o seu canto
Um cantar dorido
Que me embala lentamente
Como a mãe embala o filho
Nos seus múrmurios secretos
Conta-me segredos tais
Cadenciando nas ondas
A surpresa
A desordem do meu espanto
Tal é o estado de pranto
Nesta madrugada expectante
Poema partilhado por João marinheiro e Piedade Sol
do blog:http:/olharentonsdemaresia.blogspot.com
HOJE (Poema a 4 mãos)

Hoje...
Agora
Sim hoje...não ontem.
Neste instante apressado
Foi hoje...que senti o vento da manhã...
Revolto
Aquele que me solta os mistérios,
Em redemoinhos estranhos
Deixa abertos meus critérios, pelo gosto de desvendar
Os segredos
Sim! Foi hoje que o senti.
Neste instante único
Não ontem...nem será amanhã...
Nem antes nem depois
Esse vento que me beija o rosto,
Acaricia a pele
Me encanta o gosto...
Com um travo de mel…
Que vem de mansinho que abana as cortinas do meu sentir...
Serenamente.
Entra devagarinho beija-me num desalinho de sentimentos confusos
Excitação
Onde desejos difusos...me penetram a pele.
Como te queria sentir por dentro de mim…
Aiii...vento da manhã!!!!...Faz amor comigo...
Leva-me ao céu
Quero que sejas meu castigo
O suplício do prazer
Quero que me beijes por inteira
Aos poucos
Me embales na eira, onde madrugam os pardais.
E se juntam os rouxinóis
Aperta meus seios, sente meu corpo dormente
Que geme por ti
Diz-me que mesmo distante, não te sou indiferente.
Sou presente agora e aqui!
Quando chegas trazes contigo o sonho
O meu alimento de amor
O desejo de algo maior...
Tu por inteiro
Ai, se pudesses ouvir-me o olhar
Escutavas de olhos fechados…
Ou saborear-me os sentidos...
Provavas o gosto
Saberias que nem a poesia acalenta
O querer forte
O fremir dos meus desejos.
Anseios
Neste desvairo vens como brisa matinal é assim que me tentas
Os redemoinhos estranhos…
No desdobrar do corpo, no calor aveludado e subtil...
Onde te perdes em carícias de brisas
Quando meus sonhos se encontram com os teus e no vento da manhã se
beijam.
Unidos
Não posso imaginar outro momento que não esse, quando meu desejo te
invoca
E tu chegas
E ficas na parte de dentro do meu corpo...
Eu por fora de ti
Onde adormeces e acordas de mão dada com o meu amor.
Nesta cama em pétalas de rosas
Queria que o vento da manhã me contasse que cada gesto meu,
Repetido em ti
Me deixa entregue ao ardor da tua memória.
Que venero como relíquia
E neste beijo da brisa, enrosco meu corpo no sonho e abraço-me na tua ausência.

Poema a 4 mãos por João marinheiro e Ana Luar do blog:http:/aromasdemulher.blogs.simplesnet.pt/

quarta-feira, março 29, 2006

GRAFIA DESCONTINUA




As nossas mensagens
São como os sinais de Morse
Uma grafia descontinua
Feita de pontos e traços interrompidos
Embora o Morse esteja em extinção…
Assim as mensagens demoram a chegar
Espaçadas no tempo na distância
Escritas em grafia encriptada
Difícil de decifrar
As nossas mensagens diluem-se no tempo da distância
Que nos separa
Que nos faz esquecer que existimos e nos cruzamos um dia
E nessa encruzilhada que nos juntou
Paramos, ofegantes da corrida
Demos as mãos e nossos lábios famintos saciaram a sede e a fome
De beijos ternos de amor por descobrir, mas com sabor a saudade
Desta saudade que sinto, na tua falta de mensagens
Espaçadas no tempo, resumidas à grafia essencial
As nossas mensagens perderam o calor cúmplice
Dos escritos encriptados, difíceis de decifrar
Porque sentidos no coração e no olhar
E em beijos espelhados no amor que sentíamos no peito
Peito cansado, coração dorido, olhos rasos de água
Esforço imenso para encontrar a saída
Desta encruzilhada que nos juntou um dia, e na qual me sinto só
Porque passaste qual cometa num rasto de luz
Que me cegou no brilho da passagem ou no deslumbramento da tua existência.
Assim minhas mãos cansadas continuam vazias pela tua ausência
Embora numa primeira instância fossem tuas mãos que buscavam as minhas
Eu assim reconfortado, assim amado e assim seguro
Fechei os olhos, deixei-me repousar adormecido no teu regaço
Inebriado pelo teu perfume e o calor de tuas mãos na minha face gélida
Perdi a noção do tempo ou do espaço, o meu espaço, o meu silêncio
E ao acordar deste sono reparador ou deste sonho
Não te reconheci nem me reencontrei, ou ao nosso amor
Assim teimosamente
Continuo a enviar mensagens
Como os sinais de Morse
Em grafia descontínua, que demoram a chegar
E neste intervalo de idas e vindas
Espero
E envelheço!
João marinheiro ausente
Fotografia de Barcoantigo

terça-feira, março 28, 2006

MOVIMENTO PERPÉTUO


Gosto do movimento perpétuo que fazes
Uma dança de luzes e sons .
Andas ao redor do meu pescoço
Falas-me ao ouvido
Fecho os olhos, estremeço.
Agarro-te
Voamos os dois
Em piruetas de sons
Num movimento perpétuo
De volta da lua, ao redor do sol
Voamos os dois
E tu andas ao redor do meu pescoço
Confessas-me ao ouvido
Tudo o que queria escutar
Agarras-me
Levas-me contigo
Voamos os dois
Nas nuvens de algodão doce como crianças
Andamos no carrossel mágico
Escutamos a música no realejo
Lêem-nos a sina na palma da mão
As linhas da vida
A minha e a tua, o futuro nosso
As palavras da cigana, adivinha.
O sorriso cúmplice trocado.
Voamos os dois aqui e agora
Por montes e vales, florestas densas.
Atravessamos oceanos de pólo a pólo
Cruzamos o equador
De cá pra lá e de lá pra cá.
Paramos cansados
Então descanso.
Tu não paras. Rodopias de novo, és pião, pirueta.
Gosto do movimento perpétuo que fazes…

João marinheiro ausente
Fotografia de Barcoantigo

UM DIA SE CALHAR…


Um dia se calhar
Vou pagar para ter amor.
Não será já o teu
Porque esse findou
Como a flor cortada e na jarra colocada.
Porque nós nos estamos metamorfoseando
Em continuo.
Dois estranhos íntimos.
Reservados nas carícias
Vigilantes no espaço ocupado
Da cama imensa e fria.
Porque as minhas mãos já deixaram de buscar teu corpo
No silêncio e no escuro da noite cúmplice.
Porque deixei de dormir com teu seio poisado na minha mão em concha
E teus cabelos soltos perfumados deixaram de me acariciar o rosto.
Porque temos uma cama comum
E uma imensa fronteira!
De dois corpos que se repelem hoje
Mas que antes se atraiam.

Sei que à luz da ciência, é um problema de física.
Ou das emoções, ou dos sentimentos
Será um problema dos homens?
É um problema de sensibilidade acusas!
Estou demasiadamente sensível, insensível, ou se calhar estúpido!
Ou finjo estar!
E sofro em silêncio e só!
Como geralmente estou.
Que é como me conheço desde que sou pessoa
Rodeado de gente, mas só como eu mesmo.
Assim calmo.
Por isso me dói
Por isso, e se calhar
Vou pagar para ter amor
Um outro tipo de amor comprado que desconheço.
Nas esquinas das ruas escuras desta cidade imensa e fúnebre.
Nas alcovas tantas vezes partilhadas em gemidos
Ensaiados neste imenso teatro da vida.
Um amor frio impessoal
Indigno desse nome tão sublime. Amor!
Um amor frio desconhecido, comercial com certeza
Que não deixa marca nem saudade.
Mas que fere e violenta.
Mas que acalma, relaxa…

Sei?
Ou talvez não?
Escutei na rádio.
Que geralmente se está às avessas?
Ou de costas voltadas?
Uma questão de idade
Dizem os terapeutas
Uma questão de orgulho ou de insensatez?
Não sei!
Que se o soubesse, não estava aqui
Nestas letras expresso em dor!

Sei só!
Porque já é assim desde o princípio
Depois deste Inverno frio
Onde diariamente e a todo o instante sinto a tua falta
Nesta cama imensa onde também te encontras.
Que ciclicamente vai voltar a Primavera
E com ela voltam as andorinhas,
As flores, e os cheiros nos campos
O calor dos dias claros…

Sei só que eu!
Mais dia, menos dia
Também volto à terra de onde surgi
Reciclando-me sempre em contínuo
Inexoravelmente!
(Ou desistindo!)
João marinheiro ausente
Fotografia de Barcoantigo

segunda-feira, março 27, 2006

PALAVRAS DESCONEXAS...




