quinta-feira, janeiro 25, 2007

O inicio do fim do principio...


...Um fim é sempre o início de algo. Não concebo a palavra como um terminar, embora seja na realidade um terminar. Deixamos de estar presentes no espaço físico, deixamos de ocupar um volume, deixamos de respirar o mesmo ar. Remetemo-nos a um silêncio que por vezes dói. É a evolução, que é conseguida por perdas e danos.
Já pensaste que para evoluirmos temos sempre um lado que fica a perder. Á medida que avançamos as coisas importantes deixam de o ser, passam a memórias cada vez mais curtas, cada vez mais distantes, cada vez menos memórias, até nos darmos conta que as perdemos na voracidade do dia a dia. Somos homens e mulheres. Raça humana, que compete a cada segundo na busca nem sei bem de que objectivo. Somos inteligentes, o esplendor da evolução, mas em contraste somos do pior da evolução das espécies.
- Somos falsos!
- Somos vingativos!
- Somos ambiciosos!
- Somos opressores!
- Somos conquistadores!
- Somos aniquiladores!
- Somos belicosos!
- Somos esbanjadores!
- Não respeitamos!
- Não temos paciência!
- Não somos pacíficos!
- Não amamos!
- Não somos ternurentos.
Deixamos os valores. A moral. A bondade. Não nos escutamos uns aos outros. Não sabemos perdoar, não sabemos amar. Sabemos odiar em demasia. Perdemos a identidade, passamos a globais. Frios. Binómios de números como no processador. Perdemos os sentimentos. As emoções. As lágrimas resumem-se a actos fisiológicos, de água e cloreto de sódio. Tentamos passar o sentir para o chip no computador pessoal, e, quando isso acontecer vamos acabar irremediavelmente sós. Como um algarismo 0 ou algarismo1, os números da revolução. Frios!
O progresso da medicina vai avançar e reduzir a temperatura dos corpos. O sangue vai arrefecer. As emoções vão ser um passado distante.
Robotizamo-nos. Vamos procriar em actos mecânicos assistidos remotamente.
Castas. Classes. Como prateleiras. Gavetas de um mundo que ainda é redondo, mas se torna plano e estéril aos poucos. E vamos voltar ao mundo dos animais instituído e certo, repetitivo há milhares de anos. A teoria da evolução das espécies vai ter de ser reformulada. As espécies vão deixar de ser diferenciadas, vamos existir por patamares. Os semi condutores vão substituir as emoções. São frios. O silício vai continuar a imperar e ele fez a revolução dos híbridos. Destronou as válvulas enormes, o calor, as altas tensões. E hoje no tamanho de um ponto minúsculo no processador de texto encerra-se a nossa história de séculos, condensada, resumida a um conjunto de actos de números sequenciais.
O fim é sempre o início de algo. A morte é sempre a passagem do físico para o além desconhecido. O desconhecido ainda nos atrai com a curiosidade mórbida ou talvez não, da incompreensão. O que não é mensurável ainda nos assusta, e isso é importante porque nos permite recordar o sentir, as emoções, as lágrimas na face, um gesto de ternura, um último olhar, uma palavra de conforto. São tão importantes as palavras entre nós. E isso é tão importante. Os gestos simples e verdadeiros. Dar as mãos, pousar o olhar como uma carícia que se quer. Saber escutar. Principalmente saber perdoar. Faz falta o amor em nós. Faz falta sermos de novo puros. Retornarmos à vida. Deixarmos as máquinas que nos conquistam, vivermos o tempo com tempo. Todo o tempo do mundo. O mundo avança sem nós. E nós somos ínfimos no tempo.
O fim não tem que ser o terminar, o cair do pano na representação final e última…
Não tem!
- Compreendes o que te digo?

João marinheiro 14/01/07

Fotografia Paulo Teixeira/www.olhares.com

6 comentários:

Claudia disse...

Não sei se compreendo.
Mas sei que está na altura de te deixar as minhas palavras que tanto têm escasseado e demorado. Não demoram muito mais...

Beijo

Anónimo disse...

Acho que compreendo... somos herdeiros de um potencial ilimitado que desconhecemos. Somos almas a vivenciar uma experiência num corpo físico (e nao corpos que possuem uma alma). Na nossa essência, somos aquilo que aparentamos ser e apenas o medo domina a nossa razão.A natureza normal do ser humano seria ser amável, pacifico, equilibrado e harmonioso mas ao longo da vida tornou-se medroso, raivoso, invejoso e cheio de pensamentos negativos. Acaba por ser aquilo que não é. Esquece-se de quem é realmente!
Por isso a vida deve ter uma missao de cultivar a alma, o intelecto e a moral através das inúmeras experiências e aprendizagens. E cada ser humano terá de trilhar o seu percurso dfe um criativo porque afinal ele não passa de um viajante caminhando de retorno á Fonte Original, mudando apenas de roupa e de papel ao longo da sua vida.

Anónimo disse...

...O agente da pergunta silenciaria as palavras!
demonstrando entendimento
e compreensão.

Anónimo disse...

Meu querido... existem pessoas terríveis... principalmente quando falam de si.

Beijo eterno

Maria disse...

Não sei se estou de acordo contigo, este texto tem sim e não para mim.
Terei que o reler num outro dia, e meditar.
Um abraço

A. disse...

...o cair do pano.


virar costas,descer as escadas.o frio e a lua.por hoje acabou.



compreendo sim João.









...o meu terminou por ali.
desapareceu.não sei.

agora aqui...refazendo o desfeito.
lentamente.




um beijo meu querido.