domingo, maio 14, 2006

REGISTOS


I

Sou uma espécie de impressões reunidas
Sou de um cinismo atroz
Sou de uma junção perfeita de confissões
Sou um ego super valorizado
Sou um monte de ilusões
Sou a real caçada de todos os imaginados
Sou enfim um ser social...
20/11/83

II

A praça pública onde todos se encontram.
Os muros, as grades
A cerca de arame farpado.
A feira de nós próprios...
Ah! Como gosto destas impressões.
O ser um animal rodeado
As algemas que sinto invisíveis.
Os trilhos dos comboios que passam bem pelo meio de mim
As estações abandonadas, as gares desertas...
As velhas máquinas cansadas arrumadas ao calha, tão tristes...
Todas as ervas daninhas que crescem nos jardins públicos
Todos os projectos que morrem no acto de projectar
Um outro sonho que ficou...

24/11/83
João marinheiro ausente
" Das vezes que não posso ser quem sou" Excertos de um livro por editar escrito em 1983
Fotografia de Barcoantigo

2 comentários:

Vanda disse...

Quando o tempo me ganhar
e o branco na alma
me pousar,
vou editar todos os livros
que nunca escrevi.
Com as lãs
e as cores
tecerei as palavras
que não soube pronunciar.
Quando o tempo me ganhar
vou ficar um ano
sentada
e no fogo que me afasta a morte
das pernas, dos ossos,
e no frio
que a serenidade me trará,
vou compreender por fim
porque fui assim.
uma manta de lã
tecida no distanciamento
das cores
que o tempo
não ha de ganhar...


gostei muito de o ler!
intemporal.

:) um beijinho

Van

Anónimo disse...

:( não podes???
...