quarta-feira, abril 26, 2006

AO SUL


A impetuosidade que reina aqui
Neste lugar onde me sento, ou principalmente em mim
Ou na preguiça do livro que leio
A nostalgia da musica que ouço
O coração que sinto fugindo do peito em tua busca
Ou a ausência forçada de te ter aqui. Como te queria aqui…
O apelo desesperado que faço!
Alguém que me escute! Alguém que me acuda!
A por cobro a esta impetuosidade que reina em mim
Nas teclas onde escrevo, ou no som da musica que escuto
Porque me quero ir embora.
Porque tenho de partir finalmente
Esta partida adiada, ontem, hoje, ou amanhã…
Porque o amanhã, são vinte e quatro horas adiante da angústia
E hoje sinto a angústia dolorosa da tua ausência…
Porque teimo em que existas
Teimo em que não sejas sonho, porque provei teus lábios…
Porque escutei teu riso, ou sinto ainda nos dias piores
O cheiro do teu perfume que me inebria…
E porque me perco, e falta a coragem para encontrar a saída
Ou o medo do mundo que me assusta
E me faz ficar assim, animal acossado
De sentimentos à flor da pele, ou nervoso em desassossego
Teimando sempre num ímpeto frenético
Como o salmão vencendo a corrente do rio
Em busca de águas límpidas ou tranquilas…
Não! Não posso fechar os olhos! E não quero!
Que vens de mansinho…
E dou por mim, estás aqui em silêncio, frágil e aqui!
E eu, sem te poder abraçar
E eu, sem te poder amar
E eu, sem que minhas mãos possam tocar em ti
Porque temos um oceano imenso que nos separa
E eu, outra vez, desorientado no dilema
Se abro os olhos e te perco de novo
Ou de olhos fechados fico, e não te vejo…
Porque teimo em que existas
Porque teimo
Em que ocupes o resto dos setenta por cento de água do meu corpo…
Porque teimo, e fico sem espaço
Para o resto do sentimento, ou do sentir, ou do amar
E ainda me dizes que um dia nos vamos rir…
Folheando ou lendo estas memórias na margem do nosso rio…
Que hoje, só eu partilho na angustia
Ou na tremura que sinto por dentro
Ou nas lágrimas que teimam em rolar nos olhos
Ou no respirar fundo, que repetidamente, tanto tenho feito nos últimos tempos
E ainda me dizes que um dia nos vamos rir!
Folheando ou lendo as nossas memórias, que afinal são só, as minha memórias
Porque te queres rir tu, das minhas memórias?
Gravadas em sentimento com um rio ao fundo. O nosso rio ao sul
Sinto que já não sou uma memória tua
Porque já não sei, de que maneira te posso querer
Ou sentir, ou amar outra vez, reinventando sempre um novo amor
O teu amor…
Para que me preencha os momentos da tua ausência
Porque confesso, não sei viver na ausência
Principalmente a tua ausência!
Porque sinto o coração num ímpeto
Sentindo que a vida ou o tempo
O nosso tempo, sem tempo ou espaço para namorar…
Está ficando mais débil
Como o volume de água
Que separa a fronteira entre margens de um rio, o nosso rio ao sul…
E assim eu, ébrio de ausências
Ébrio de silêncios, das palavras tuas que não escuto
Vou ficando sem força ou vontade
Deixando de novo, que os dias cíclicos, as semanas, os meses ou os anos…
Passem por mim, e eu, de costas voltadas não me dê conta, ou os ignore
Ou teime em fazer de conta…simplesmente
E me refugie noutros corpos, noutros braços, ou outros amores…
Que me magoam
E me dão aquela estranha sensação de ausência, ou de vazio
Porque eu quero só!
O teu amor!
Aqui, ou na violência do sonho, que me magoa por ser sonho!
Porque não quero saber das normas! Ou das regras! Ou das distâncias!
Quero o teu amor! Agora! Logo! Ou depois de amanhã…
Porque o coração ama sem distâncias ou ausências
E o pensamento vai, liberto, assim voando…De encontro a ti…
Porque teimas em ter as cortinas cerradas?
Porque não queres que te encontre?
Estou cansado de voar em pensamento. De encontro a ti. E estás fora. Sempre!
Porque vamos ter de continuar a trilhar a mesma rua em lados opostos?
Porque não dizes que me amas também!
Na minha imaginação, estás aqui! De novo! Sinto-te. E sinto o teu respirar tranquilo
Ainda há pouco afaguei teus cabelos
Senti teu corpo tremer de desejo…
Ainda há pouco chegamos a casa, cansados…
E eu sentei-me neste sofá, onde me encontro
Pus no gira-discos a musica que partilhamos e me cantavas ao ouvido
E preguiçosamente folheio um livro de poesia…
Nostálgico escuto a música
O coração alvoroçado
E tudo sinto andando de roda, não mais eu ou tu!
Eu que tenho estado ausente de mim
Ou de ti, ou do nosso amor
E adormeço, o livro poisado aberto nas pernas
A noite fria, porque o sinto por entre os dedos
O frio imenso da tua falta
E assim adormecido e frio, venço mais um dia…
Até que acorde de vez e em pleno
E tu que vigiaste o meu sono ou o meu descanso
Possas dar-me a mão e assim juntos
Atravessar o nosso rio para uma e outra margem
Naquele lugar mágico e ao sul...

