
Preparo o saco, saímos barra fora pelas duas e trinta da tarde. A aproveitar a maré-cheia. A barra está assoreada, é um perigo. O mar rompe ali
O vento esperado a entrar de sudoeste, a vaga de três metros, quatro metros no Cabo Silheiro sessenta milhas a norte. Vai ser uma noite de trabalho a bordo
Arrumo no fundo do saco impermeável as roupas quentes, as meias de lá, o velho casaco, o capelim preto para a cabeça. Finalmente parto rumo a Norte. Finalmente parto para mais próximo de ti, porque estes anos todos naveguei sempre a sul, cento e oitenta graus a afastar-me de ti. Já não me importo. Já nada me importa. As roupas são pretas, espécie de vestes com que faço o nosso luto. Se morrer não vertas lágrimas, basta-me o sal do mar para ficar em paz, junto dos meus.
Agora vou.
Acabei de fechar o saco. Encerrar um sonho e a memória da última viagem que fizemos os dois. Parece uma primeira vez. É uma primeira vez depois de me teres abandonado a meio da travessia, esta viagem que faço. Ontem ouvia-se o mar e o vento a chamar por mim nos brandais frios dos veleiros em terra, à espera abandonados. Fiquei aflito, fazia já muito tempo que aqui não vinha ao porto ver os veleiros. Não te queria ver de memória. Já não sei ver-te quanto mais amar-te. Amo o mar e isso me tranquiliza nas noites frias como as que se avizinham.
O resto é o tempo.
Espero as horas da partida
O vento esperado a entrar de sudoeste, a vaga de três metros, quatro metros no Cabo Silheiro sessenta milhas a norte. Vai ser uma noite de trabalho a bordo
Arrumo no fundo do saco impermeável as roupas quentes, as meias de lá, o velho casaco, o capelim preto para a cabeça. Finalmente parto rumo a Norte. Finalmente parto para mais próximo de ti, porque estes anos todos naveguei sempre a sul, cento e oitenta graus a afastar-me de ti. Já não me importo. Já nada me importa. As roupas são pretas, espécie de vestes com que faço o nosso luto. Se morrer não vertas lágrimas, basta-me o sal do mar para ficar em paz, junto dos meus.
Agora vou.
Acabei de fechar o saco. Encerrar um sonho e a memória da última viagem que fizemos os dois. Parece uma primeira vez. É uma primeira vez depois de me teres abandonado a meio da travessia, esta viagem que faço. Ontem ouvia-se o mar e o vento a chamar por mim nos brandais frios dos veleiros em terra, à espera abandonados. Fiquei aflito, fazia já muito tempo que aqui não vinha ao porto ver os veleiros. Não te queria ver de memória. Já não sei ver-te quanto mais amar-te. Amo o mar e isso me tranquiliza nas noites frias como as que se avizinham.
O resto é o tempo.
Espero as horas da partida