sexta-feira, junho 02, 2006

PARA TI…




















Que contemplas o oceano
Ou o atravessas vezes sem conta
E sentes a saudade do sol e do atlântico
Que é também o meu sol ou o meu atlântico
Porque sei. Pressinto. Ou sinto
Ou quero forçosamente sentir
Que o atlântico que amas, é também o atlântico que amo.
Ou o olhar que vi em teu rosto e teus olhos
É o olhar que quero ou sonho.
Ou o olhar que escrevi faz tempo
Se cruza comigo, mas do outro lado da rua…
Ou por detrás da janela ou da vidraça com as tais cortinas…
Mas sei agora, porque o confessaste.
Estavas lá! Esperando a partida… Que eu adiava…
Porque olhava a janela errada
Ou o momento estava errado pela surpresa
Ou porque ainda sinto a tua festa no braço…
Ou porque leio e releio as tuas palavras no livro que me ofereceste…
Tu que estás ai desse lado do Atlântico
Vigiando a escrita ou escrevendo, ou sonhando
Ou altas horas da noite pensando
Sonhas. E teu sonho não é mais solitário ou diferente
Porque também sonho e tenho as mesmas perguntas sem reposta
Sabes hoje, porquê, ou esperas saber nos dias que se avizinham
Porque o nosso olhar se cruzou, ou, inexplicavelmente
Ficamos parados olhos nos olhos, e nos revelamos no sonho
Imagina os milhões de estrelas no céu diferentes na imensidão…
Tão perto e distantes. E o mar pelo meio. Imenso. Azul. Frio. Salgado…
Imagina uma estrela cadente, daquelas a que se pede um desejo
Imagina a noite clara Algarvia, perfumada e quente
Confesso que também imagino. E também olhei o céu…
E a estrela que vi em teus olhos, que fitavam os meus
Foi a mais linda estrela cadente a quem pedi um desejo
O desejo de partilha do momento mágico, só nosso
Revelado em segredo. Ou saboreado. Ou escutado
O teu riso. A tua voz. O brilho do teu olhar. O afagares o cabelo…
E dizes… Não sabes o que sentes mas sentes a alegria do sonho
Porque o sonho tem alma ou tem amor e mistério à mistura
Ou tem a saudade da busca eterna e cíclica como eu por vezes digo…
E tu, no meu sonho confesso, à muito que surgiste
Mas por distracção ou falta de tempo, ou outra qualquer desculpa
Não me dei conta. E mais uma vez me tenha enganado
E de novo, tenha olhado a janela errada. Não te vi
Mas continuo ainda com o calor de tua mão em meu braço
Da festa meiga que me ofereceste na despedida
E eu distraído, ou insensível, ou ausente, ou para lá do infinito do tempo
Não quis ver o que o teu olhar me revelava
Ou senti medo de o desejar
Ou porque espero ansioso uma festa, um sorriso
Ou um abraço terno, e sentir teu coração descompassado
Ou o teu perfume único entre milhares de odores
Ou recorda a canção ou a voz que chama e pede:
“ - Volta por favor nas asas do vento meu amor…”
Ou o lamento da guitarra ou a voz do fado
Que o fado é saudade. E eu então sinto saudade porque sinto o fado.
Ou as palavras escritas pelo poeta e cantadas assim
De uma forma estranha



João marinheiro ausente Vila Real de Santo António - Maio de 2003
Fotografia Google

8 comentários:

Claudia disse...

Obrigada pelo poema que me deixaste. Acho que não é novidade se te disser que gosto muito de Drummond de Andrade, já sabias que irias ir de encontro ao que gosto, não já?!mas ainda há um poema dele que gosto mais, mas ficará para outra vez. Hoje deixo-te aqui, um poema a pensar em ti, porque sei que gostas do autor, assim como eu...

Dói-me o teu enfado.
Dói-me a tua tristeza.
Dói-me o teu agastamento.
Mas o que mais me dói é o teu silêncio...
Sentir que te escondes de mim.
Que estás por trás dos teus "não sei".
Que, como o tango:
Te busco e já não estás.
Precisas de uma desculpa para te separares de mim?
Posso subir a montanha mais alta com a tua ajuda.
Sem ti, cansa-me até jogar às escondidas,
cansa-me saltar obstáculos,
cansa-me brigar com o teu orgulho,
cansa-me bater à porta
que amobos queremos que se abra
e tu manténs fechada.

Não creio na tua confusão mas sim nos teus freios.
Não creio no teu "tempo" mas sim no teu orgulho.
Não creio no teu ódio mas sim na tua frustação.
Não creio no teu comportamento mas sim no teu sentir.
Sinto-me como o cego
do poema de Rafael de León
"que agita o seu lenço chorando
sem se dar conta de que o comboio
faz já tempo que partiu..."
Vem! Abre! Fala! Luta!
Que eu estou aqui!

Jorge Bucay

Um beijo enquanto o vento se começa a levantar, como tu bem te lembras...

isabel mendes ferreira disse...

UM DISCRETO BOA TARDE....repousado-.

um belo texto.

maresia disse...

dá-me a tua mão...

Anónimo disse...

Ensinaste-me a ter respeito pela palavra saudade João... sabes bem que nunca a apreciei... Quanto ao som da guitarra o que oiço são os gemidos de um coração que vive saudoso do passado... talvez demasiado saudoso, mas quem sou eu João para te dizer o que está certo ou errado... agradeço o comentário no meu blog... gosto da tua mão amiga!

alice disse...

querido lobo do mar

vim apreciar a tua forma estranha de palavras

desejo-te uma boa semana

um grande beijinho

alice

Claudia disse...

Correcção. Não sou eu que os escolho. Eles é que me escolhem a mim. Eu não os escrevo como tu. Eu sinto-os ao ler. E quando os leio, tornam-se como que meus, pois o que dizem, seria o que eu diria, se possuísse a arte e o dom das palavras de quem me socorro.

Beijo com brilho de Lua, que aquece

Claudia disse...

Só te posso dizer obrigada. Como sabes os meus gostos? Obrigada por me fazeres sentir, estremecer por dentro...
Obrigada pelo meu rio ter ido desaguar ao teu mar, assim te conheci.
P.S.Ainda não sei se me move a tua poesia se é exactamente o oposto, ainda não sei dizer...

Claudia disse...

Eu também gostava...Mas será que o encanto não se perde? A magia das palavras permanecerá em nós? E no entanto, continuo a querer falar contigo. Saber mais do teu mar e da tua lua...

Beijo com barulho de mar, que tudo liberta