João marinheiro ausente
Fotografia de Barcoantigo

14 comentários:

Anónimo disse...

"A tua ausência é.em cada momento, a tua ausência.
não esqueço que os teus lábios existem longe de mim,
aqui há casas vazias.há cidades desertas.há lugares.

mas eu lembro que o tempo é outra coisa,e tenho
tanta pena de perder um instante dos teus cabelos.

aqui não há palavras.há a tua ausência.há o medo sem os
teus lábios,sem os teus cabelos. fecho os olhos para te ver
e para não chorar."
(José Luis Peixoto)
.........................

dentro desta tanta saudade
que sentes...não poderia
deixar por ti outras palavras.

entrei assim e
nem bati...mas não resisti.
desculpa.

um abraço meu
marinheiro.

isabel mendes ferreira disse...

...e que bom que é chegar aqui. a este teu mar que tb é rio. onde me espraio. em leituras mil de mil maneiras possiveis.


__________________NUNCA FECHES ESTE PORTO.


beijo.

Anónimo disse...

ai,amigo(permite me e c respeito),parece q me estou a ver e sentir.
hoje tb me senti feliz,amada e sinto que foi reciproco.
ausencia,distancia,doi,angustia me tb,sofro,por mim,estava spre perto de quem amo,quero,estimo,gosto.
mas se ha amor,vai vencer e saber contornar estes obstaculos.tao longe,mas tao perto.é só querer e ter vontade.
um bjo mto doce e terno.
mas hoje...corando...foi bom...))
tive de comentar...há certos assuntos irresistiveis para serem evitados comentar.
http://quemestaai1.blogs.sapo.pt

claudia disse...

Concordo com a Mendes Ferreira é sempre gratificante ler-te:)

Beijos!

maresia disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
maresia disse...

lobodomar said...
Imagino...O unico cheiro q trago é o cheiro a maresias e ventos frios...


Li isto ali ao lado e vim cá dizer-te que sou a maresia... :)

isabel mendes ferreira disse...

ausente?



presente!!!!!!!



beijo.

maresia disse...

ao sul como ao norte, perde-te simplesmente na rosa dos muitos ventos

Anónimo disse...

"A noite parece um grito de lobo.
Delícia de perder-se na imagem pressentida.
Levantei-me...fui á procura de quem sou.
Peregrina,avancei em direcção àquele que dorme num país ao vento."

linda a tua passagem
por mim.obg Lobo da noite.
um beijo.

hala_kazam disse...

porque a memoria me recorda das noites em que te tive...das noites em que fui tua...
Sê fragil ao menos esta noite...deixa que seja eu a consolar-te..deixa as minhas te percorrerem...deixa-me abrir caminhos escondidos em ti...
fecha os olhos e sente-me...sente-me apenas a navegar em ti...


*beijos*

Anónimo disse...

"Obrigado por aportares ao meu porto de memórias e de sonhos. Ainda sonho, um dia deixo..."

...deixas de sonhar?
cansado?sei o que isso é...sei como isso nos faz descrentes.

"Não te importes por te tratarem por tu, o que são as pessoas resumidas aqui à virtualidade...
Somos o nada para lá do zero hidrográfico..."

...não me importa o TU.
até gosto na realidade.a razão foi outra e dirigida a quem tenta ser incomodativo.nunca dirigido a quem passa por mim com~interessantes intenções.são sempre bem recebidas todas as opiniões.contra ou a favor...mas que tenham um sentido...um construtivo sentido :)
As tuas vão ser sempre recebidas com todo o meu gosto.

Abraços
entre mares...
:)
espero saber-te menos saudoso.

Vanda disse...

às vezes é assim, os ventos trazem-nos dores de ausencia e perfumes que já não existem mais para nos inebriar...às vezes é assim...os mares trazem-nos musicas que nos fazem dançar a valsa da solidão...as vezes é assim, encontramos portos de abrigo, nas pedras das nossas memorias...nos molhes de outras memorias...

...e às vezes é assim, cruzam-se rotas no mesmo sentir...

Gostei de fumar o meu cigarro e beber o meu café sentada aqui contigo...

Van

tb disse...

Pego-te levemente nas asas e mostro-te o caminho das ondas, deste teu nosso mar, rio, onde gosto de vir perder-me, esquecer-me e achar-me em mil leituras das tuas águas

Anónimo disse...

...Possas dar-me a mão e assim juntos/Atravessar o nosso rio para uma e outra margem/ Naquele lugar mágico e ao sul....
Voltei para reler e retive as últimas palavras que tão bem sabes escrever.