sábado, abril 01, 2006

EXISTE...



Um computador que me remexe o cérebro desmembrando em ti
As partes íntimas do ser
Existe a solidão
Composta de milhares de bites em pastas ou ficheiros anexos
Imensos equívocos em branco
Apagados
A reciclar posteriormente
Um poderoso anti vírus que te percorre
Corrige os erros
Repara os danos no disco duro
E irremediavelmente me apaga da tua memória
Dei-me conta que um computador me vasculhava o cérebro
E as passwords secretas
De acesso directo a ti, que esqueci faz tempo, por serem já inúteis
Porque me bloqueaste com o anti vírus da memória
A tua também se apagou
Estamos esparsos em pequenos pedaços de tempo
De memórias e de imensa saudade
A nostalgia eterna que me acompanha
Fragmentos fechados no espaço
As partes intimas do ser
Hoje autómato, percorro os mesmos lugares em tua busca
Nunca sei os endereços electrónicos onde te encontrar
Nunca estás do outro lado do monitor
E ele trémulo sem brilho ou vontade grava e apaga os milhares de bites
Não consigo dirigir-te palavra
Mas sonho contigo, porque ciclicamente uma janela abre-se na tela vazia
Deixo de me preocupar e penso que é defeito da máquina
Fecho a janela que trazia o frio gelado e me entorpecia os dedos
E escrevo-te uma carta de amor
Que guardo em ficheiro anexo para mais tarde matar saudades, ao reler
Imaginando que estás ai escutando
Enquanto música ecoa nas colunas e me distrai
Existe a solidão
E eu qual palhaço num circo imenso
Tento numa magia inútil
O equilíbrio mágico das palavras que nos separam
E elas, as palavras
Por ironia começam todas pela letra D:
Dor
Distância
Desamor
Desistência
Destino desencontrado…

Temos a plena consciência
Tu!
Não vales o esforço tremendo que faço diáriamente
Para que sejas num passe de mágica em equilíbrio precário o meu segredo
Confundimos o amor com sexo e a amizade com o amor
Assim confusos
Dispersos em conversas banais de final de tarde ou nem mesmo isso
Ficamos sem espaço para as palavras queridas
De olhos nos olhos
Faladas com o coração
E os sentidos apurados do sangue quente correndo no corpo
Os sentimentos são resumidos à ilusão do circo efémero da vida
A nossa vida
Um etéreo circo, Onde os trapezistas voam no espaço seguindo as palavras
Por entre aplausos
Em actos de amor seduzido mecanicamente
Os trapezistas voam sempre em directo, assumindo o acto, meu amor
O fazer amor contigo manhãzinha
Dar-te os bons dias com um beijo longo de língua
Ou trazer-te o café à cama
Onde tu
Mimada
Espalhas os cabelos por entre os lençóis
Não passam de números do circo virtual do qual fazemos parte
Ensaiados vezes sem conta para que saiam perfeitos
Voamos no trapézio sem rede meu amor
Quando caímos
Demoramos a retomar a consciência
Geralmente sobrevivemos à queda e somos então uns valentes vencedores
Assim
Deste modo doloroso
Caindo e levantando, crescemos aprendemos a lição
Tornamo-nos lutadores em competição
Deixamos de lado a amizade ou o amor, pois importa sobreviver
Somos os dois
Finalmente
Um imenso naufrágio sem mar salgado
As lágrimas resumidas à função inicial, humedecem a vista limpando o pó da íris
Não importa que o olhar brilhe, vermelho do sal
Ou as pálpebras fiquem cheias com a dor
As lágrimas meu amor
São água e cloreto de sódio.
Existe a solidão
E um computador
Onde escrevo e apago as palavras ternas, que te queria dizer ao ouvido
Assim construo o livro por escrever ou editar
Feito de folhas em branco e de espaços com milhares de bites inúteis
Onde confesso o meu amor por ti, repetitivo
Porque é assim desde os princípios dos tempos
Quando não existiam computadores, e se escreviam cartas à mão
Em papel pardo
E a pena manchava as palavras por excesso de tinta
Emoção, ou falta de jeito do escritor
Porque lhe tremiam as mãos de te imaginar
A tinta soltava-se da pena e assim caía
Como lágrimas azuis, na folha de papel pardo fazendo um quadro de contraste
Linhas cheias com letras em frases alinhadas
E borrões esparsos como pedras que bloqueiam e emperram o sentir.
Existe a solidão
E este computador onde te apago da memória em ficheiro anexo
Desmembrando as partes intimas do ser.
Assim és finalmente
O livro branco de mármore frio tumular onde escrevo no epitáfio

“Ao meu amor
Memoria e eterna saudade ”

…As lágrimas vão continuar água e cloreto de sódio…
Existe a imensidão...
João marinheiro ausente
Excerto de Dez contos, um livro escrito um dia...

12 comentários:

Anónimo disse...

que lindo, é maravilhoso o que li,
bom final de semana,
mereces ser feliz,
ainda se diz que o homem nao chora ou que haver sensibilidade faz com que um homem nao seja macho...um homem deve ser sensivel, so assim compreende a mulher e ele pp.
lindo, adorei o que escreveste
um bjo e excelente final de semana
http://quemestaai1.blogs.sapo.pt

Ze Ronda Pinturas disse...

Fico sem palavras ao ler o teu texto: Essa nostalgia esse hino á mulher amada. Parabens um abraço e bom fim de semana

claudia disse...

Encantador....bjs:))

Menina Marota disse...

Fantástico... ;)

caminante disse...

Marinero, he recalado, sin querer, en tu puerto. No por casualidad. Amo el mar y las puestas de sol en Camiña, y las rutas que abren las naves...
Me encanta tu presentación. Cierto, las palabras jamás son vanas: encienden ilusiones, comprometen vidas... o simplemente envenenan. Pienso que las tuyas siembran nuevas derrotas porque, marinero, llevas fuerte el timón.
Desde la frontera, un fortísimo abrazo. Y ánimo en esta nueva derrota en el mar globosférico.

Perdón: para los de tierra adentro DERROTA es la ruta que marcan las naves.

Anónimo disse...

Que lindo o teu amor, gostei da forma como construiste o texto, está de mestre... Um abraço.

Anónimo disse...

Bela história de amor, talvez como já não se constrói!?!

hala_kazam disse...

é uma pena as lágrimas acompanharem sempre as tuas palavras :(

*beijos*

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

..uma história de amor, com lágrimas...

isabel mendes ferreira disse...

a imensidão....






afinal do nunca ausente....gostei.muito!!!!

Anónimo disse...

È uma pena uma história de amor ter sempre momentos de sofrimento que acabam por nos marcar para toda a vida. Parece que o amor e as lágrimas caminham de mãos dadas, é o preço a pagar por ousarmos amar um dia. será que vale a pena?

Um abraço apertado
sandra

Anónimo disse...

Estou sem palavras, apenas "Existe", FANTÁSTICO! Não posso evitar em comentário, porque quem assim escreve e sente só pode existir! E ser... FANTÁSTICO!