Já escrevi bastante!
Defeito meu.
Devo resumir as frases ao essencial, como o café sem açúcar, só café!
O resto é acessório.
As palavras qb.
As restantes estão mortas, como as dos livros, mortas e esquecidas, à espera de renascerem quando lidas!
(ando a pensar nisto...)·

Vou embora.
Mas volto.
Prometo!
Se me aceitares como extensão da partilha das palavras.
Perdoa esquecer-me de ti...
Por vezes os lapsos da escrita duram anos.
O último durou 20 anos, mas recomecei.
Há vinte e tal anos atrás escrevia sobre a guerra, a tropa, os sonhos tudo ao correr da pena, só algumas coisas restam do que escrevi, reunidas num possível livro a editar um dia em edição póstuma.Hoje escrevo de novo, e as palavras, ao reler as coisas antigas que restam transmitem o mesmo sentimento.
Aproveito as mesmas palavras recicladas…
Hoje falo de amor, da sua ausência, do sonho da aventura imaginada da amizade, pouca e em extinção, mas também falo da guerra, ou a impressão que me faz.
O poema "Homens de Nassiria"saiu quando vi na Tv. os caixões alinhados e as flores, dos militares espanhóis, mais o rosto das crianças de olhar sem brilho.
Este é um exemplo…
São coisas que partilho comigo mesmo, com os meus pensamento, nos momentos raros em que posso parar e pensar na vida.
Sei lá o que é a vida?

Faz tempo, se calhar demasiado, em que te escrevi, tinha razão.
As palavras continuam mortas, não obtenho retorno, ou chego à miserável conclusão
que o nosso mundo se resume ao olhar do nosso umbigo.

Fico por aqui! Tenho frio e estou a ficar com gripe...
Beijo para ti, se possível perto do calor de uma fogueira que aqueça o coração com piruetas, espirais, sorrisos, rubores, ou só o beijo roubado. ...
Uma espécie de ósculo de adolescente curioso ou audaz.

O pensamento persegue-me…

..."Mas, continuo diariamente, nos dias claros de Inverno e de chuva.
A encostar o rosto ao vidro e esperar que tu o faças, do outro lado da rua.
Na vidraça que te emoldura o rosto como um quadro que guardo religiosamente num museu meu.
Feito de memórias e de sonhos e de outras coisas inúteis..."

Faz falta conversar porra!

João marinheiro ausente
Fotografia de Barcoantigo

domingo, março 26, 2006

UM TEMPO PASSADO



Houve um tempo para lá deste em que existiu
O sentido da palavra amor
Um tempo em que me amavas e eu te amava
Um tempo sentido feito de desejos e de olhares
Em que nos perdíamos um no outro como o rio se perde no mar
Eras a foz onde eu desaguava tranquilo nas manhãs de primavera.
Eras o meu campo de margaridas amarelas
Hoje não sei se tem a mesma cor as margaridas?
Houve um tempo para lá deste em que te escrevo de novo
Em que lias os meus escritos, corrigias os erros ortográficos
Hoje nem lés nem eu corrijo todos os outros que cometi.
Houve um tempo para lá deste de agora
Em que fazíamos amor com as palavras
E os actos consentidos eram de prazer.
Hoje não faço amor contigo
Não sei se existes
Perdi o teu rosto, a cor dos teus cabelos, o perfume que usavas
Detalhes que te faziam única.
Houve um tempo para lá deste e destas folhas
Onde redijo o monólogo mental que regista tudo
Mas tudo!
O que te queria dizer e não consentes.
Um tempo diferente com tempo para o sentido da palavra amor…
Houve um tempo para lá deste tempo de agora presente
Em que eu te amei e tu me amaste.
Hoje no tempo presente que é tempo deste tempo
Não sei de ti, mas o tempo que houve esse tempo, guardei-o.
Um dia quando voltares
Regressamos a esse tempo para lá do tempo…

João marinheiro ausente
Fotografia de Barcoantigo

quinta-feira, março 23, 2006

SERÁ APENAS DESEJO




Estou acordada
Acordas-me altas horas da noite propositadamente
Fazes barulho no silêncio ainda escuro
Desnudas-me, afastas os lençóis de cetim
Cais sobre mim como um anjo.
Matas-me com beijos.
Acordo de vez surpresa.
Abro os olhos, olho o teu olhar sorrindo.
Beijo-te ternamente
Abraço-te. Abraço-te tanto!
Quero-te neste preciso momento. Fazemos amor
Rolamos, gememos, suamos, somos um.
Sinto o teu amor por dentro de mim quente
Inundas-me de prazer.
Quero-te tanto esta noite
Olho em volta
As paredes nuas
A cama no chão
Onde estás?
João marinheiro ausente 23/03/06
Foto gentilmente cedida por Gena

terça-feira, março 21, 2006

ANDAMOS DE RODA UM DO OUTRO




Andamos de roda um do outro.
Em círculos, ando de roda de ti faz tempos
E tu por dentro de mim em círculos.
Andamos girando em sentidos contrários
Unido por um eixo que range
E o sangue quente arrefece e escorre em rios de ferrugem
Andamos de roda um do outro faz tempos
Dos tempos dos tempos do tempo perdido.
Giramos, rodopiamos doidos, um pelo outro
Como asas gigantes dos geradores que criam
A luz, a energia, a força
Do vento que sinto nos braços como asas
Andamos de roda um do outro
Em círculos concêntricos excêntricos, egocêntricos.
Silvando, urrando, gemendo o vento nos braços
Que caem como pêndulos sem corda
Do relógio monótono na parede nua
Onde os ponteiros ciclicamente se beijam nas doze horas exactas
De um tempo que não existe por não existirem horas já
Andamos de roda um do outro ainda
Como crianças no jardim brincando.
Escuto os risos, os gritos de alegria
Mas não te escuto a ti
E estás aqui, bem por dentro de mim em círculos
Fervendo no leito de sangue vermelho que queima
És um sol de Inverno que desponta depois da chuva miudinha
Ou um cheiro a terra lavrada de fresco e arada.
És! És! És!
O bicho papão que me assusta nas noites de insónia
A fada madrinha da historia repetida. Repetida. Repetida!
Um disco CD com as nossas musicas cúmplices
Que escuto repetitivamente, doentiamente, que sei de cor…
E giras! De roda! Bem por dentro de mim. Em sentido oposto!
Oposto! Oposto! Oposto!
O mundo ao contrário, o mundo às avessas o mundo não mundo.
Mudo! Estático! Parado! Finito!
E eu aqui vendo a tua graciosidade rodopiante
A minha cabeça tonta, zonza.
Os ponteiros quase juntos
As hélices como asas girando a 75RPM
Os milhares de megawattes presos nas veias condutoras
O vento que sopra e faz dobrar a copas das árvores
O relógio de pêndulo que já parou
O jardim vazio das crianças
As nuvens de chuva que tapam o sol
Os cheiros nauseabundos da central incineradora onde existiu terra lavrada
Os livros de historias com fadas e papões que já não se lêem
Ou as musicas apagadas dos cds…
O mundo ainda ao contrário…
Fecho os olhos,
Já não te vejo.
Já não te sinto.
Rodas em sentido descendente
E eu, descrente, penso
Que um dia
Com a brisa da primavera
Possa abrir os braços e girar como asas gigantes
Que te abracem
E então recomeçar
Lentamente o rodopio concertado
Os dois sincronizados, cronometrados
Como um, só eu e tu
Em círculos perfeitos elípticos, lunares
De roda um do outro
Eu por fora de ti
Tu por dentro de mim
Em sentidos oposto…

João marinheiro ausente

segunda-feira, março 20, 2006

UMA CARTA DE DESPEDIDA…





Deixas-me num estado de desespero total
Não sei de ti
Escrevo-te para dizer que te amo
As palavras custam a sair
Deixas-me num estado de vazio prolongado
Não falas comigo
Escrevo-te para dizer que te amo
Já não faço amor contigo
Sempre soube que eram um pecado os nosso beijos
Gostava de te beijar…a tua boca molhada entreaberta.
Deixas-me num estado perdido desconexo.
Perdi-te um dia eu sei
Não encontro o caminho até ti.
Este deveria ser um dia feliz
Mas não é o dia que eu imaginava.
Escrevo só para dizer que te amo
Mesmo que sinta na boca o gosto amargo da ausência
A tua falta aqui
Deixas-me num estado de angústia final.
Não sei de ti
Estás num mundo paralelo ao meu,
Tão perto e distante
É para mim difícil chamar-te de meu amor
O silêncio instalou-se confortavelmente entre nós…
Por isso resolvi escrever esta carta
Em jeito de despedida
Para dizer que te amo
Na esperança que leias um dia e então regresses
E que faz um tempo,
Demasiado tempo já
Não sei de ti…

João marinheiro ausente 19/03/06
Fotografia de Barcoantigo

domingo, março 19, 2006

SONHO



Por vezes na minha vida agarro-me aos sonhos
És o meu sonho no momento
E contigo partilho anseios
Partilho desesperos
Solidão
És assim, surda-muda, estática
Estás sempre ai como uma imagem
Que eu teimoso revisito diariamente
Volto sempre de mãos vazias
E retorno na esperança vã
Como na fábula da raposa e das uvas
Volto a cabeça sempre, e o olhar
Mas não te encontro
Continuas o meu sonho
E não acordo porque te quero aqui juntinha a mim
Porque te desejo aqui sentada ao meu lado enquanto de olhos fechados descanso
Porque te digo obrigada pela bebida fresca que me preparaste com o carinho especial
Porque te imagino em círculos de poesia
E porque a poesia em círculos não vai dar a lugar nenhum
Fico perdido sem rumo
E tonto mesmo sabendo, alimento a esperança de notícias que já não vem
Sei que a memória naufragou no imenso oceano atlântico
Como um barco em ferro que encerra em si
O segredo ultimo da fé da esperança ou do amor em vão.
Escrevo. Escrevo.
És a musa que me inspira a saudade
Enquanto escuto na rádio a canção faites l`amor, faites l`amor
Que amor este
Gritado!

