domingo, abril 09, 2006

O MUNDO FORA DE TEMPO...



Os dias estranhamente frios com a neve caindo
Bem no coração que bate apressado no peito
Porque te vi hoje
Neste Porto que percorro faz tempo em tua busca
Sinto que o coração se apressou teimoso batendo
Batendo forte, até não aguentar mais a dor, de te ver e não te escutar
Quis gritar
-Espera por mim!
Espera um pouco por mim
Mas o som não sai da garganta, abafado pelo pulsar do peito
Sinto-me sem forças e cansado.
Confesso que estou exausto de tanto percorrer as ruas deste Porto.
Tenho o olhar seco de contemplar as águas do Douro,
Esperando que tu, qual ninfa, possas vir caminhando imponente por sobre as águas
Nunca chegas!
Não posso chamar-te de meu amor!
E estou de novo só, com a minha eterna saudade
Do teu rir, do teu perfume, da tua companhia que me serena
Da tua presença que me completa
Sinto ao de leve nas entranhas
O frio da morte que se aproxima bem por dentro à mistura com a neve que cai
Tenho, já o sabes, o coração ferido
Uma ferida que sangra lentamente
Levando a saudade nas artérias e regressando nas veias.
Essa é a minha ruína ou perdição
Por isso hoje de novo estou aqui, expiando as culpas
Ou penitenciando-me da ausência que fui
E sou permanentemente, do tanto que te queria amar
Tanto por sentir
E porque te vi hoje, por instantes anónima na multidão neste Porto revisitado...
Caminhas sempre em passos curtos, nervosos
És saltitante como os pardais, apressada
Vais misturada com disfarces de Pais Natais e de espírito Natalício
Cheia de embrulhos, presentes de certeza, a partilhar
Nem me lembro já do natal confesso…
Não tenho por hábito presentes para trocar…
Sou um sem abrigo, anónimo de olhar baço
Não posso chamar-te de meu amor
Passaste de surpresa sem eu estar preparado para o reencontro
E eu fiquei assim
Uma dor no peito
Um nó na garganta
E no espanto, enquanto me recompunha, como surgiste desapareceste do sonho
Sim
Tens de ser um devaneio ou um sonho ingrato...
Quando acordei ao olhar em volta não te vi
Nem rasto de ti
Do teu perfume
Nem o som do teu riso ecoando nos vales
Profundos vales difíceis de transpor
Chamo por ti do alto da colina
Nem o eco me devolve, este mundo em mudança…
Por isso me ignoras
Tenho por ti um amor puro, saído de um romance clássico, ou de um drama
Espera por mim! -Espera!
Deixa que possa contemplar uma última vez teu olhar
E possa cerrar os olhos finalmente.
Desistindo!
Ou fechando as portas a ti, que continuas sonho e pesadelo
À mistura com a saudade e o desejo.
Vou solenemente devolver as palavras ao poeta meu amor
Não sei se é suicídio
Atirar-me do alto da ponte ao Douro numa noite de temporal e águas turbulentas
Deixar-me submergir de encontro ao fundo
Abraçar o lodo e as pedras e os godos
Permitir que os caranguejos me levem barra fora…
Um dia retorno.
Diferente.
Mais velho ...
Outros serão os tempos.
Outro o amor…
Porque este é um sacrifício permanente
O sacrifício da escrita…
O sacrifício da ausência
O sacrifício do delírio
O sacrifício do mundo em mudança climática…
Faz frio no meu coração
Tenho uma casa vazia de ti
E uma lareira apagada faz tanto tempo que já perdi a conta
Já não sei sentir o fumo da madeira a arder, o crepitar do fogo
As castanhas que assávamos em Novembro ao borralho
As histórias que ouvíamos contarem, noite dentro
E nos enchiam de medo e aventura enquanto o pão cozia no forno
Saboreávamos o bolo de sardinha e o vinho tinto
Assim retemperados, a fome saciada
Ternamente chegávamo-nos um ao outro abandonados no velho sofá
E então adormecíamos abraçados em silêncio
Este um outro tempo
Tempo do amor imaginado
Agora viro costas, deixo de escrever…
Já fiz a entrega das palavras ao poeta
Já te vi uma última vez!
Num flash, ou de esguelha. Não importa, pois não passas de imaginada
Aqui
Confinada às palavras escritas que são o que são!
Simples palavras escritas
O resto é saudade.
Ou o sentimento que escondo à flor da pele…
João marinheiro ausente

6 comentários:

Anónimo disse...

Olá... um texto comprido mas interessante... deixo um abraço...

Anónimo disse...

tu es maravilhoso de facto em tudo o que escreves...delicio me, os meus mais sinceros parabens e que realmente sejas muito feliz,devias pensar em escrever um livro ou editar memorias tuas...tens jeito..nao sei bem os criteros de um escritor ou poeta para o ser,qual das duas te inseres,mas pensa nisso...força...es maravilhoso na escrita...boa semana p ti

Anónimo disse...

esqueci de dizer:no comentario anterior,desculpa
http://quemestaai1.blogs.sapo.pt

Anónimo disse...

Estes teus 10 contos estão soberbos João...acho que já te tinha dito isto...pena que estejam chegando ao fim...como diz o comentário de cima, um livro com estes 10 contos seria maravilhoso...tem tudo para o sucesso. Gosto de ti, sabias?

pexeseco disse...

BOm Dia!Kamarada...
Ora cá estamos de Novo para mais uma semana de Martirio.
Abracos e boa semana!



E a proposito;muito Lindo...
Parabens!

isabel mendes ferreira disse...

....tão tão belo....