sexta-feira, março 17, 2006

MARESIAS...















Estou aqui sentado na varanda
O mar azul Atlântico em frente
Todo em sons de espuma e ondas
Que se esbatem contra as rochas…
O sol, pouco, vai brilhando por entre as nuvens
Da chuva que se avizinha breve
Um bando de pombos voa em círculos
E o vento fresco que sopra
Recorda-me que a primavera já chegou
Então penso em ti…
Quantas vezes nas minhas vezes de desânimo, digo
Que depois dos dias cíclicos a primavera chega
Não sei porque continuo teimando
Ou porque os dias continuam cíclicos
Afinal a primavera já chegou. Não tenho de me preocupar…
Mas os dias continuam teimosamente cíclicos
Ora claros, ora cinzentos
E eu continuo a pensar em ti
A notar a tua ausência
Embora agora, sejam minhas mãos que buscam as tuas
Vencida que foi a timidez inicial
E meus lábios se perdem de encontro aos teus
E te sinta suspirar ora triste ora contente…
Numa despedida dolorosamente anunciada…
A maré sobe
Continuo sentado nesta varanda
Abandono-me à contemplação do nada ou do vazio
Num exercício mental existencial e cansativo
Porque continuo a desejar-te e a querer-te
E a sentir tuas mãos que encontram as minhas e as aquecem
Tão frias nos últimos tempos…
Não sei o que escuto, não sei o que sinto ou falo
Recordo só: -“ Estes lábios não são meus! …”
Recordo só: -“ Esquece-me!...”
A maré sobe, quase praia mar…
As ondas grandes agora, libertas, libertam a energia na areia
E eu aqui prisioneiro desta ausência que me leva para ti
Não posso libertar-me, ou esquecer-te ou deixar
Que meus lábios não possam ser teus
Porque te quero e desejo por inteiro
Tanto nos dias claros como nos dias cinzentos
Ou a maré-cheia ou a maré vazia
Ou o mar calmo ou revoltado
E o vento sopre brisa ou temporal
Ou exista o perigo da chuva cair aqui ou ali
Porque a violência surge de surpresa sempre
Na face de uma criança maltratada
Ou no bando dos pombos que voavam
Dizimados pelo tiro do caçador…
E em mim quando acordo, ou me levanto e viro costas
Abandonando a varanda onde me encontro
Zangado com o mar azul Atlântico, o vento, ou a chuva anunciada
Ou porque continuo a sentir-me só
Ou porque agora sei… Te continuas a sentir só!
Ou porque quando nos beijamos
Não saciamos a vontade, o desejo, ou o amor…
Ou porque por ironia do destino
Ou consequência das coisas naturais…
Enquanto escrevo, caem bombas no Iraque!
E na televisão passam rostos de crianças feridas, chorando
E soldados mortos em fardas dispersos…
Ou porque tudo tem forçosamente que ser assim
Também eu tive uma farda e uma guerra pessoal dentro da guerra
Ou porque esta guerra confunde o amor e me confunde a mim
Ou porque a que travo em mim neste momento
Ciclicamente vai confundindo o amor que sinto
E não demonstro
João marinheiro ausente
Fotografia de Barcoantigo

6 comentários:

Zeca disse...

Também eu contemplo o mar, dáme nostalgia e faz-me pensar, em tudo, na vida, no amor, no desejo, oiço o barulho das ondas ao longe, sinto a humidade da noite que teima em cair sobre a minha cabeça, também eu estou na varanda (e já é tarde para estas aventuras). Penso nela, nunca me sai do pensamento!!! Lindo texto, obrigado por o partilhares connosco.

Anónimo disse...

Vim agtadecer a visita ao meu Tejo e deparei-mr com as tuas palavras sentidas. Perdi-me na leitura. Amei.Vou voltar. bom fds

Anónimo disse...

No jeito gostoso de olhar,
teus lindos olhos encontrar,
descobre-se se estamos a amar...
Nos olhamos e...
O olhar fica meloso,
assim meio perdido,
diria... um tanto dengoso...
E de um jeitinho tão gostoso...
Fica perdido no espaço,
flutuando, flutuando,
com jeito de não sei o que faço...
Coração acelerando...
Olhar quase sedutor...
E docemente, suavemente,
despertando o sentido do amor...
Olhos nos olhos...

Anónimo disse...

O grande problema é que a vida passa e nós demasiado empenhados com o que se passa à nossa volta ... esquecemo-nos de ser felizes. João para que possamos tocar o céu temos que não ter medo de voar...Tu pagas caro o preço das vertigens. Por muito tempo que fiques na varanda com os olhos postos no mar, O passado não volta no embalo de uma onda João. Mas se perdes a capacidade de sonhar, tornas-te vazio.
Lembra-te....

Mesmo que certas coisas
nos pareçam inatingíveis...
não é motivo
para não querê-las.
Pq tristes são os caminhos,
se não existir
a mágica presença das estrelas!
Beijo eterno, meu querido.

Héctor Ojeda disse...

Obrigado por el comment en meu blog.
Que buena poesía, romántica y actual, me recordé de Florbella Espanca, la belleza del ser humano se plasma en una bella poesía y la estupidez de la guerra de Iraque es todo lo contrario, dejando a su paso una tragedia infinita para muchos inocentes. Un abrazo amigo portuguez.

Gláucia disse...

Talvez neste poema eu tenha encontrado alguns dos nossos pontos de contato. É fato: não há mar que os separe.