segunda-feira, julho 31, 2006
















E eu!
E eu aqui, buscando a palavra certa. A palavra exacta, a palavra explicita para que compreendas o significado que sinto, que isto de sentir não se explica por palavras ou por gestos ou por tentativas, e porque tudo tem de ser confuso em mim, e porque sonho e acordo assustado, com monstros que me engolem numa ilha estranha e não compreendo o que se passa, acordo cansado do pesadelo acendo a luz olho-te estás comigo dormindo serena.
Dou-te a mão, a minha ligação à terra a minha ligação a ti. Adormeço protegido por ti.
És o amor aqui no momento presente eternamente presente, não sei a palavra para te explicar o que sinto de maneira que saibas que és. O meu amor de todos os tempos que já foram. De todos os tempos presentes. De todos os tempos que ainda estão pra vir.
Neste e no outro mundo em tons de azul de que falo e desconheço agora.
E eu aqui.
E eu aqui, sofrendo a paixão de ti, porque partes sempre ao acordar manhãzinha quando abro os olhos assustado do sonho estranho com monstros que me engolem em fogo, e olho ao redor e a floresta está diferente. Estranha. Sinto o cheiro doce do fumo que queimou as ervas selvagens, matou os coelhos e as lebres e os corços. Assustou os pardais. Tingiu as nuvens.
As árvores continuam altivas de pé. Negras! Fumegantes!
Quem sou? Quem sou?
E eu aqui buscando a palavra certa. A palavra exacta, explícita, para definir este fogo que arde por dentro e fora de mim… O crepitar da madeira em labaredas descomunais assusta-me como um ruído destruidor e quente.
E ouço o som das sereias, o azul em relâmpagos dos pirilampos correndo na serra, a luz dos faróis. Os carros andam doidos na noite. Descem rios de fogo até mim… E arde o monte. Arde a serra e ardo eu em lágrimas de sal salgadas porque o meu mar se encontra triste e doente. E vou de novo. E o sonho assustador que me acordou hoje não tem explicação no momento. E dei-te a mão e sosseguei, ficaste comigo, não estou só.
Mas não sei quem sou…

João marinheiro ausente 30/07/06
Fotografia Google

5 comentários:

Cinza disse...

Que essa mão te guie e te faça reencontrar... continuas a escrever sempre com a mesma força marítima... a impelir os leitores nesse mergulho...

Anónimo disse...

faz lembrar o P. Paixão. É lindo.

tb disse...

fiquei em silêncio olhando o fogo, o mar e a mão...e não, sabes bem que não estás só!
beijo

Ana Luar disse...

És dono das palavras certas,
da maturidade na escrita.
Tens em ti o equilíbrio,
mesmo que não te dês conta dele.
Além disso meu querido Mar,
a sobriedade está patente no gosto do gostar transmitido.

Simplesmente fabuloso este teu texto.

Su disse...

adorei ler...reli...
jocas maradas