L`amour c`est un passant
Toujours dans la misère
A scruter les étoiles
A scruter qui sait quoi ?
A se prendre pour qui ?
Je vous demande un peu
A chercher la lumière
Dans des yeux malheureux…

18 Março 2005
João marinheiro ausente

HOMENS DE NASSIRIA






Estendo o olhar.
De novo vejo e relembro
Os heróis!
Eu que ainda não morri, e vivo, e viverei
Porque sobrevivo!
Mas!
Aparte isso.
Tenho comigo todos os sonhos
E as lembranças.
De todos os heróis mortos, perfilados em Nassiria!
Envoltos em lágrimas e nas flores
Ou no luto das esposas
O clamor do choro. Dos filhos órfãos.
Todas as homenagens tardias
Todas as condecorações a titulo póstumo!
Todas as visões de guerra na Tv! Reality show em directo.

Fora isso carrego comigo, e vou só, com este peso.
Todos os sonhos dos que tombaram.
E eu que também sonhei
E eu que também tive uma farda
E uma guerra dentro da guerra. Estúpida guerra!

Homens!
De Nassiria!
Envoltos em escombros e gritos de ambulâncias
Em qualquer parte, neste mundo redondo, mas obtuso!
Os heróis mortos!
Soldados!
À deriva nesta terra.
E eu?
E tu?
Por onde andas a estas horas do dia, meu amor?
Eu que ainda não morri
E carrego os sonhos de todos os heróis que tombaram
Sei que já não estas mais comigo ou te importes
Apenas viverei o suficiente para te esquecer.

Assim reconfortado
Com o pensamento cheio
De tristezas
E de lamentos
Sinto ainda nos ouvidos o ruído forte da explosão
Poetas suicidas!
Histórias de bandeiras desfraldadas
Pelo Islão?
Pelo Corão?
Que Deus és tu?
Que amas a todos de igual para igual
Que Deus és tu?
Que deixas as crianças órfãos
Que Deus és tu?
Que permites a vinda do Anti Cristo em forma de presidente Bush!
Que Deus és tu, e acredito!
E tenho esperança
Que atrás dos dias de terror, o sol de novo brilhe
Na terra árida juncada de cadáveres e de escombros
E então germine a semente da flor, ou a roseira desponte
E abra o botão vermelho rubro ao sol
Eu, que por ali vou passar um dia
Colherei a flor com minhas mãos, cheirar o seu perfume suave
Assim num acto simbólico, ou de amor instituído
Vou ajoelhar na terra estéril e seca
E oferecer-te a flor num acto de remissão ou de perdão ou do amor que sinto.
A ti Deus! Que permites que os homens matem
As crianças indefesas nesta guerra desigual
Entre Mouros e Cristãos.
Desde os princípios dos tempos…
João marinheiro ausente

Excerto de "Reencontros"
Poema escrito em 21/11/03
fotografia de Barcoantigo




ALINHAMENTO


A poesia fria
Das pedras tumulares.
Está alinhada, como as linhas da folha onde escrevo.
São milhares no silêncio final, da guerra finda...
Triste sente-se o meu coração ao recordar.
Triste é hoje, o réquiem pelos heróis...
Os campos de batalha aos meus olhos, neste momento,
São um naufrágio de pedras tumulares.
A poesia fria
É um pouco do gelo que me inunda o coração.

Excerto do livro por editar
"Das vezes que não posso ser quem sou"
1ªparte Poemas sem tempo 31/10/83

João marinheiro ausente

sábado, março 18, 2006

DISSE-TE PARA LERES E NÃO LIGASTE





Que estes meus escritos não te interessam
Por não te reconheceres aqui
No amor que sinto e não revelo
Na busca que faço e não encontro
Na paz que quero e não obtenho.

Disse-te para leres os meus escritos
Que são como lamentos de um coração triste
Pois o que eu quero é companhia
E alguém que goste de ler os meus escritos
Mas não ligaste ou ignoraste o meu apelo
Que é como geralmente fazes
E eu, teimoso insisto, insisto
De roda de ti com os meus escritos
Aos quais não das valor, por não sentires
Assim o amor triste e só como eu o sinto.

Mas não faz mal, tu sabes ou imaginas
Que outra possa partilhar os meus escritos
Pois se os olhos lêem o coração sente
E o meu, ultimamente está sentido e velho
Mas o que eu quero mesmo é que sintas, ou leias
Estes meus escritos que são lamentos
Dum poeta desajeitado ou nem mesmo isso.

Assim triste parto
Em busca de outra que me aceite
Ou sinta o que escrevo, os meus escritos
E se reconheça aqui no amor que também sente
Na busca que faz e não encontra
Na paz que quer e não obtêm
E assim os dois em um só
De mãos dadas abraçados, ora lemos ora escrevemos
O amor todo em palavras e em actos
Que ele o amor é como o corpo humano
Um pouco de carne, e setenta por cento de água
Complexo e simples ao mesmo tempo
Tímido ou ousado quanto baste.

E se assim eu
Na busca finalmente encontro
Alguém que goste dos meus escritos
Paro e descanso, e adormeço
De encontro ao peito ou ao regaço
Que é como fazia em pequenino e me lembro
De adormecer no colo da mãe que já partiu
E sinto, e não falo
Da ausência que tenho bem por dentro
E do segredo que guardo só meu, nos meus escritos
…Da falta que fazes e não te tenho…Mãe.

E se tu.
Um dia leres os meus escritos
Não vais reconhecer este que ama, ou te amou
Uma vida toda dedicada e em silêncio
Porque o amor puro é assim
Dedicado e em silêncio
Que é como o escrevem os poetas
Ou entoam os cantores
E eu o sinto na pele, e no corpo, ou na saudade tua
E então arrependido, não te peço mais
Nem teimoso insisto
Para leres os meus escritos
joão marinheiro ausente

EXECUÇÃO



Além...
Além é a distância que ficou por percorrer
Ao fundo, não sei se perto ou distante há sombras...
Mil sois se projectam na parede nua.
Tomba um corpo
Há sangue e balas espalhadas...
Mil sois abriram fendas na parede ainda nua.
Todos os dias se ouve o matraquear das armas
Todos os dias tombam corpos de olhos vendados...

A ferida que sinto hoje no peito.
É como o sol afogando a melancolia,
Como se um sorriso fosse o meu destino! ...


...Há pouco um companheiro tombou exausto.
A vida, lentamente e viscosa, fugia-lhe por quatro buracos no peito. Rubro...!
Confusão colorida nos cravos de Abril...

Distância...


...Em um outro qualquer meridiano. Mundo!... Lugar!... Rua!...
Num estalo estala a violência na face duma criança!



....Fim?!

Excerto do livro por editar
" Das vezes que não posso ser quem sou"
1ª parte, Poemas sem tempo 17/07/83
João marinheiro ausente

POEMA ESTÁTICO















As botas desfilam cansadas
Milhares em uníssono, máquinas autómatos de matar.
...Chegaram
Grandes fumos matinais
Doenças pulmonares nas cidades também elas grandes
E cheiros, todos, menos de vida.

...Um coitado foi passear o cão
Foi tão grande a aflição
Morreu de congestão......... (fim)!
...Uma flor ia nascer, mas não!
P`rá quê nascer e morrer logo?
Ficou sempre botão...

...Um casal de namorados de mãos dadas
Passeavam mudos estáticos por entre os escombros... (Embora os olhos brilhassem...)
O sol tinha nascido azul, ficou cinzento
Filtrado na nuvem radioactiva
A cidade fantasma parada no tempo
Finita no tempo. Ah, Ah, Ah...!
Algures goteja um corpo quente
Vêem-se espalhados p`lo chão restos duma farda
Vêem-se pedaços rubros desse corpo...
Algures um botão lançou a ogiva redentora
Fim da discussão!!!
(Leia-se agora de novo)
O sol tinha nascido azul, ficou cinzento
Filtrado na nuvem radioactiva
A cidade fantasma parada no tempo
Finita no tempo. Ah, Ah, Ah...!
... (Lapso para meditação)...

