quarta-feira, agosto 15, 2007

Do teu dia de anos …


Quantos anos fazes hoje?

já não sei, perdi-lhe a conta.
Tens os anos do sentir, os anos da memória.
Habitas em mim e fazes anos sempre que queres e sempre que contigo partilho a Luz.
Estás ai e aqui ao meu lado.
Uma espécie de amor secreto que só as mães sabem partilhar.
Mas o facto é que tenho saudades tuas.
Da tua presença física.
Hoje dei-me conta que partiste cedo demais.
Eu sei.
Porque me disseste depois, num dos raros regressos do espírito a mim, que a tua hora era aquela, que estavas sofrendo agarrada a um corpo inútil já, e que a tua alma/espírito livre tinha de ir.
Haja o que houver espero sempre que voltes e que estejas aqui ao meu lado enquanto escrevo de novo para ti.

Ontem andei no mar da Póvoa.
Estes dois dias são de memórias e de recolhimento interior.
Ontem enquanto a lancha entrava a barra de todos os medos e todos os naufrágios, olhei a nossa antiga casa, a janela do meu quarto.
Quase que juro, que eras tu e eu que estávamos de novo à janela como fizemos tantas vezes nos dias de temporal e regresso dos barcos.
Lembras ainda o naufrágio dos meus companheiros naquele Inverno tão rude.
Ontem na quietude do vento lembrei-me deles e de ti e de mim.
As memórias tão por dentro sentidas. Espécie de fantasmas na memória


Sabes Mãe…
Faz demasiado tempo que não te escuto.
Mas sei o som da tua voz em mim.
Por isso aprendi a não sonhar quando durmo.
Porque sei que velas por mim e que sofres se te chamo.
E porque tudo parece confuso mas não é...
Porque a luz é branca a tua luz.
E hoje, nas minhas memórias ao ver esta foto amarelecida pelos anos recordei as palavras que te escrevi três anos depois de teres partido, e como hoje serias menina de novo, e porque escrevo porque me apetece sem ter de dar satisfações a ninguém dedico-te estas palavras outra vez

Ainda não consegui dedicar-te outras...


Teu filho, 15 de Agosto de 2007

13 comentários:

Maria disse...

Tenho um imenso nó na garganta, João, e dos meus olhos nasceram rios que um dia afogarão todos os nós no meu mar. Os meus nós todos. Um dia....

Um abraço sentido

filipelamas disse...

Um sentido abraço!

Anónimo disse...

O Mar e a saudade são palavras carregadas de momentos e sensações tão lusas, tão nossas, tão portuguesas...
Senti as suas palavras como não as sentia há muito.
Gostei muito.
Gosto da sua escrita.
É cheia de alma.

Ana Luar disse...

Tão lindo João... Tão lindo!

És unico nas palavras........ e tb na forma de amar.

Beijos de uma amizade eterna....

Lumife disse...

Recordações sentidas. Lembranças sempre presentes. Homenagem merecida a quem tanto se ama.

Grato pela visita.

Um abraço

Anónimo disse...

Meu querido Poeta
Um beijo em seu coração

Su disse...

sem palavras
só emoção

jocas maradas de mar

Anónimo disse...

Posso dar-te um abraço?
As memórias são parte de nós, sempre e sempre, sempre.
Abraço-te João.

tb disse...

Sim João, ela é uma luz branca que vive na tua memória. E por isso e apenas por isso ela vive. Em ti sempre!
As tuas palavras tão belas repletas de sentimento. Ela muito se orgulha delas. :)
Abraço sentido e profundo de solidariedade

M. disse...

Deve ter sido bom a tua mãe ter-te tido como filho.
Um abraço.

Andreia disse...

Que feliz deve estar ela com estas palavras... Um abraço forte.

APC disse...

Fiquei só assim, tempos e tempos: com os olhos postos... No mar em que navegas (e que eram lágrimas); no horizonte onde tu vos viste à janela (amigo-menino); no branco das letras, de que é feito a luz daqueles que se ama; no preto do fundo desta folha que é como a noite que cai quando a saudade doi assim.

Lindo, João!
... Linda, a Mãe.
... Lindo o Amor.
E essa forma, tão simples, tão forte, tão completa e definitiva de o dizer.

"Tens os anos do sentir, os anos da memória. Habitas em mim e fazes anos sempre que queres"...

Um beijo amigo.

jawaa disse...

Andei por aqui a navegar pelas tuas águas múltiplas.
Gostei dos espaços que vi; porém escolhi este (para deixar uma palavra a dizer que escreves bem, escreves bonito) pela singeleza, pelo carinho, pela imagem bonita de veres tua mãe «menina de novo».
Um abraço