segunda-feira, setembro 18, 2006


Ela disse: - Amanhã vou embora!
E ele não disse nada. Permaneceu de olhos fechados meio deitado no sofá
E ela repetiu: - Amanhã vou embora apanho o avião das oito!
Ele abriu os olhos. Não disse nada. Ficou a olhar. Não sei se a via…
Por fim falou.: - Eu levo-te ao aeroporto, estou cá pelas seis.
- Não faz falta eu chamo um táxi disse ela
Eu levo-te. Repetiu ele.
É o mínimo que posso fazer. É o que não queria fazer, pensou. Mas não o disse.
Olhou o céu da janela, pode ser impressão mas o dia empalideceu…
Eu levo-te, disse uma outra vez baixinho, para que os ouvidos não escutassem que ela ia partir.
- Estás a ouvir o que te disse, retorquiu ela. Amanhã vou para Londres, só volto no Natal.
E ele pensou. Pensou mas não disse, vais e não sei se voltas jamais.
E não voltou.
Passaram os anos
Não volta já…

19 comentários:

Anónimo disse...

...o regresso de quem já não esperamos mais...pode ser demasiado doloroso.pode libertar tantas memórias trancadas á força bruta.

maresia disse...

Olá!!
Que tristeza!! A partida é tao dura, a despedida ainda é pior, mas o pior é pensar que nao se volta a ver!!
até o dia perde a cor, até o sol deixa de brilhar, tudo perde a graça!!
Nao desesperes!!
Beijinhos

Anónimo disse...

Tenho a certeza que a cada segundo que vives pensas que vale a pena ter acontecido, e que ela continua a caminhar pelos teus sonhos e pela tua vida real. E tenho a certeza que apesar de sentires dor agora nunca lamentarás que se tenha cruzado no teu caminho.
Um beijo

Claudia disse...

Não voltou eu sei...

Mas...sempre...aqui...

Beijo enquanto vôo mas não parto...

Stella disse...

Bela historia, apesar de triste,muito bela...é nestes momentos que as recordações sao preciosas!
***

happiness...moreorless disse...

esta lindo, amei mesmo!
ha tantas coisas que ficam por dizer...

um beijinho

Anónimo disse...

Gostava de partir barra fora rumo ao oceano, contigo, porque te amo. E não sou boa marinheira mas tu és! Sei que já partiste, estou com um aperto no peito, é esse o meu medo, já partiste e nem tu sabes. Não sei se te deixe partir, fico a imaginar-te no alto mar e é lá que encontras a tua liberdade. Talvez te peça que voltes para trás e me deixes embarcar contigo, sabes que terás que segurar o leme por uns dias, se me ensinares eu aprendo. Pego no leme e seguro-o com força, prometo, e escuto com atenção os teus ensinamentos. És um Marinheiro único e corajoso e eu gosto muito de te ver velejar nas palavras. Nenhum Marinheiro tem a tua perícia, a tua sensibilidade, o teu respeito pelo mar, e hoje sei, que o teu veleiro cruzará os mares mais revoltos e nunca afundará. Nunca.
O que te diz o mar desta vez?

joão marinheiro disse...

Olá Maré Cheia. Obrigado pelas tuas palavras, por essa confissão publica. Não imagino quem sejas. Não é importante. Importantes são as palavras. Importante é o sentir. Importante é o que fica em nós. E tem dias, deixo que esse sentir galgue as margens de um rio imaginado e solto se encontre com o mar profundo e imenso. Tens razão, é lá que gosto de estar, amanhã mesmo vou de partida de novo desta vez rumo ao mediterrâneo, que é um mar cheio de histórias…
Sou é um facto um marinheiro prudente. O mar não me mete medo, sei os meus limites e compreendo os dele, assim vivo no equilíbrio possível minimizando os estragos que lhe causo pelo facto de sulcar as suas águas salgadas. Quem navega comigo navega em segurança, porque eu gosto de me sentir seguro, sou inseguro em terra mas ai é outra história…
Atenta que os barcos se afundam. Por desgostos, por imprudências, na maioria por abandono, os marinheiros quando os abandonam, viram as costas de vez ao barco, deixa de ser importante, e geralmente definha abandonado desconjuntando-se numa praia qualquer, infelizmente vivo num pais onde isso era notório, agora resta-me a consolação da memória porque os barcos da minha infância já não existem…Quem sabe um dia posto umas fotos dos barcos da minha infância…
Abraço para ti nesta viagem pelas palavras. Serás sempre bem vinda a bordo das emoções e do sentir próprio de cada navegação ou cada derrota*

* Derrota - rumo traçado na carta náutica.

rtp disse...

Gostei muito. É muito bela (de uma beleza triste, é certo) a imagem do dia a empalidecer.

Luiz Carlos Reis disse...

A partida é sempre dolorosa...Como um barco de papel em alto mar...
Abraços do Oficina!

Isa e Luis disse...

Não parece ser um texto isolado este, mas uma parte de um todo que tem vindo a ser delineado ao longo de vários posts...

Um abraço
Luis

O Lápis disse...

E com o Outono cheguei eu... com o vento que já sopra forte...o frio que se sente quando à noite a janela fica aberta...

Ler-te.

de janela aberta.

senti o frio.


um beijo, João.

APC disse...

Lindo-lindo. Acabei desarmada!!!
Pelo meio ficou um repetir "baixinho, para que os ouvidos não escutassem que ela ia partir", delicioso.
Gosto mesmo de te ler!:-*

APC disse...

Ah... Boa nova viagem!
E regressa bem!!! :-)

Anónimo disse...

Mas outro alguém poderá chegar. Beijinhos e bom fim de semana

Anónimo disse...

Quem parte não pensa no vazio que deixa ...

gosto do que escreves...

E.

Sónia disse...

E se lhe tivesses pedido para ficar, seriam mais felizes? Provavelmente não, existem vazios que doiem mais ainda quando o espaço é ocupado pelo corpo...Assim fica a incógnita.
O que será que doi mais?

Vanda disse...

Posso levar a tua dor e manda-la ao fundo com as minhas?

Ficarás livre para retomar a viagem.

Sentes ainda o vento?

Van

Eu disse...

Tanto tempo ...

Tinhas razão ...
os barcos afundam.