
A impetuosidade que reina aqui
Neste lugar onde me sento, ou principalmente em mim
Ou na preguiça do livro que leio
A nostalgia da musica que ouço
O coração que sinto fugindo do peito em tua busca
Ou a ausência forçada de te ter aqui. Como te queria aqui…
O apelo desesperado que faço!
Alguém que me escute! Alguém que me acuda!
A por cobro a esta impetuosidade que reina em mim
Nas teclas onde escrevo, ou no som da musica que escuto
Porque me quero ir embora.
Porque tenho de partir finalmente
Esta partida adiada, ontem, hoje, ou amanhã…
Porque o amanhã, são vinte e quatro horas adiante da angústia
E hoje sinto a angústia dolorosa da tua ausência…
Porque teimo em que existas
Teimo em que não sejas sonho, porque provei teus lábios…
Porque escutei teu riso, ou sinto ainda nos dias piores
O cheiro do teu perfume que me inebria…
E porque me perco, e falta a coragem para encontrar a saída
Ou o medo do mundo que me assusta
E me faz ficar assim, animal acossado
De sentimentos à flor da pele, ou nervoso em desassossego
Teimando sempre num ímpeto frenético
Como o salmão vencendo a corrente do rio
Em busca de águas límpidas ou tranquilas…
Não! Não posso fechar os olhos! E não quero!
Que vens de mansinho…
E dou por mim, estás aqui em silêncio, frágil e aqui!
E eu, sem te poder abraçar
E eu, sem te poder amar
E eu, sem que minhas mãos possam tocar em ti
Porque temos um oceano imenso que nos separa
E eu, outra vez, desorientado no dilema
Se abro os olhos e te perco de novo
Ou de olhos fechados fico, e não te vejo…
Porque teimo em que existas
Porque teimo
Em que ocupes o resto dos setenta por cento de água do meu corpo…
Porque teimo, e fico sem espaço
Para o resto do sentimento, ou do sentir, ou do amar
E ainda me dizes que um dia nos vamos rir…
Folheando ou lendo estas memórias na margem do nosso rio…
Que hoje, só eu partilho na angustia
Ou na tremura que sinto por dentro
Ou nas lágrimas que teimam em rolar nos olhos
Ou no respirar fundo, que repetidamente, tanto tenho feito nos últimos tempos
E ainda me dizes que um dia nos vamos rir!
Folheando ou lendo as nossas memórias, que afinal são só, as minha memórias
Porque te queres rir tu, das minhas memórias?
Gravadas em sentimento com um rio ao fundo. O nosso rio ao sul
Sinto que já não sou uma memória tua
Porque já não sei, de que maneira te posso querer
Ou sentir, ou amar outra vez, reinventando sempre um novo amor
O teu amor…
Para que me preencha os momentos da tua ausência
Porque confesso, não sei viver na ausência
Principalmente a tua ausência!
Porque sinto o coração num ímpeto
Sentindo que a vida ou o tempo
O nosso tempo, sem tempo ou espaço para namorar…
Está ficando mais débil
Como o volume de água
Que separa a fronteira entre margens de um rio, o nosso rio ao sul…
E assim eu, ébrio de ausências
Ébrio de silêncios, das palavras tuas que não escuto
Vou ficando sem força ou vontade
Deixando de novo, que os dias cíclicos, as semanas, os meses ou os anos…
Passem por mim, e eu, de costas voltadas não me dê conta, ou os ignore
Ou teime em fazer de conta…simplesmente
E me refugie noutros corpos, noutros braços, ou outros amores…
Que me magoam
E me dão aquela estranha sensação de ausência, ou de vazio
Porque eu quero só!
O teu amor!
Aqui, ou na violência do sonho, que me magoa por ser sonho!
Porque não quero saber das normas! Ou das regras! Ou das distâncias!
Quero o teu amor! Agora! Logo! Ou depois de amanhã…
Porque o coração ama sem distâncias ou ausências
E o pensamento vai, liberto, assim voando…De encontro a ti…
Porque teimas em ter as cortinas cerradas?
Porque não queres que te encontre?
Estou cansado de voar em pensamento. De encontro a ti. E estás fora. Sempre!
Porque vamos ter de continuar a trilhar a mesma rua em lados opostos?
Porque não dizes que me amas também!
Na minha imaginação, estás aqui! De novo! Sinto-te. E sinto o teu respirar tranquilo
Ainda há pouco afaguei teus cabelos
Senti teu corpo tremer de desejo…
Ainda há pouco chegamos a casa, cansados…
E eu sentei-me neste sofá, onde me encontro
Pus no gira-discos a musica que partilhamos e me cantavas ao ouvido
E preguiçosamente folheio um livro de poesia…
Nostálgico escuto a música
O coração alvoroçado
E tudo sinto andando de roda, não mais eu ou tu!
Eu que tenho estado ausente de mim
Ou de ti, ou do nosso amor
E adormeço, o livro poisado aberto nas pernas
A noite fria, porque o sinto por entre os dedos
O frio imenso da tua falta
E assim adormecido e frio, venço mais um dia…
Até que acorde de vez e em pleno
E tu que vigiaste o meu sono ou o meu descanso
Possas dar-me a mão e assim juntos
Atravessar o nosso rio para uma e outra margem
Naquele lugar mágico e ao sul...
João marinheiro ausente
Fotografia de Barcoantigo