sábado, maio 27, 2006

PORQUE ESTOU AUSENTE, NUNCA ESTOU…


Queria-te aqui
Queria-te aqui, por favor
Diz que vens
Diz!
Quero-te agora neste preciso momento em que os segundos se conjugam com os minutos e os minutos com as horas, as horas com os dias, os dias com as semanas as semanas com os meses e os meses com os anos, os anos com os séculos os séculos com a eternidade
A minha eternidade…
Queria-te aqui
Para chamar-te de meu amor
Minha eterna namorada que amo
Para descansar o olhar triste nos teus olhos melancólicos
Para dizer outra vez que te amo
Faz falta dizer que te amo
Eu sei, eu sei
Digo para não me esquecer de te amar diariamente como tu gostas
Digo para sentir que te amo agora neste intervalo de segundo que fica para lá do tempo presente
Do tempo passado, do tempo ausente da minha ausência que notas
Do meu silêncio que sentes, da minha voz que não escutas
De mim que não estou
Nunca estou…
Queria-te aqui agora ao meu lado
Sentada na minha perna
Enquanto escrevo as palavras que não te digo
Enquanto te entreténs brincando com o meu pescoço em beijos e lambidelas lânguidas
Que me fazem ficar assim arrepiado e alerta
Excitado.
Enquanto me segredas ao ouvido que me queres intervalada com pequenas mordidas
És uma sedutora…
Queria-te aqui
Neste momento
O momento preciso em que a lua dá volta à volta da terra e a terra se volta à volta do sol
Queria-te aqui mesmo neste preciso instante onde não sei por onde andas…
Imagino-te só…
Queria-te aqui para poder descansar o meu braço grande e minha mão tão rude à volta da tua cintura
Afagar a tua barriga deixar subir e descer a minha mão atrevida…
Enquanto escrevo com um dedo
As palavras que não sei dizer-te ao ouvido.
Eu que sou espécie de máquina sem sentido ou sentimento
De olhar como um farol brilhante só e triste na noite longa de insónia.
Queria-te aqui
Para conversar
Neste preciso instante em que uma pomba cai dizimada pelo chumbo mortal no campo imaginado em flores primaveris num sítio qualquer.
Queria-te aqui neste instante
Que uma mãe dá à luz só, com lágrimas, emoção, sangue, e muito amor
Queria-te aqui no momento exacto em que a tesoura num golpe grotesco e frio corta o cordão umbilical.
No instante do primeiro grito
No instante do primeiro choro
No instante do primeiro contacto com o seio e o alimento materno
Queria-te aqui no primeiro sono.
Por onde andas?

Escuto as sirenes que gritam
Tocando a rebate
Escuto os clamores no campo de futebol
Escuto a ovação no coliseu
Escuto gritos e choros
Travagens bruscas de pneus no cruzamento
O rangido dos freios eléctricos do alfa pendular apressado em direcção ao sul
E penso
Em ti e em mim
De roda das palavras sentidas
O que me contas o que me escreves
Porque te quero
Porque te queria aqui neste momento em que o CD dá mais uma volta a sete mil e oitocentas rotações por minuto
Demasiado de pressa…
Gosto dos discos lentos a trinta e três rotações por minuto. Pretos, grandes
Gosto de ti lenta
Grande
De madrugada ou pela tarde, ao anoitecer ou na hora da ceia
Em vinte e quatro horas seguidas em dias claro e dias cinzentos
Em semanas de sete dias ou de oito que não sei se existem…
Em meses de trinta dias e em meses de trinta e um dias
Em cada ano seja comum ou bissexto
Gosto de ti
Neste preciso momento
Num século de inventos de idas à lua
Ou das novas gerações de telemóveis
A cores na Tv digital ou numa velhinha a preto e branco
Gosto de ti
No preciso momento em que tocas à campainha da porta e eu não estou em casa
Ou no telegrama:
Stop!
Tu não estavas.
Stop!
Em casa.
Stop!
Gosto de ti ao abrir a caixa de correio electrónico e tenho os 250 megas da caixa cheia de ti…
E dizes:
Que eu não estava em casa.
Que tocaste a campainha
Que foste embora
Que mandaste um telegrama na estação dos correios da velha vila
E não conformada
Para que eu saiba que tu estiveste do outro lado da porta
Mandaste mails, correio moderno, frio impessoal, a dizer que eu não abri a porta porque com certeza não estava
E já não sabes se voltas, se vale a pena. Se o encanto perdura, se a inocência se perdeu
Se eu te quero ainda…
Que estás confusa e que estás só…
E eu neste intervalo em que te escrevo, o tempo em que se calou a campainha, a chave rodou no trinco, a porta se abriu, chegou o correio, e abri a caixa de mensagens, em toda esta eternidade numa fracção do tempo eterno e cósmico
Eu
Eu só te queria aqui
Neste momento
Para te dizer que te amo
Te amar
Fazer-te minha, só minha, na eternidade
Olhar-te nos olhos beijar teus lábios
Sorrir para ti
Chamar-te de minha eterna namorada
E não me esquecer de te amar todos os dias como tu gostas
Deixar que continues sentada na minha perna enquanto escrevo com um dedo só lentamente…
Queria-te aqui hoje e amanhã
Para te dizer que me podes amar livremente em sonho
Em desejo
Em querer que arde por dentro nas entranhas
Para te dizer que mesmo ausente, é assim que ando
Me podes amar porque te amo também
Um amor grande em segredo, eterno, proibido
E para te dizer que te queria aqui neste momento
Fora de horas
Em que me lembro e não sei de ti…
Porque estou ausente
Nunca estou.


