sábado, janeiro 13, 2007

LÉO FERRÉ





...A poesia contemporânea já não canta…rasteja
Goza porem do privilégio da distinção…não frequenta palavras mal afamadas…ignora-as
Só com luvas se pega nas palavras: «a menstrual» prefere-se «periódico», e não se cansam de repetir que há termos médicos que não devem sair dos laboratórios e do codex

O snobismo escolar que consiste em só empregar, em poesia, certas e determinadas palavras, em priva-las de muitas outras, sejam técnicas, medicas populares ou argoticas, faz-me lembrar o prestígio do lava-dedos e do lava-mão
Não é o lava-dedos que faz as mãos limpas nem o beija-mão que faz a ternura

Não é a palavra que faz a poesia mas a poesia que faz a palavra

Os escritores que recorrem aos dedos para saber se os pés estão á conta, não são poetas, são dactilógrafos
O poeta hoje em dia tem de pertencer a uma casta a um partido ou à «fina-flor» de Paris
O poeta que não se submete é um homem mutilado

A poesia é um clamor. Deve ser ouvida como se ouve a musica.
Toda a poesia que apenas se destina a ser lida e fechada nos seus caracteres é uma poesia incompleta. Só as cordas vocais lhe dão o sexo, como o arco ao violino, tocando-lhe…


O filiamento é um sinal dos tempos. Do nosso tempo
Os homens que pensam em circulo têm ideias curvas. Sociedades literárias não deixam de ser Sociedade. Pensar em comum é pensar comezinho

Mozart morreu só, acompanharam-no à vala comum um cão e os fantasmas
Renoir tinha dedos aduncos de reumatismos.
Ravel tinha um tumor que lhe sugou de vez toda a música
Beethoven era surdo
Houve um peditório para o enterro de
Bela Bertok
Rutebeuf
tinha fome
Villon roubava para comer


Toda a gente se está nas tintas
A arte não é um gabinete de antropometria
Apenas sobre os túmulos se faz luz
Vivemos tempos épicos sem já nada termos de épico
Vende-se musica como sabão para a barba
E para que o próprio desespero também se venda bastará encontrar a fórmula
Está tudo a postos: os capitais
A publicidade
A clientela
O desespero, quem o inventará?
Com os nossos aviões que levam a palma ao sol
Com os nossos gravadores que se recordam das tais «vozes que já se calaram», com a nossa alma ancorada no meio da rua, encontramo-nos à beira do vazio, atados de pés e mãos no nosso embrulho de carne, a ver passar as revoluções
Não esqueçam nunca que a Moral o que tem de mais maçador é o ser sempre a Moral dos Outros
Os mais belos cantos são os de reivindicação
O verso deve fazer amor na cabeça das gentes. Na escola da poesia e da música ninguém aprende. TODOS SE BATEM!




...Porque o que eu te dou
não tem preço...


------------------------------- e,

...No palco há o silencio vestido de negro...







Avec les temps

Avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
on oublie le visage et l'on oublie la voix
le cœur, quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller
chercher plus loin, faut laisser faire et c'est très bien

avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
l'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la pluie
l'autre qu'on devinait au détour d'un regard
entre les mots, entre les lignes et sous le fard
d'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit
avec le temps tout s'évanouit

avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
mêm' les plus chouett's souv'nirs ça t'as un' de ces gueules
à la gal'rie j'farfouille dans les rayons d'la mort
le samedi soir quand la tendresse s'en va tout' seule

avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
l'autre à qui l'on croyait pour un rhume, pour un rien
l'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux
pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous
devant quoi l'on s'traînait comme traînent les chiens
avec le temps, va, tout va bien

avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
on oublie les passions et l'on oublie les voix
qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens
ne rentre pas trop tard, surtout ne prends pas froid

avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu
et l'on se sent glacé dans un lit de hasard
et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard
et l'on se sent floué par les années perdues- alors vraiment
avec le temps on n'aime plus
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...O tempo…é como uma página que parece branca…o tempo, para mim, é o Amor vermelho e negro…igual a uma página da minha Música…

Nunca uma página está em branco; há sempre nela a imponderável marca dos farrapeiros ou daquele bosque que se cria perdido para sempre…

Para lermos nas entrelinhas, é preciso haver linhaspara lermos entre-olhos, é preciso haver vontade de nos deixarmos ler também…

...O sonho é a música sobre a página branca…ou a que branca parece. Porque no fundo a página é sempre negra, desse negrume dos cisnes, à noite, quando a gente de repente se lembra que não está neste mundo. As pautas, nesta folha de papel, estão cheias de sinfonias «simpáticas» …

A Música maior nunca ninguém a lerá, nunca ninguém a ouvirá.
Geme, algures, numa floresta mal apreendida ...



...Toda a poesia que apenas se destina a ser lida e fechada nos seus caracteres é uma poesia incompleta. Só as cordas vocais lhe dão o sexo, como o arco ao violino, tocando-lhe...
--------------------------------o,


...Criar é um prazer solitário. a verdadeira solidão. A musica é uma longa paciência. Uma espécie de palavras cruzadas...







...Apenas resto eu que não me quero à venda...

excertos e fotos do livro Leo Ferré 84

6 comentários:

Patrick disse...

Je me permets de vous signaler le nouveau coffret de Léo Ferré réunissant 3 concerts au Théâtre libertaire de Paris en 1986, 1988 et 1990 (6 CD et 1 DVD). Uniquement en vente sur http://www.leo-ferre.com
Amitiés

Anónimo disse...

Amei..

algevo disse...

querido joão,

perdoa-me mas não te li. Passei apenas para te dar assim um beijo grande como o mar. E que o teu abraço, grande e terno, me chegou via maritima.

Recomeço devagar, porque o mundo não parou afinal.

Beijo daqui de onde o mar se junta com o ocenao.

I.

Bruna Pereira Ferreira disse...

Óh... mas que bonito.
Aprendi umas coisas aqui a ler-te.
Obrigada.

:)

Anónimo disse...

Apenas uma palavra para resumir qualquer comentário... EXTASIADA!!!
a ti poeta... entrego o meu abraço.

APC disse...

Sem dúvida que se vendeu o que é de dentro àquilo que se pode ver por fora. E tudo quanto se diz rico ou afamado, é apenas pobre e só. Mas ao menos há os poetas (aqueles, os que o são, quer disso se saiba ou não, e mesmo que o não saibam eles), para ouvir os sons e as pausas de uma melodia de vida que acompanha o bater dos corações.
Assim a solidão tem companhia, assim na pobreza se é rico... Assim se diz um dia adeus à vida tendo-a sentido... Todos os dias.

Belíssimo trabalho, este teu, a vários níveis...

Um grande abraço.