sábado, junho 24, 2006

ARTE DA ESPERA


(Poema a uma protituta de estrada…)

Vejo-te ai. Tão altiva
Faz anos que por ti passo
Escuto na rádio a canção o “Primeiro beijo” e penso
Que histórias terás para me contar
Como foi o teu primeiro beijo?
Estás ai de pé esperando
Chupas um cigarro como a respirar o último fôlego
Tens contigo o desejo de todos os homens
Desaguando em ti, rios de sémen…
Extravasam em ti
Todas as frustrações reprimidas
E todas as histórias de amar por contar
Quem és?
Não sei.
Calculo que tens um nome.
Observo-te de fugida na beira da estrada
E vejo os anos que por ti passam.
Eras menina/mulher
Hoje és mulher objecto?
Não sei. Quem sou para te julgar?
Aqueces-te nessa fogueira
Enches-te de fumos, envelheces…
Vai fazer dez anos que por aqui andas nesta estrada velha como o tempo…
Hoje dei-me conta desse tempo
Talvez por estar mais velho também.
Não sinto pena de ti
Escolheste esse caminho doloroso.
Imagino o frio que passas
Os tormentos que vives
As humilhações que suportas
Dei por ti hoje
Tão altiva, imponente
Fumando um cigarro
Com a tua saia curta, as tuas botas pretas
Cobiça para o olhar, excitação para o sexo.
Estás ai
Tens arte.
Arte da espera…

João marinheiro ausente
Estrada Nacional 103 Março 2006
Fotografia Google

5 comentários:

Mikas disse...

Bonitas palavras para tão triste realidade...

Luna disse...

Como dizes, quem somos para julgar, são seres que passam por esta vida por caminhos tortuosos, estradas sem fim, pedaços de vidas vendidas a predadores de sexo, instintos animais, que sempre existiu, são formas de vidas escolhidas,umas vezes por necessidade, outras por modo facil e lucrativo...
beijos

Ana Luar disse...

Tu sabes como eu gosto desse poema... foi bom relembra-lo... Diz-me, ela continua lá? É que eu sei que o sitio dela ardeu... tenho curiosidade em saber para onde ela foi...
Deixo-te um beijo Domingueiro.

Anónimo disse...

sensibilidade dos olhos que "olham" o outro lado da vida...
beijos com ondas

volpina disse...

bonito!
foste tu que escreveste?