Pequenos negros, negros de fome lutam!
No entanto há sol
E armas mais ogivas nucleares
E dinheiro gasto nisso
Mais uma inquietação que me persegue.

Desprezo!!!
Desprezo-vos cientistas loucos!
Odeio-vos a todos assim como ao urânio
Ouçam!?
Inventem a fome e a dor permanentemente
Nos vossos alucinados cérebros.
No entanto há sol...
Por mais quanto tempo? Digam-me!
Quanto mais tempo posso viver? Vá digam-me!

...Sinto que mais um condenado expirou
Desdobro-me
Sentado em cima de não sei o quê observo-me
Ridículo!
(Roubei as ideias ao poeta)

...Aquela criança que me sorriu na rua ontem
Lembras-te?
Era poeta!
Tinha toda a graça da poesia expressa no rosto lindo.... E sem palavras.

As rosas que floriram no roseiral eram poetas,
Sabias?
Tinham toda a cor da poesia do sangue rubro...

Aquela bomba que caiu...
Seis de Agosto de quarenta e cinco...

ERA POETA!!!
Não sabiam?!
AH, ah, ah! Transformou toda a cidade num lindo poema
Macabro.
Surrealismo à bomba!
Somente a poesia estática de uma cidade fantasma
Um quadro rasgado...com pó...

...O sol tinha nascido azul, ficou cinzento
Filtrado na nuvem radioactiva
A cidade fantasma parada no tempo
Finita no tempo...

Continuamente!!!

Mas estas palavras, são um compasso de esperas angustiante.
São um dardejar no peito incomodativo.
Um exagero à força do sentir.
São algo de termo certo, exacto. Recto e directo.
Qual tiro!...
São algo de revolta. Louca e alucinada...

A minha loucura é inventar-me. Infinitamente!
Um invento em excesso. Já à muito inventado.
A minha loucura sou eu, são os meus pesadelos.
A minha loucura é o meu mundo. Ah! O meu mundo!
O mundo meu que desconheço!
Eu que fui a agressão, o marginal e a lei.
Eu que fui o Zé soldado, ordenança de estrelas e galões.
Eu o recruta de quinhentos paus por mês. Naquele altura.
Eu o dissidente. Perdão! O dirigente patronal.
Eu o cantor de gritos. De dor e humilhação.
Eu a saudade em viagem, num imenso 'inter-rail'
Eu parado no tempo...Ridículo...Doente...
Agradeço do coração a toda a tropa, a experiência,
A maravilha que vivi...
Agradeço os trinta e tal meses de controlo...
(Eu... fui uma guerra de papeis dentro da tropa...)
Agradeço hoje ao regulamento de disciplina militar,
O evitar que desertasse.
...O suicídio é uma deserção punida pelo regulamento...
(..." A Pátria honrai que a Pátria vos contempla...")
Dois metros pelo chão adentro. Herói desconhecido...
Monumento a ti soldado. Morto... desesperadamente morto!
Além numa guerra qualquer...
Mas eu hoje quando ouço:
"Vive o presente, o futuro é amanhã!" Sinto algo de inquietação.
Amanhã? Tão simples?!
O futuro são vinte e quatro horas adiante da angústia.
O presente é a angústia dolorosa.

No entanto...

(Há três anos que sinto uma dor no peito...
Ah, o meu presente doloroso...
Da tropa temos boas ofertas, boas recordações...
Eu que o diga! Tudo agradeço.
Já não me suicido num feriado. Não deserto desta vida.
Que se marimbe o RDM!...)


Excerto de um livo por editar:
" Das vezes que não posso ser quem sou 1984".
1ª parte poemas sem tempo 11/04/83

João marinheiro ausente





QUEM SOU?

Devo uma explicação possível a quem cruza este mar de palavras.
Quem sou interrogo-me por vezes. Demasiadas vezes até.
Não era assim, acho? Não sei. Desde que me conheço que sonho ou vivo num mundo paralelo.
Dizia há dias que por te conhecer íamos para uma oitava dimensão. Continuo a não saber se existe…
Refugio-me na escrita por vezes, ai, sou eu noutra dimensão não sei se 8ª ou não?
Perco-me na escrita, nos sentidos, nas ausências, nas saudades, acho que a saudade vem da infancia, das separações forçadas em menino, vivi isolado numa ilha uns tempos, éramos cinco, os putos, e milhares de ratos á noite para nos divertirmos atrás deles nos dias de calor.
Quando tinha saudades, não sabia o que era isso na altura contemplava as luzes muito ao fundo que tremeluziam, era terra dizia o pai…Ás vezes os pedaços de terra andavam, vinha até ao socairo da ilha nos dias de vento, gostava de ir a bordo comer umas caldeiradas de peixe fresco com o pai a esses pedaços de terra.
Andei aos saltos pela borda de água um quarto de século.
Porra! Que palavra! Fiquei velho?
Sei lá? Hoje, ás vezes, para matar as saudades, retorno aos sítios da minha infância. aos poucos, a um de cada vez...
Desconheço-me, sou um estranho no chão que pisei, onde brinquei ao berlinde ao apanha apanha, ás escondidas. Ou onde só, inventava as brincadeiras embalado pelo som monótono e frio dos motores que geravam a luz que guia ainda hoje os meus barcos…
Custa voltar, custa voltar cá dentro, ser um estranho dentro de nós, uma espécie de estrangeiro do Camus.
Essas são as minhas memórias, algumas, mas tenho mais…E outras fases da escrita da minha guerra pessoal dentro da guerra.

Tive uma farda também…Libertei-me dela, ficam as palavras que agora resolvi aos poucos partilhar, ás vezes coisas parvas, ideias malucas…tanta vezes tive a liberdade cinco andares abaixo, era só saltar livre e voar…esperei sempre o dia seguinte.
O dia seguinte, eram na altura 24 horas adiante da angústia.
A angústia persistiu trinta e tal meses, depois curei-me ao passar o portão verde e deixar de ser um número mecanográfico…
Hoje pertenço aos inúteis…Que gozo. Já não estou na reserva territorial por excesso de idade…

Não sei o efeito das palavras no coração das pessoas. Costumo dizer que nenhuma palavra é inocente, e eu sei disso, mas repito vezes sem conta para não me esquecer. Perdeu-se a candura, a inocência da palavra. Ora! O que são palavras… Deixei de me preocupar…

Este é um mundo global, dou-me conta. Que gira à velocidade do chip no computador pessoal, as pessoas passam a ter a forma plana, virtual dum monitor estático.
Gosto delas com 19 polegadas. Grandes…
Assim como gosto das palavras...

