
Da última vez, quando vim embora. Regressei triste. Despediste-te de mim. Sabia que ias partir. Vi nos teus olhos nublados a tua partida breve, e eu, impotente, não tinha palavras para te convencer a ficar, aqui, na distância das minhas mãos, no calor do meu corpo, no estremecer dos sentidos.
Da última vez, o beijo breve fugidio que demos na face, foi um beijo de despedida, ácido, a queimar por dentro, e todo eu tremia, um arrepio frio no corpo.
Não deste por isso, porque tu, lentamente, também fechaste a emoção no quarto escuro do coração. E depois olhamo-nos longamente. Como que, a querer ver a eternidade possível que ainda resiste em nós. Segurei a tua mão durante um momento que me pareceu demasiado breve. Deste-me um abraço. Como só tu me sabes dar. Um abraço pleno a aninhar-me em ti, de encontro ao teu peito. Quase não falamos… Já não consigo olhar-te de olhos nos olhos como me ensinaste a fazer, quando eu te dizia, que tinha medo de olhar, olhos nos olhos a revelar-me. Já não consigo. E tu partes. Vais pela pequena rua deserta da tua cidade demasiado grande em mim. Fiquei aqui a ver as águas do braço da ria que escorrem. Dentro em pouco tomo o rumo da estrada para me afastar de ti e nem consigo dizer-te adeus.
Nem sei porque vim
Não sei para onde vou agora, assim, triste.
Já não sei de nós.
Só esta tristeza a minar o corpo. A entorpecer os sentires.
Da última vez, sabes, fui a medo ter contigo. Sentia-me estranho em mim e em ti, o medo de não te reconhecer. De não me quereres.
Não deveria ter ido.
João Outono 2007
Fotografia de Barcoantigo 2007