sexta-feira, julho 28, 2006

E agora depois de ler
Tudo isto que escrevi
Fico vazio mas pensando
Será que entendes?
Quem sou aqui exposto
Que falta sinto, e que sonho persigo
Porque ando sempre de roda das palavras
Porque giro em continuo 360 graus
Porque o princípio é sempre o fim da partida.
Como um animal preso à corda
De roda sempre na árvore
Permanentemente insatisfeito
Ou o pensamento longe de aqui e de agora
Perdido
Por entre mares desconhecidos e tempestades de emoções novas
Perdido nos caminhos longos da vida ou do dia a dia
Dos dias que teimo em chamar de cíclicos
Como uma morte que se anuncia e se escuta
No piar do mocho na noite escura
Que é como me ensinaram em criança
A escutar e respeitar o piar do mocho
Um respeito ora de medo ora de descoberta
De bicho tão estranho, mas que pia…
Qual lamento fúnebre nesta hora.
E eu aqui só
Debatendo a junção das palavras ou das frases
Ou mais provavelmente
A libertação das emoções que me abrasam o peito
Ou a alma ou o pensamento
Reencontrando o sentido para a palavra amor
Ou talvez não. Porque o amor constrói-se
Ou descobre-se no rosto de uma criança
Ou no voo das aves nos céus
Ou nas crias que nascem no rebanho
Ou na barriga da mulher prenha, dum acto assim
Ou nas mãos do pescador que lança as redes no mar
E da redeira que as conserta e cose
Ou do operário que constrói
Ou do engenheiro que planeia
Do médico que salva a vida com suas mãos, milagrosamente!
Do bombeiro que socorre sem destemor
Ou o policia de giro na noite que protege
Ou na nossa cidade que nos aproxima e une.
Ou o amor constrói-se em actos próprios
Ou o amor constrói-se em actos impróprios e violentos!
Nas guerras travadas dentro e fora das leis
Ou em última instancia do juiz que julga e nos condena!
Mas, este que reencontro, nem sei, se lhe chamo amor ou dor…
Porque a dor que sinto é talvez de amor
Ou da sua ausência porventura
Ou o que tenho repartido, não me basta, e quero mais
Ou o amor tarda a revelar-se em mim
Ou, e se calhar, eu já não quero deste, assim aqui exposto,
Porque se agora estou só, que é como me sinto sempre
Tu estas ai, e acompanhas-me no meu caminho
Uns dias forte outros cansado
E eu sempre esperando que me reveles
Nas palavras escritas
O que sentes, e não dizes por medo a esse amor
Assim tardiamente revelado, mas desejado.
Porque o princípio é sempre o fim da partida
E a minha já está iniciada, mas voltarei ao princípio
Uma e outra vez, como as estações do ano cíclicas
E eu esperando que tu poeta, voltes de novo
E uses minhas mãos e então reveles
O sentido do amor. Ou da palavra
Aqui nesta folha e em tudo o que escrevi...

João marinheiro ausente
Fotografia de Barcoantigo

5 comentários:

Anónimo disse...

há muito que não me emocionava assim com um escrito teu. Amor não faz nem pode fazer sofrer, sabes? Se faz sofrer, então não é amor. É urgente arranjar outro significado para esse sentimento.
Este é um dos que gostaria de pedir emprestado...
Abraço-te

Mikas disse...

as palavras são sempre uma renovação dos sentimentos...

Luiz Carlos Reis disse...

Quantos medos e incertezas trazem os sentimentos reclusos. A libertação dos anseios e... este novo sentido para o amor, certamente revelará o primórdio onde o amor sempre existiu.
Abraços! Belíssima prosa!

José Leite disse...

Às vezes soltam-se os ventos da imaginação e sopram delícias doiradas...

Anónimo disse...

quem ama, com uma mão esconde o rosto e com a outra ofereçe a alma; teme e ousa. Quem ama sofre, o perpétuo risco de perder o amor ou o amado, o ciúme de ser preterido ou esquecido ou simplesmente relegado. Mas quem ama sabe que ama e pára de esperar...