terça-feira, julho 11, 2006

II
A minha furia.
A minha raiva.
A minha insegurança.
A minha insatisfação.
A minha dor, e a minha tristeza, não são importantes, não são válidas para ti
porque eu não sou ninguém nem agora nem antes. Já não acredito nas palavras ditas:-«Porque existes» … Nunca existi para ti. Fomos um desejo ou uma vontade em partes desiguais… Fiquei só perdido amarrado à tua imagem e ao desejo. Como te quero ainda…

Contenho a fúria que sinto de não poder gritar que te amo!
-Porra!
-Que te amo, entendes!
Não, não entendes. Porque eu não soube entender-te ou compreender o teu amor, feito de ausências, esperas e desilusões. Sinto que também eu te desiludi, ou feri mais ainda, teu coração que sangrava e nunca me dei conta desse fio de sangue rubro que ostentavas no peito, e por debaixo desse sorriso frágil ou desse olhar meigo que me prendeu.


Hoje escrevo-te porque sinto uma saudade que incomoda e me faz ficar violento.(Ontem andei nos copos tentando afogar-te da minha mente, olha o resultado...).Confesso que não compreendo por não fazer parte dos meus princípios de vida. Mas, se calhar, não sou moderno ou deste tempo em que as vidas se apagam como um ficheiro anexo no computador. Se enviam para reciclar, e não existe mais a salvação possível de voltarmos aos mesmos caminhos, e trocarmos um simples olá e um sorriso. Um cruzar de olhos cordial e simples…

Vivo por cá, de volta das palavras, como agora em que o pensamento me leva até ti. A frustração que sinto por não saber quem és? Ou o que foste na minha vida. Ou a marca funda que deixaste, e não te importas…
Que eu morra como o viajante perdido no deserto sequioso do teu amor, ou do teu olhar que me saciava já, a sede que sinto. Confesso que não compreendo
porque deixei de te escutar ou deixaste de ter tempo para me escutar. E eu que não sou assim, tenho dificuldade em compreender porque gosto de retornar aos nossos sítios de antigamente onde fui feliz, e posso recordar, construindo de novo, um exercício mental de esforço limite à memória, os teus gestos, as tuas palavras, os teus actos de carinho hoje diluídos na distância do tempo. Simples actos sem memória, peças de uma arqueologia estranha, difíceis de decifrar por não serem reais e existirem no meu cérebro alucinado ou na minha raiva contida…
Ando como um louco pela rua fitando os rostos na esperança inútil de te reencontrar um dia neste Porto, mas os anos passam e eu, estou ficando tremulo, velho, cansado, vencido por uma artrite silenciosa, que mina e tira a vontade de seguir em frente.Tu nunca estás, e sabes que me fazes falta!

- Não te dás conta?
Deste grito que é um lamento surdo, do condenado à fogueira inquisidora
Por um dia confessar o amor a ti.


João marinheiro Ausente

4 comentários:

Su disse...

gostei de ler.te ..somos tantas vezes realizadores de filmes improvaveis....que ficam no desejo do tempo....chegamos sempre a um ponto que os outros deixam.nos de compreender...(isto sou eu a dizê.lo pq acho q assim acontece)
jocas maradas de dias

Ana Luar disse...

Sabes João ás vezes pergunto-me porque é que o passado não envelhece a par connosco. As nossas rugas vincam a pele deixando marcas que o tempo jamais apagará... Mas o passado mantem-se sem um vinco... como se tudo fosse recente... tv pk o seja mesmo, dentro de ti.
É pena que o passado venha sempre carregado de perdas e culpas de histórias inacabadas. Mas essas são decisões individuais... e só tu poderás responder por elas... ou aprender com essas dores.

Este texto, assim como outros que já li desse passado... é lindoooooo.

Continuo a afirmar: És um vendedor fabuloso...... rsrsrs

;)

beijo doxinho.

Anónimo disse...

Fico aqui perplexa perante as tuas palavras...
deve ser da artrite comum!...:)
Beijos sem peias

Claudia disse...

Afinal vale a pena pôr-te à prova! Com uma escrita destas, só pode valer!
Como te disse já, gosto das tuas palavras em prosa, simples, reais e intensas...
E também eu "vivo por cá, de volta das palavras, como agora em que o pensamento me leva até ti"
Fazes-me falta...~

Beijo coma sabor a prosa