Abraço aos mareantes…

João marinheiro ausente

O SACRIFICIO DE ESCREVER











Ou a ausência de nada de nada para falar
Ou talvez a interrogação que me assola o espírito
Ou talvez a tua falta, ou a tua enorme ausência
Eu sinto
E sinto o sacrifício de escrever
Pois que se esgotaram as palavras na garganta
E meus lábios estão quedos e mudos
Embora outrora beijassem os teus
Eu sinto
Que algo se partiu cá bem no fundo
Da alma ou do espírito
Ou da luz diáfana que ilumina o nosso amor proibido
Mas desejado no olhar, e ao de leve
No leve tocar das mãos
Ou do olhar como um rio de desejos
Em sonhos e lágrimas afogado
Ou em ti que já esqueço
Ou em mim, afundado em pensamentos
Ou no sacrifício da escrita,
E das palavras que saem mas não falam
Ou porque não escuto tua voz
O teu sorrir
A luz dos teus olhos lindos
Ou o teu respirar tranquilo de encosto ao meu peito
Ou então e se calhar?
Porque me sinto cansado e de peito dorido
Nele não encostas teu rosto que acaricio em pensamento
Com um medo natural e compreensível
De me magoares ou te magoares. Mais do que esta realidade
Que somos os dois
Prisioneiros desta descoberta tardia
Da vida ou do amor desejado e compreendido
Tantas, mas tantas vezes sem conta, das contas de vezes dolorosas
Em que nos buscamos perdidos
E passamos lado a lado como estranhos
Cegos pela cobiça ou a beleza efémera da TV
Num qualquer concurso de beleza artificial e anoréctico
Mas tu vales tudo isso
Os dias que passo só. Vazio
Os dias que passo do outro lado da vidraça
Os dias que passo do outro lado das grades
Os dias que passo do outro lado do rio
Ou o rio que és… Serpenteando por entre as arvores
E eu, um barco, percorro teus caminhos de prata proibidos
De águas ora límpidas ora revoltas
Escutando o barulho que fazes no rodízio e na mó
Da velha azenha onde te roubei um beijo
Qual água clara e fresca numa manhã orvalhada
Da erva fresca que alimenta, ou do cheiro das camomilas em flor
Ou dos jacintos de águas floridos
E das libelinhas que esvoaçam
Por entre as flores aquáticas
E o chilrear dos pardais de manhã cedo, em busca do pão e alimento
Que também nos alimenta a nós pobres mortais com vícios…
Mas tu vales tudo isso
Os dias, poucos, que demoram a chegar
Em que revejo e me revejo no teu olhar
Ou porque tem que ser assim, ou talvez não?
Todos os outros dias
Em que continuo parado e quedo
Porque noto a tua ausência, para qual não tenho remédio
Ou a cura ou talvez a doença?
Deste sacrifício da escrita ou do amor escrito
E repetido. E repetido. E repetido…
Como um disco em círculos complexos de vibrações musicais
Que é como sinto teu rir, complexo de vibrações musicais
Das quais tenho saudade
Porque sou português e portanto saudoso, que foi assim que aprendi
A saudade e o fado
Ou a melancolia dos dias esperando que voltes…
Ou numa carta em palavras escritas e dolorosas
Ou no outro lado da rua, que cruzo diariamente só
Porque um dia te vi nesta mesma rua
Caminhando apressada, mas do outro lado
Sempre do outro lado de mim
Por isso esta ausência do nada para falar
Ou o sacrifício de escrever
Um dialogo partilhado num monólogo de surdos
Porque o único actor sou eu
Porque o único espectador sou de novo eu
Porque não fui eu que escrevi este guião
Mas sou eu que sinto as personagens
E sou eu que continuo a dar-me conta da tua ausência
E sou eu que insisto sempre, sempre, e sempre
Em gritar teu nome, e ficar à escuta
Que o eco me devolva o chamamento, ou o grito, ou o lamento
E sou sempre eu, só e triste, que não obtenho resposta ao desejo
Ou ao sonho construído na beirada da praia, em areia
Que o mar teima em destruir
E eu teimo em reconstruir com minhas mãos
Numa tarefa árdua e inglória de batalha perdida desde o inicio
Porque tem que ser assim desde os princípios dos dias ou dos tempos
E eu que já vivi, e renasci, sei do que falo. E do amor que sinto
E que me falta
Como um lamento do pássaro ferido, na asa, ou no olhar…
Porque o meu é um olhar sofrido e triste.
Ou uma tarefa árdua sobre humana.
De te amar assim, calmamente e em segredo…
E revelar aqui nestas folhas, esse segredo
Porque se esgotaram as palavras na garganta
E o sacrifício de escrever que eu sinto
Dói menos que esta sensação de ausência
Ou a profundidade azul do silêncio no fundo do mar
Que é para onde eu vou um dia se calhar
Porque continuo a querer-te e desejar-te
Um amor proibido, mas em segredo…
João marinheiro ausente
Fotografia de Barcoantigo

sexta-feira, março 17, 2006

A MINHA PRAIA PREDILECTA


Vieste ter comigo à minha praia
Deste-me um beijo
Trouxeste contigo o sorriso e o sol
Vi-te chegar
Caminhavas sobre a areia húmida pela linha da maré
Deixando marcas que o mar apaga
Vi-te uma primeira vês entre o horizonte e o céu
Ao longe.
Sabia que eras tu
O coração nunca se engana
Fiquei numa espera ansiosa sentado no meu rochedo predilecto
Onde descanso e deixo o pensamento livre, partilhar as viagens do mar
Vieste ter comigo
À minha praia do Cabo do Mundo.
João marinheiro ausente
Fotografia de Barcoantigo

MARESIAS...















Estou aqui sentado na varanda
O mar azul Atlântico em frente
Todo em sons de espuma e ondas
Que se esbatem contra as rochas…
O sol, pouco, vai brilhando por entre as nuvens
Da chuva que se avizinha breve
Um bando de pombos voa em círculos
E o vento fresco que sopra
Recorda-me que a primavera já chegou
Então penso em ti…
Quantas vezes nas minhas vezes de desânimo, digo
Que depois dos dias cíclicos a primavera chega
Não sei porque continuo teimando
Ou porque os dias continuam cíclicos
Afinal a primavera já chegou. Não tenho de me preocupar…
Mas os dias continuam teimosamente cíclicos
Ora claros, ora cinzentos
E eu continuo a pensar em ti
A notar a tua ausência
Embora agora, sejam minhas mãos que buscam as tuas
Vencida que foi a timidez inicial
E meus lábios se perdem de encontro aos teus
E te sinta suspirar ora triste ora contente…
Numa despedida dolorosamente anunciada…
A maré sobe
Continuo sentado nesta varanda
Abandono-me à contemplação do nada ou do vazio
Num exercício mental existencial e cansativo
Porque continuo a desejar-te e a querer-te
E a sentir tuas mãos que encontram as minhas e as aquecem
Tão frias nos últimos tempos…
Não sei o que escuto, não sei o que sinto ou falo
Recordo só: -“ Estes lábios não são meus! …”
Recordo só: -“ Esquece-me!...”
A maré sobe, quase praia mar…
As ondas grandes agora, libertas, libertam a energia na areia
E eu aqui prisioneiro desta ausência que me leva para ti
Não posso libertar-me, ou esquecer-te ou deixar
Que meus lábios não possam ser teus
Porque te quero e desejo por inteiro
Tanto nos dias claros como nos dias cinzentos
Ou a maré-cheia ou a maré vazia
Ou o mar calmo ou revoltado
E o vento sopre brisa ou temporal
Ou exista o perigo da chuva cair aqui ou ali
Porque a violência surge de surpresa sempre
Na face de uma criança maltratada
Ou no bando dos pombos que voavam
Dizimados pelo tiro do caçador…
E em mim quando acordo, ou me levanto e viro costas
Abandonando a varanda onde me encontro
Zangado com o mar azul Atlântico, o vento, ou a chuva anunciada
Ou porque continuo a sentir-me só
Ou porque agora sei… Te continuas a sentir só!
Ou porque quando nos beijamos
Não saciamos a vontade, o desejo, ou o amor…
Ou porque por ironia do destino
Ou consequência das coisas naturais…
Enquanto escrevo, caem bombas no Iraque!
E na televisão passam rostos de crianças feridas, chorando
E soldados mortos em fardas dispersos…
Ou porque tudo tem forçosamente que ser assim
Também eu tive uma farda e uma guerra pessoal dentro da guerra
Ou porque esta guerra confunde o amor e me confunde a mim
Ou porque a que travo em mim neste momento
Ciclicamente vai confundindo o amor que sinto
E não demonstro
João marinheiro ausente
Fotografia de Barcoantigo

AS PALAVRAS QUE BROTAM NOS LÁBIOS...















Nos teus lábios que desejo
São sussurros de sons aos meus ouvidos
E eu preciso desesperadamente de te ouvir
Pois só o teu rir acalma e me dá paz, a paz que busco
No teu olhar, nos teus lábios quentes
Quando dizes que me amas
Esses são os sons que quero só ouvir hoje.
Do resto estou virando costas, no limite das forças
Sabes, estou cansado de ruídos
Dos ruídos fabris, dos ruídos da telefonia, dos ruídos da rua em frente
Principalmente dos ruídos em casa. Nesta casa imensa e fria
Fico sem um sítio para o meu silêncio
Que é como gosto de estar, de olhos semicerrados e em silêncio
Imaginando-te. Ou não pensando em nada, despido de ideias. Abandonado
Como um televisor apagado, ali, ocupando um espaço
Que neste dia de hoje
Estou mal disposto, ou constipado
E as palavras que te queria dizer não saem
Por isso cerro os olhos e imagino-te aqui
Sinto o teu cheiro, o calor que emanas
O arfar de teu peito excitada
Ou as palavras de amor em gemidos que me dizes baixinho
Enquanto teus braços me envolvem e apertam
Para que eu não fuja de novo do sonho
Ou vire costas a este amor tardio e grande
Que é como o sentimos, grande de amor e grande de vontades
Feito de tantas vontades reprimidas e imaginadas
Hoje postas em prática a medo ou nem isso, mas em sobressalto
Que é como fica meu coração quando faço amor contigo
Ou quando quero e adivinhas meus pensamentos
E te ofereces assim, sempre como da primeira vez
Em que te amei e me amaste
E as estrelas viram como cúmplices, o nosso acto
De amor ou de desejo reprimido
Tantas vezes sussurrado aos meus ouvidos
Em ruídos de sons que quero ouvir
Porque são a tua voz, que amo.
Como te amo a ti, assim simples e em poesia
Que de outra forma não podia ser
O amor simples e verdadeiro é em poesia
Que é como cantam os poetas ou os músicos
E a tua voz que escuto é a mais bela canção de amor
Porque a letra escrita diz que me amas
De corpo inteiro e alma. Que as nossas almas já se encontraram
Um dia nos dias da eternidade da vida
E hoje voltamos a sermos só um quando fazemos amor
Ou nos beijamos
Ou quando minhas mãos acariciam teu corpo
Sinto que o intervalo da vida que me acompanhava
Se desfez novamente. Tu estás aqui!
E eu quero-te. E eu amo-te e quero-te de novo!
Uma e outra vez. Uma e outra vez!
Quero-te e meu olhar diz tudo. Que se um coração ama
Os olhos lêem e falam o amor todo e em silêncio
Que é como eu gosto de estar contigo assim diariamente
Olhando e em silêncio
Escutando os teus sussurros no meu ouvido
Sentindo a pele arrepiada de prazer
Pelo prazer que é sentir teus lábios beijando
Ou sentir-te ai desse lado acompanhando-me

