sábado, maio 20, 2006

NESTE MOMENTO...


Neste momento existes aqui
Vejo-te chegar ao longe
És inconfundível
Neste flash da memória
Caminhas pelo meio do jardim abandonado
Neste instante estamos juntos
Fui ter contigo à foz
Esperava-te faz alguns minutos…
Passeamos pela Cantareira,
Sentamos onde demos o primeiro beijo
As mesmas pedras com limos e saudades dos barcos que acostavam
Dei-te a mão, sorriste para mim
E eu feliz olhei os teus olhos que amo
Fomos os dois subindo a margem deste nosso Douro
Passamos o ouro, velho estaleiro que não existe
Notei a ausência dos barcos
Falei-te dessa ausência
Continuas sorrindo para mim.
Sentamo-nos na esplanada, a mesma mesa lembras?
Onde confessei o meu amor por ti, tímido
E tu com o brilho imenso do teu olhar
Beijaste as minhas mãos cansada num consentimento consentido.
Bebeste uma água fresca eu um café forte
Lembras?
Provei o amor de teus lábios doces
Sentia no peito o coração desarvorado em rotações frenéticas…
Passamos o dia juntos junto ao Douro.
Pela tardinha despediste-te na promessa de voltar
À Cantareira a ver-o-mar
Atravessaste a ponte para a outra margem
E eu senti que nesse instante da travessia te perdia
Não sei de ti…
Neste momento
A janela aberta manhãzinha
O sol quente inicia o dia a nascente
Incide no rosto, a custo abro os olhos.
Neste momento existes aqui
Num flash que dura a eternidade do clarão branco
Enquanto desperto
Tive-te comigo
E fiz a história que esqueço diariamente
És a minha memória dos dias bons
Que guardo religiosamente
Porque existes
Para lá do tempo
Porque existes
Para lá da vida
Porque existes
Para lá do amor eterno
Porque existes…
E então
Porque existes em momentos
Estamos juntos de novo
Não importa que seja no clarão do acordar
Ou no pesadelo a meio do sono.
Neste momento vieste ter comigo, estou contigo de mão dada
Existes aqui
Como memória
E eu vejo à velocidade da luz a minha vida contigo
Com principio, meio e fim
Compreendidos no espaço dum abrir de olhos ao acordar.
Desperto finalmente
Afasto os lençóis, lavo a cara, visto-me
Enfrento mais um dia igual de trabalho
Sorrio para mim próprio
Amanhã pela manhã encontro-te de novo e dar-te-ei mais um beijo
Confessarei de novo o meu amor por ti
Contento-me
És a minha memória dos dias bons
Memoria virtual…
joão marinheiro ausente
Fotografia Google

6 comentários:

Vanda disse...

Bom dia, João, marinheiro de ventos...o teu comentario é profundamente tocante, arrepiante, quase me fez sentir arrependida de te ter pedido palavras...senti-me culpada pelo peso da viagem, do fundo da tua dor até à superficie das tuas memórias...e não sabendo se afinal isso será bom para ti (eu falo sempre na terapia das memorias expulsas nas palavras)ou não, peço-te desculpa, prometo nunca mais o fazer...

E no entanto, agradeço-te as palavras, a partilha de memórias,
o sentir nos meus olhos a água da tua vida...seria talvez por isso, que quando te lia, aqui, intuia que tinha que existir mais, na profundidade deste mar que choras...era quase como procurar um capítulo que ainda não tinhas escrito...em poesia ou prosa...

...quem sabe um dia, também,
"vomites" em palavras, o sal e a pedra...que te fazem tantas vezes, ficar mergulhado, submerso, escondido, nesta ausencia...limbo, entre passado e presente...

Sei que dói. A passagem das memórias para papel, mesmo que deste virtual se trate, dói sempre muito...arranca-nos o coração, quase escrita com o nosso sangue, quase escrito na nossa carne...

E depois de escrito, mais uma memória, a guardar nos nossos registos...a memoria do dia em que conseguimos dar um corpo de letras a esse fantasma de nós proprios...

...e depois dessa última, outras memórias surgirão, até que um dia, a memória seja o resultado de outras tantas, mais leves, mais distanciadas...menos sofridas... menos duras...

Ganhar novas memórias no rosario de uma vida...

De uma beira mar escondida por cimento, mas ainda de um sitio onde os passaros cantam de dia e dão lugar ao coaxar (ou será coachar??)das rãs à noite, te envio também o meu abraço, forte de solidariedade e de amizade, apenas com um pedido, não te deixes perder para sempre, na latitude longinqua e penosa de memórias...

Van

Anónimo disse...

Belíssimo sentir de quem sente...

Lanna disse...

Bem, lembrar... não me lembro. Mas lá que gostei, gostei.
Bjoca

Miriam5 disse...

É tão bom termos as memórias dos dias bons. Nâo se esqueça, guarde-a para sempre nesse momento em que acorda e abre a janela,logo de manhãzinha...
Um beijinho e "bons acordares"

Lagoa_Azul disse...

Porque existe a memória e o sonho buscamos sempre o amor,

Beijos com carinho

Su disse...

neste momento gostei de passar por aqui, li reli
e vou linkar-te para não te perder
jocas maradas