quarta-feira, junho 06, 2007

Só aqui nas palavras magoadas pelo silêncio eu te consigo achar…




Cometemos muitos erros ao longo do nosso caminho.
O maior é este silêncio.

Não o devia ter feito. Mas tive de vencer o medo. Peguei o telefone e marquei o teu número. Não atendeste, deixaste que o gravador me ensinasse a deixar-te uma mensagem. Não o fiz. Acontece sempre aquele aperto, aquele nó na garganta, aquele estremecer por dentro. Imagino-te ao lado do telefone a veres que é o meu número e a virares as costas. Não o deveria ter feito. Já não sabes de mim. Quantos anos se passaram. Dás-te conta? Dás-te conta do tempo que nos separa hoje. Das pedras que erguemos ao redor de nós. Acho que nunca mais vou saber de ti e vives por dentro de mim como da primeira vez que fizemos amor. Da primeira vez que te vi. Da primeira vez que te beijei. Da primeira vez…
Tu não imaginas como vivo fechado. O teu amor é um segredo meu. Quase todas as palavras que não te digo me magoam porque ficam como um eco a rebarbar por dentro. Espécie de câmara de ecos com efeitos especiais.

Já não me falas. Já não queres saber de mim. Nem tu nem algumas pessoas que foram importantes. Na ânsia de te querer substituir. Também já não falam comigo e eu não consegui substituir-te. Iludi-me por breves momentos. Mas eras sempre tu que eu queria. O amor que lhes queria dar era teu. Pertence-te. Se calhar deram por isso. Viram nos meus olhos, lá no fundo, escondido, que não as podia amar como te amo a ti. Um amor antigo. O meu amor é assim, um amor fora de tempo. Tardio. É teu para sempre. Mas sei perfeitamente que já não voltas, portanto o meu amor é dor, é ausência. Como perder um braço cortado rente. Sei que existe porque o sinto, e lhe sei o lugar, mas já não está. O meu amor é uma amputação dolorosa. Farto-me de o envolver em ligaduras para que cicatrize, para que estanque. Disfarço a ferida, mas ela existe e um olhar mais atento facilmente descobre a dor que finjo não ser.
Acho que ao longo destes anos tenho arranjado desgostos e confusões, é que o meu amor é só teu. É um amor fiel. Fiel como o cão guia do cego. Sabes aqueles cães meigos Lavradores que conduzem o cego na cidade crua.

A espera é sempre desesperante. Sabes. Não sei porque temos de fechar os olhos para querer, para recordar, para sonhar direi. Aos poucos desaprendo tudo isso, e tento manter-me lúcido porque uma primeira vez é sempre uma primeira vez.

Só aqui te escrevo o amor puro que sentia por ti e recusaste
Só aqui te escrevo da palavra ausência e ela distancia todo o tempo que já não tens
Só aqui sinto os dias claros que passei contigo e todos os outros cinzentos quando foste embora.
Só aqui o poeta te escreve da saudade porque queria o tempo todo e um dia pode ser a eternidade.
Só aqui.
Só aqui nas palavras magoadas pelo silêncio eu te consigo achar…

João marinheiro 2007
Foto Geno

7 comentários:

Maria disse...

É verdade, o nosso maior erro é o silêncio. E os muros que erguemos com o nosso silêncio.
E as esperas, sempre desesperantes.
E as ausências, sempre presentes...

Um abraço forte
(a foto do navio é linda....)

Anónimo disse...

E se ela te ligasse? Disfarçavas tu a voz? Ou talvez respondesses - é engano ... ?

Nunca vi um amor assim.
Porque será que não te atendeu?


Porque não vão os dois apanhar beijinhos à beira mar ?:)

Anónimo disse...

Não há coincidências?

Anónimo disse...

É neste teu mar de sentimentos Poeta...
Que também esperamos
as tuas palavras, sempre e sempre

Palavras lindas
Sentidas...
Como esta tua infinita espera!

Um abraço sempre

Anónimo disse...

Só aqui me revejo tantas e tantas vezes no mesmo silêncio. Na mesma espera. Noutra saudade. Nenhuma palavra pode cobrir uma ausência sobretudo quando os destinos já estão ligados, mesmo que apenas em sonhos: sonhar todas as noites para se descobrir que se sobreviveu a cada dia.. a fragilidade interior sobressai e vive-se na promessa de um novo abraço. Quão forte ele poderia ser.. Quem? O Amor! Se não fosse ele sentir-me ia livre porque permanece como uma peso enorme atado ao coração. Solitário como um lobo. Diante de um oceano cujas ondas fazem palpitar a poesia, procuro eternamente o seu rasto. Mas nem deixou ondulação na água. Nem sequer as pégadas na praia. As palavras que ficaram por dizer trespassam e o desespero é aligeirado pela esperança.. Até lá, cabe ao coração padecer e amar..

joão marinheiro disse...

Marta,
Obrigado por aportares ao meu canto das memórias…
Demorei a reconhecer que és outra Marta. Às vezes sou distraído no momento e no tempo.
Sobre o teu comentário às minhas palavras:
Se ligasse saberia quem era e atendia como da primeira vez. Com a mesma emoção. O poeta não acredita que o faça. Portanto o tempo não pára, só no nosso coração insistimos para que assim seja. Assim já não podemos ir aos beijinhos na beirada do mar. Vai o poeta porque vive do mar e vão as memórias. No meio do silêncio que se instala comodamente escuto os murmúrios do mar que me revela segredos. Só os marinheiros entendem essa linguagem própria.

Abraço daqui, sem coincidências.

Unknown disse...

Um amor assim merecia um final feliz...
Telefona outra vez e outra e outra..
um dia quem sabe ela atende...
As tuas palavras fizeram me chorar e pensar nas saudades que sinto do meu amor...