João marinheiro ausente
Fotografia de Barcoantigo

quinta-feira, março 16, 2006

LIBERTAÇÃO



Liberto-me
Dispo-me das vestes negras
Já fiz o luto pesado em silêncio
O luto da tua ausência da dor profunda
Da tua ausência.
O amor eterno
O luto da ausência do teu amor por mim e do meu por ti
Liberto-me
Liberto-me,
Perdoa-me a libertação…
Deixo-me levar por um novo rumo
Pelos ventos que sopram de oeste
Que são fortes, frios húmidos,
É preciso aprender de novo
A gostar deles estes novos ventos
Ventos do mar profundo
Mar adentro! Mar adentro.
Liberto-me!

Vem!

“Despe-te de saudades entrega-te em desejo”
Viajas até à curva do tempo”
Olhas para trás, o caminho percorrido.
Tolda-se o olhar, as lágrimas assumidas já não sabem a sal
São água pura cristalina, água fonte de vida a renascer.
Renasces em cada gota de orvalho.
Renasces em cada floco de neve volteando nos céus.
Vestes de branco ainda frio.
Deixa que aqueça esse corpo
E o branco se transforma em luz
Despe-te de saudades…

Dedicado à Lua, com todo o carinho

João marinheiro ausente 12/03/06
Fotografia de Barcoantigo

IGNORÂNCIA...







Eles não sabem lua
Eles não sabem
Que o amor existe para lá do físico
Para lá do acto puro e simples
Eles não sabem lua…

Eles não sabem
Que o amor é vida
Para lá da eternidade
Ou antes da vida mesmo
Eles não sabem.

Eles não sabem Lua
Que andamos de roda um do outro como crianças
Logo,
Somos puros!
Eles não sabem isso Lua.

Eles não sabem como falamos
Porque falamos.
O que falamos.
Não sabem que as palavras deixam de ter som
Nós as sentimos no pensamento Lua
Eles não sabem

Eles não sabem que o amor existe
Num gesto
Num olhar
Um trocar de sorrisos
Ou uma festa na face duma criança que chora.

Eles não sabem
Que o amor perdura para além da vida
Para além da morte
Para além da eternidade
Para além da saudade
Para além da distancia
Para além da separação
Ou das pontes que nos separam…
Eles não sabem Lua

Eles não sabem do tempo que nós sabemos
O nosso tempo, sem tempo, horas, minutos ou segundos
Eles não sabem Lua.
Que o nosso tempo é de outros tempos
Tempo Lunar…
Eles não sabem…

Eles não sabem Lua
Como sarar a ausência
O medo
O frio
Como proteger do vento gélido glaciar que invade a alma
Eles não sabem Lua
Que temos uma alma
Imortal
Para lá do tempo
Das ciências exactas
Ou dos números primos.
Eles não sabem…

Eles não sabem que te amo hoje
Porque te amei ontem
Ante ontem
Antes de ante ontem
Antes de antes de ante ontem
Desde o principio.
Eles não sabem Lua
E eu não lhes digo…

Eles não sabem
Não lhes digo que te amo amanhã.
Depois de amanhã.
Depois de depois de amanhã.
Depois de depois de depois de amanhã…
Eles não sabem…

Eles não sabem Lua
Que o nosso amor tem cor
Colorido de branco
E é luz
Que imana do sol como astro.
Eles não sabem Lua
Porque são cegos à luz…
Eles não sabem…

Não sabem que andamos de roda um do outro
Em curvas elípticas exactas
Que são as curvas da vida
Em linhas paralelas.
Nunca se tocam.
Eles não sabem do nosso dilema Lua…
Este é um segredo por revelar…
Como são os segredos das montanhas lunares
Ou as fossas abissais do mar profundo.
Eles não sabem lua

Eles não sabem nem sonham
Porque não sabem sonhar
Porque não sabem amar
Porque não sabem ser puros
Porque não sabem ser crianças
Porque não sabem escutar
O brilho da Lua
Ou o murmúrio do Mar.

Eles não sabem
Não!
Definitivamente eles não sabem
Que o Mar e a Lua
A Lua e o Mar
São eternos amantes…
Eles não sabem Lua
E eu não lhes quero dizer…


João marinheiro ausente 15/03/06

Fotografia de Barcoantigo

PENSO QUE SERÁ APENAS CANSAÇO...


Vens altas horas da noite
Pelo silêncio escuro
Afastas as roupas que me aquecem
Deitas-te ao meu lado, sinto o calor do teu corpo
A tua mão gulosa no meu sexo
Excita-me. Não sei.
Viro-me, procuro-te, tacteio a medo nos lençóis
Não te encontro.
Abro os olhos, acendo a luz
Procuro-te com o olhar
Ia jurar que estavas aqui comigo
Não sei?
Não sei?
Tento adormecer de novo
Penso que será apenas cansaço…

João marinheiro ausente 16/03/06
Foto gentilmente cedida por Gena

quarta-feira, março 15, 2006

PERGUNTA




Insistes Lua?
Para que eu desfaleça
E me perca num naufrágio imenso
Me renda vencido
E
Confesse o meu amor por ti?

Seduzes-me lua!
A revelar-me em cada gesto, em cada acto
Num acto de contrição assumido.
Um cântico lúbregue que ressoa.
Escuto o eco entre os muros deste castelo prisão

Encantas-me lua!
E eu ando como alma vagueando só
Por entre as ameias e as torres
Deste castelo de fadas…
Escuto o teu canto como ninfa
Mas não te encontro

Quem és Lua?
Quem és?

Tu sabes Lua
Tu sabes…
Um dia vou amar-te perdidamente
Um dia!
Viram as lágrimas que escorrem no olhar
Como os rios que se juntam no mar
Como as pétalas das rosas sem vida caídas
Ou as mágoas doridas no peito
Um dia!

João marinheiro ausente 14/03/6
Fotografia gentilmente cedida por Tess

terça-feira, março 14, 2006

CONTIGO



Contigo dou-me conta, voamos para uma 8ª dimensão
Que não sei se existe.
Fujo à tentação de separar as distancias que nos unem
Porque não sei como fazer, ou o caminho
Mais curto para me encontrar olhos nos olhos
Sentir teus dedos nervosos
Afagar teus cabelos
Segurar teu rosto nas minhas mãos
Chegar-te a mim em linha recta.
Nesse acto,
Inevitavelmente.
Nossos lábios encontram-se
As nossas bocas esmagam-se num beijo sôfrego, violento.
Uma explosão de luz.
Sentimento.
Chama-lhe amor se quiseres…
Eu não sei que lhe chame…


João marinheiro ausente 13/03/06

MEDO


Hoje sinto-me a atravessar um desfiladeiro imenso
E vou a medo
Como num trapézio sem rede por baixo
Hoje entendo.
Hoje sou eu despido de máscaras
Arrumei o poeta, enterrei o poeta, esqueci o poeta
Reneguei o homem.
Sou só o sonho
O pesadelo
Ou o inicio do fim
Vencida que foi a timidez inicial.
Estou no meio do caminho e é sempre a descer
Sem volta, retorno ou tentativa
Hoje sou eu
Vou só
Negro.
Nem o sol nem a lua me iluminam, seja dia ou noite
Liberto-me de ti
Do luto
Das vestes negras
Hoje vou só
E rasgo a pele de encontro ás rochas frias mas não me importo
Que o sangue brote quente e queime.
Vou a medo
Já não escuto o poeta que me confunde
Já não acredito na palavra
Porque perdi a candura da inocência
E depois
Já não mais!
Nenhuma palavra é inocente!!!
Tremo por dentro
Em arrepios descontrolados
Convulsivamente, sufoco, asfixio, vomito.
Morro! Envenenado pelo amor
Não sei?
Tremo
Gelo
Suor frio
Cheiro de morgue
Vou no precipício
A medo.

João marinheiro ausente 14/03/06

domingo, março 12, 2006

APRENDI A LER NAS ESTRELAS...