João marinheiro ausente
Foto gentilmente cedida por A. Diogo

8 comentários:

Anónimo disse...

Belíssimo, profundo, intenso!Lembrei-me da pedra filosofal do amor ausente...

Lanna disse...

Leio, só! Os pensamentos ficam comigo...

Cinza disse...

Mágico...

Claudia disse...

Nem sei por onde começar. Mas não se iluda, ainda não sei se o vou elogiar. Ainda não sei... É certo que a sua poesia desperta a atenção. Por vários motivos, a começar no gráfico, o que não é usual. Depois pelo tema central subjacente (pelo menos os poemas que li!), o amor ou a falta dele e as suas consequências! E como se denota pelos comentários obtidos, o tema alcança sempre alguém. Neste caso, os leitores são maioritariamente mulheres,que inevitavelmente parecem acreditar que o que escreve é para cada uma delas. Então, parece-me que temos poeta! Resta saber, (e é isso que me suscita curiosidade!) se não tem um pouco de Pessoa: "O poeta é um fingidor / Finge tão completamente /Que chega a fingir que é dor /A dor que deveras sente." Será que é verdade será que é fingimento? Sabe, é que faz diferença...É como falar em Deus mas efectivamente acreditar ou não, faz toda a diferença.
Falando deste poema, em que a ausência é fulcral, identifico-me. Isto porque (provavelmente) o meu poema preferido tem como título Ausência. Transcrevo-o aqui, para si. Espero que sinta, como eu o sinto, de cada vez que o leio, sempre.


Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
magoa, que se limita à alma; mas que não deixa,
por isso, de deixar alguns sinais - um peso
nos olhos, no lugar da tua imagem, e
um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes
tivessem roubado o tacto. São estas as formas
do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
as coisas simples também podem ser
complicadas, quando nos damos conta da
diferença entre o sonho e a realidade. Porém,
é o sonho que me traz a tua memória; e a
realidade aproxima-te de ti, agora que
os dias correm mais depressa, e as palavras
ficam presas numa refracção de instantes,
quando a tua voz me chama de dentro de
mim - e me faz responder-te uma coisa simples,
como dizer que a tua ausência me dói.

Nuno Júdice, in Pedro Lembrando Inês

Beijo

P.S. Ainda não sei se gostei...Demonstre-me o contrário, que estou errada.

www.para-sempre-@blogspot.com

Anónimo disse...

De farol apenas o nome evocativo, a luz que ajuda e guia o caminho.
Obrigada pelas tuas palavras sábias de quem tem no mar a sua paixão...
Não sabia mesmo essa diferença, por isso te agradeço, pois que estou sempre receptiva e gosto de aprender desse mar que tanto amo...
és sempre bem vindo e as tuas palavras são para mim um presente
Um abraço

Vanda disse...

Os amores proibidos, os amores ausentes, a dor que se faz sangue na veia e assim escreve...

os amores...os mares...as profundidades...das ausencias.

O estar, na unica casa que se não aluga: o coração.

Bons ventos :)
Van

Anónimo disse...

se a porta se abrir...eu vou.
eu digo que vou.

mais uma vez me encontro
por aqui...sentada na sua
perna.

beijo João.

Anónimo disse...

Sempre que penso na distância, fico triste... bate-me uma ansiedade tremenda... devaneio, então:

Escrevo prá diminuir a dor da distância,
prá aplacar a saudade do tempo,
prá amansar o meu coração que grita,
prá sentir-te mais perto de mim.

Escrevo porque não posso gritar,
não quero calar,
só quero te amar,
E dizer-te que estarei sempre aqui.

Escrevo prá deixar as marcadas,
das nossas pegadas,
das nossas vontades insaciadas,
De dias que parecem não ter fim.

Escrevo prá te ter,
mesmo sem te pertencer,
e prá nunca te esquecer,
do amor que carrego no peito.

Escrevo porque sou tua,
totalmente nua,
de corpo e alma.

Escrevo simplemente porque: EU TE AMO!

Saudades sem fim de um amor sem fim!!!

Bom, se amar é isso... amo incontestavelmente!!!

Parabéns pelo seu trabalho (EBML)