Aprendi a ler nas estrelas
A descortinar o rumo na escuridão total
Encontro o meu norte
Observo a estrela polar.
Espero que tu, Lua, te desnudes das nuvens em noite de lua cheia.
É nesses momentos que me junto a ti.
Em murmúrios,
Sussurros da brisa nas velas deste velho barco.
Não sei o que te diz o vento ao ouvido
Vou concentrado no leme, quero chegar a bom porto.
És prata Lua, e fazes brilhar os golfinhos libertos aos saltos à proa
São eles que me ensinam o caminho Lua quando não te encontro
Ou,
Distraído,
Me perco de ti.
São eles Lua que levam este velho barco,
Nas noites de calmaria, empurram-me no seu vogar…
Tu sabes Lua. Tu vês.
Um barcoantigo.
Entrego-me ao silêncio perfumado deste oceano imenso, vens comigo
Vamos sós, eu, tu e o vento que nos transporta, enfuna as velas de algodão branco.
Aprendi a ler nas estrelas…
Aprendi a ler-te Lua
Nas tuas quatro fases, gosto de ti minguante, crescente, nova ou cheia.
Gosto!
Gosto quando és crescente e surges plena, cheia, lua completa. Nova!
Aurora boreal lindíssima que só meus olhos contemplam
Porque só eu, velho lobo-do-mar
Que possuo todo o tempo do mundo e toda a vida para alem do horizonte imaginário
Sei ver, ou olhar-te como tu te revelas Lua
Nua. Diáfana. Transparente perante meus olhos cansados.
Aprendi a ler nas estrelas
Distinguir o Zénite do Nadir
Traçar as coordenadas, medir as distancias, altitudes e longitudes
Transformar graus em minutos, e os minutos em milhas
E as milhas em distancias e as distâncias em tempos
Os tempos que faltam para chegar Lua
Porque os que se avizinham nem sei como são.
Espero que o vento não amaine
Não afrouxem os cabos que prendem as velas que o vento enfuna
E me fazem andar Lua.
Me fazem sonhar Lua
Porque sei ler nas estrelas
Porque sou homem do mar Lua
Um marinheiro ausente quase sempre em viagem.
Viajo por ti Lua, agora
Os teus mares desertos, os teus vales, as crateras que vejo
E pensava em menino, serem teus olhos Lua…
Viajo por dentro de ti.
Sinto o ribombar das lágrimas como pingas de sangue
Que ecoam, que rangem
Como rangem as tábuas deste casco de navio velho de encontros ao mar
Sinto as tuas saudades Lua
Sinto os teus refúgios da escrita Lua
Tens uma boa escrita…
E sinto a ausência que sentes Lua
Porque durante tempos foi a minha ausência
De que guardo a sete chaves num lugar do cérebro só meu
As memórias, que me impelem a escrever
E
A saber ler-te, Lua
Viajo por dentro de ti.
Hoje aportei ao lado esquerdo do coração
Sinto-o vivo Lua, pulsante.
Pleno.
Gosto do que vejo Lua
Uma cirurgia estética perfeita
Não encontro as cicatrizes Lua, e isso é bom não se vêem a olho nu
Só os iluminados as vêem, tu sabes, falei nisso
Por isso nos queremos tanto
O Mar e a Lua…
Sinto-te viva Lua
Aprendi a ler nas estrelas…

João marinheiro ausente 12/03/06

sábado, março 11, 2006

DEDICATÓRIA



















Museu Municipal, 7 de Outubro de 1999

Querido irmão:

Hoje é sem duvida uma data feliz. Faz anos que nasceste. Para a vida. Para a luz.
Nós quando falamos, escrevemos ou pensamos em”luz” temos entre nós a cumplicidade que só os iluminados podem partilhar. Ou sentir.
No dia 1 de Julho deste ano nós sentimos a “luz” na pele. Não quer dizer que fosse uma partida voluntariamente feliz. Somos egoístas por natureza, logo tivemos a maior relutância em aceitar essa partilha. Afinal, humanamente falando, ela, a mãe, era nossa. Partilhá-la com a “luz” foi, para mim pessoalmente, um esforço de titãs. Acredito que para ti também. Talvez por isso, porque ambos aprendemos esta nova forma de partilha, afinal a renunciarmos aquilo que mais amamos em nome desse mesmo amor, eu tenha um carinho especial por ti. Quem sabe as nossas almas antigas sejam desde sempre irmãs…
Por tudo isto, hoje, no teu dia de aniversário pensei que este livro sobre “Os segredos da censura” te iria agradar. A censura ou o outro lado da liberdade de expressão e da renuncia de sentir numa época em que a mediocridade dos homens imperava mas onde sempre houve alguém que teimosamente erguia a sua voz em nome dessa mesma humanidade amordaçada.
É um livro ligeiro em jeito de documento para quem quiser construir com ele uma nova historia da nossa história. Fala dos telegramas e dos telefonemas entre os censores e o Jornal de Noticias, entre 1967-1974, ordens para cortar ou demorar noticias, partes de texto ou apenas ideias em forma de títulos que não podiam entrar a publico em letras gordas…Coisas de um tempo em que o sistema funcionava entre incertezas, traições e medos. Coisas que depois de lidas nos parecem hoje ridículas e insignificantes, mas que então a ideologia espartilhava ao milímetro. Coisas de um país devassado 24 sobre 24 horas por telegramas e telefonemas confidenciais a moldar o pensamento dos que ainda teimavam em pensar e sentir. E isto de pensar, sentir, saber sentir, é uma coisa que ainda só alguns de nós, os que teimam em erguer a voz, os “iluminados,” sabem fazer.

Por tudo isto espero que neste dia tão cheio de sentimentos a vogar dentro de ti como folhas soltas de um livro aberto ao vento, encontres um tempinho para pensares e sentires a luz em ti.
Se este livro servir esse propósito então tanto melhor.

Da tua Irmã Ivone

p.s.
O César Príncipe é actualmente professor e Redactor Principal do Jornal de Noticias onde desde muito jovem trabalha. Na véspera de Abril numa apresentação pública do seu trabalho na Biblioteca Municipal dedicou-te a meu pedido estes” Segredos que revelam o que os censores quiseram ocultar”.
Fica com os anjos.

MÃE



















Mãe
Desde que partiste nunca mais falei contigo,
Ou me sentei no teu colo e abracei teu pescoço
Ou te dei um beijo, e tu com o teu olhar perspicaz de mãe
Me dizias, que se passa meu filho,
E eu desabafava contigo as minhas incertezas e duvidas…
Ou te pedia um conselho. Sábio de mãe…
E tu, com o amor espalhado no rosto e no teu sorriso que recordo
Me falavas e aconselhavas com sabedoria e certeza
A certeza que só uma mãe sente
Quando me dizias: -Filhote que se passa?
E eu desabafava meus segredos contigo…

Sabes Mãe. Já passaram três anos que partiste
E eu, só agora falo de novo contigo
Ou só agora ganhei coragem…
E as lágrimas teimam em brotar nos meus olhos…
E sabes, no dia em que partiste…
Estavas longe de mim, no hospital
Mas esse dia, eu o senti
Doloroso e longo.
Dolorosamente sentia que ias embora em silêncio. Mãe.
Lembro. Não posso deixar de lembrar…
Sabias que ias embora
Tu me disseste bem cá dentro, falaste-me ao coração
Como dizem e falam as pessoas iluminadas por Deus. O nosso Deus.
E tu és iluminada por Deus, o mesmo Deus que tenho por companheiro nas horas más, E principalmente nas horas boas…

Sabes mãe, enquanto escrevo. Eu confesso
Custa escrever. Muito mãe. Mas eu preciso de falar contigo.
Sabes…
Rolam as lágrimas no meu rosto
Porque quando partiste elas secaram, e eu compreendo porque partiste.
Mas hoje deixa que rolem no meu rosto
Porque preciso de me reencontrar desta mágoa que sinto.
Da tua ausência que noto nas horas em que estou só
E me dou conta que nada tenho de meu
Ou alguém que me apoie e compreenda. Como tu mãe…
Por isso hoje deixa que te escreva ou te fale ao espírito, ou chore…
Porque estou confuso e só de novo.
Sem o meu espaço onde me reencontre em silêncio, e me anime.
Que é como gosto de estar. Em silêncio, ganhando forças…
Esteja triste ou feliz, mas em silêncio…
E assim desta forma, deixando que os dias rolem
Ciclicamente, como costumo dizer
Vou fechando as portas ou as janelas que deixavam o sol entrar
Iluminando a vida e o pensamento.
Sabes Mãe. Hoje escrevo-te, e amanhã é Domingo de Páscoa.
Vou andar com a Crus e o Cristo.
Levar a Boa Nova ao lar de cada um. Do Cristo ressuscitado.
Mas sou eu que estou moribundo…
Desta vida, de mim, ou cansado…
Das incertezas que me questionam
Ou do amor que finda dia após dia,
Ou porque eu não me sinto em casa.
Porque não tenho casa, ou raízes que me prendam à terra
A esta terra que adoptei como minha, mas ilegítima…
Porque tu sabes,
Que esta não é a minha terra, a minha casa, ou o meu mundo.
Porque eu não sou deste mundo assim, de violências e guerras…
Porque me sinto só permanentemente, e não amado
Ou o amor que quero, não é este assim convencional.
Mas o descrito pelos poetas e os cantores…
E porque tenho saudades tuas, de me chamares filhote…
Das tuas comidas, ou dos teus mimos …
Ou do teu colo e das tuas carícias…
E porque hoje me dou conta. Ou lembre
Que tanto ficou por partilhar e dizer, Mãe…
Ou porque ao falar me custa imenso. Hoje.
Ou porque tenho saudade…

João marinheiro ausente Reencontros 19/03/03

sexta-feira, março 10, 2006

SINTO UM INTERVALO NA VIDA













Sinto um intervalo na vida
Ou já não ando tão triste?
Ou então se calhar, o amor que busco
Me encontrou. De surpresa. Surpreendentemente ousado e quente.
Ou a inspiração abandonou-me de novo
E o poeta que partilha comigo as palavras
Está mudo e quedo no momento.
Não sei. Mas também não quero saber.
Quero só amar-te
Sentir que me amas só de olhares para mim
Sentir que me desejas e queres
Da mesma forma que te quero e desejo
Em palavras e no olhar.
Que é assim que o amor se exprime nos corações que buscam
Ou nos corações que lêem e sentem os meus escritos.
Por isso partilho contigo os momentos livres
Por isso esqueço nos momentos livres, o conflito que travo
Porque te quero e desejo uma e outra vez
Porque gosto de beijar teus seios
Porque gosto de acariciar teu rosto
Porque gosto de perder minhas mãos em teus cabelos
E porque gosto quando te chegas a mim e me ofereces os lábios
Que beijo com ternura como uma primeira vez. Sempre.
E porque gosto de te sentir quente, vibrante. Querida.
Que é como te imagino, o meu amor.
Tardio ou talvez não. Que o amor não tem idade.
Proibido ou talvez não. Que o sentimento é livre.

João marinheiro ausente 14/04/03

DEMORAS A CHEGAR…

Não sei se queres uma conquista
Ou represento uma noite mágica…
Chego e parto assim com o coração cheio de amor
Mas incompleto. Tanto na vinda como na ida
Porque sou assim espécie em bruto de amante ou amado
E hoje estou aqui ao sol…
Retemperando as forças ou pensando
Em ti e como te desejo, ou te amo, ou sinto a tua falta.
Do teu olhar. Do perfume que emana de teu corpo.
Espero que venhas. Espero e olho o mar…
Espero que venhas com o vento do norte
E o som dos grilos cantando
Ou o perfume das flores silvestres nos campos em odores múltiplos.

Fecho os olhos. Medito, penso. Penso em ti! Escuto a tua musica…
O sol quente doira meu corpo, deixo-me estar assim…Quieto.
Demoras a chegar. Demoras e não sei se vens.

Não sei se me queres
Ou isso não é importante.
Queres porque queres, e isso para ti basta.
E eu assim impotente na duvida,
Não sei se ame na partida ou ame na vinda
Ou seja uma noite ou uma conquista ou as duas coisas…
Ou os dois ficamos rendidos ao desejo pelo olhar
E os nossos corpos se excitam quando nos beijamos
E te sinto tremer assim de mansinho levemente…
Como, levemente me roubas um beijo,
E eu o deixo ir por entre os lábios. Então sorrio e quero mais.
Não sei se me queres…
Mas continuo aqui, neste lugar esperando e desejando que venhas.
Demoras a chegar. Demoras e não sei se vens…

João marinheiro ausente Praia de Fornelos, 11/05/03

quinta-feira, março 09, 2006

PENSAMENTOS...
















Hoje acordei cansado. Que se passa comigo?
Ando confuso, numa mistura de homem e de poeta ou uma dualidade do sentir?
Não sei. Já não sei nada de nada.
Vieste até mim, ou eu fui em tua busca...
E interrogo, que te podia oferecer?
Além das palavras do poeta que coabita em mim.
Nada. Porque não existimos para lá das palavras
E,
Nenhuma palavra é inocente. Sou repetitivo...
Revelas-te no que escreves,
E eu, distraido ou propositado, faço de conta que não leio
Não sinto as tuas palavras como lamentos
Que são gritos dum coração magoado.
E eu, a minha falta de jeito de poeta
Que te ofereci?
Um punhado de palavras que ferem, que fazem sonhar, que te levam
Porque são os meus sonhos, porque tambem quero ir...
Mas não vou
Nunca vou.
Coabito no corpo do homem, preso da sua vontade.
Dos seus compromissos assumidos.
Vou partir de novo, aproxima-se um solestício.
O poeta vai agrilhoado mesmo contra vontade.
Um dia retorna.
As palavras, mesmo as que perderam a candura da inocência
Ficam contigo.
"AS PALAVRAS QUE NUNCA TE DIREI"
Que partilhei
São o que resta de mim.
Um ajuntamento de saudade, de sonho, amor e dor.
Guarda-as junto do coração.
Na memoria dos tempos
continuamos de roda um do outro...

João marinheiro ausente 09/03/06

segunda-feira, março 06, 2006

AMOR















Amar é dar. O mal entendido é haver gente que julga dar e que se limita a receber. Depois admiram-se por a coisa não funcionar e é esse o falhanço que os leva a odiar e a matar.

Excerto do livro «Léo Ferre» Edição retrospectiva do concerto no Coliseu de Lisboa em Abril de 1982

Edições Ulmeiro Março de 1984

IGUAIS















Agora todos somos iguais.
Agora não nos conhecemos, finalmente.
Agora não choramos, chovemos.
Agora estamos vivos porque morremos

As borboletas de vidro que engolimos,
Flores de lama que cortam dentro do nosso estômago,
Lágrimas na garganta engolidas a seco,
Escadarias de gargalhadas sangrentas e partidas,
O silencio como uma coisa sem importância,
Respiramos nevoeiro enquanto aprendemos a esperar.

E é no meio de todo este sangue,
Dos destroços que flutuam nas orbitas à minha volta
Que penso o quanto te amo mesmo que nunca tenha sabido amar-te.



Poema de Fernando Ribeiro do livro: «As feridas Essenciais»

Colecção Biblioteca Sonora

Edição da Quasi Edições Junho de 2004

DESAMORES VII















Amo-te.
Normalmente, os homens dizem “amo-te” no fim.
No fim de quê?
No fim do sexo.
E quem te disse a ti que quero o teu sexo?
E não queres?
Quero.
Então porque mentes?
Não minto.
Não mentes ou não queres confessar que queres o meu sexo?
Não te quero começar a perder.
E quando é que isso acontecerá?
Quando julgares que amar-te e querer o teu sexo é a mesma coisa.
E não é?
Não.
Porquê?
Porque te amei antes de saber que tinhas sexo.

Poema de João Lopes
Revista Egoísta nº15 Maio 2003 edição do Casino Estoril

ONTEMPTUS MORTIS*















Um homem.
Cansado de procurar.
Num lugar.
No tempo.
O desprezo. A loucura. O ódio na terra.
O silêncio do mar
Os segredos de amar.

O ódio
Encontrou através do olhar. Parado.
Num lugar.
Sem se estar
Durante o dia e a noite. Sem poder-lhe tocar
Nos horizontes do mar.

A morte
A passagem para outro olhar.
Num outro lugar.
Tristezas de quem quer encontrar
O mesmo olhar no mesmo lugar.

Segredos de quem quer encantar.
Mas não pode explicar
Mistério
Vazio.
Um desprezo enorme de não poder regressar
De não poder voltar a tocar.

Uma mulher.
Paixão. Sem corpo.
Caixão. Sem olhar.
Maldição.
Sem nada para dar.
Sem nada para ver.
Sem nada para amar.
Talvez.
Nos horizontes do mar.



* “Desprezo de morte”

Poema de Rodrigo Leão Maio de 1995

Revista Egoísta, Maio de 2003
Edição Casino Estoril

sexta-feira, março 03, 2006

MARGINAL DE MÃOS DADAS















Marginal de mãos dadas,
Um sorriso e eu acorrentados,
Na liberdade do espaço, dum mundo oco,
Arrastando correntes,
Remando contra a maré.
Vazia...
Marginal, o amor ou o ódio?
Ou os dois juntos e eu!
E um sorriso,
Ao sol, que acorda de novo
A nascente.

João marinheiro ausente 18/09/82

quarta-feira, março 01, 2006

PELA MANHÃ















Um raio de sol inunda a cama
Os pássaros cantam ao desafio melodias
Olhei para ti
Estavas nua
Dormindo
Nua e bela
Não resisti
Poisei meus lábios em teus seios quentes
Sorriste
Tuas mãos envolveram-me
Poisei a cabeça em teu peito
Sentia teu coração dizendo compassado
Amo-te! Amo-te! Amo-te!
Sorri
Afaguei teus cabelos
Beijei teus olhos
Acordaste sorrindo
E o teu sorriso é a luz que me dá força

Poesia de barcoantigo 02/12/2002