segunda-feira, julho 23, 2007

1º Encontro internacional de embarcações tradicionais de Aveiro


Um bom motivo para ver de perto as embarcações ...

...São as pequenas embarcações de trabalho, usadas para o mar e para os rios. Embarcações de pesca, de transporte ou de lazer, que sobreviveram até aos nossos dias, a que agora chamamos “embarcações tradicionais”.

São afinal as embarcações que foram construídas de forma artesanal, envolvendo os conhecimentos de várias gerações de carpinteiros navais, armadores e profissionais do mar.

Estão condenadas ao progressivo desaparecimento. Em 1986 a política de redução da frota pesqueira por parte da CE, incentivou o abate indiscriminado de embarcações. Conhecida como “lei do abate,” a troco de uma recompensa monetária ao proprietário da embarcação, sem salvaguardar as embarcações de trabalho com interesse histórico e tradicional.

Em 1996 o quadro do sector pesqueiro era assustador: o número de embarcações tinha sido reduzido a menos de metade, Portugal foi o país europeu que mais embarcações abateu à frota de pesca, e as embarcações de pesca longínqua tinham-se extinguido em quase todos os portos armadores. Atrás vinham a extinção das fábricas de conserva, de redes, as fundições, serralharias marítimas, fábricas de plásticos para a pesca e outros aprestos navais. A construção naval acompanha este declínio.

A montante e a jusante do barco coabitam uma infinidade de artes e ofícios que se interligam e se completam e que se extinguem pura e simplesmente com a extinção do próprio barco.

Existem hoje muitos meios de transporte e comunicação mas foram as embarcações os primeiros e mais bem sucedidos meios de transporte, permitindo passar de uma margem à outra de um rio em segurança, pessoas, bens e ideias, políticas, religiosas e culturais. Permitiam também deslocações de um sítio a outro e em alguns casos são embarcações aptas ao rio e ao mar, fazendo cabotagem e entrando pelos rios dentro, transportando mercadorias e pessoas.

As qualidades náuticas apuraram-se sempre em função da ecologia do lugar e do rio, da carga a transportar e das capacidades de quem a construía ou mandava construir. Por isso são muitas as tipologias de embarcação de transporte fluvial, variedade que garante a riqueza patrimonial de cada comunidade ribeirinha

As embarcações que ainda existem são as que sobreviveram nos estuários de rios porque continuaram a trabalhar até aos nossos dias, ainda que obsoletas e velhas.
Poucas das grandes embarcações sobreviveram e mesmo estas só pela boa vontade de Municípios, Museus, Associações e pessoas particulares.

As embarcações menores, afinal o grande universo das tipologias navais portuguesas, sobreviveram porque eram funcionais e facilmente transformadas para o motor fora-de-borda ou motor central.

Nenhuma sobreviveu pela sua inegável qualidade estética, náutica, tecnológica ou pelo seu intrínseco valor cultural ou histórico.

Só nos últimos 20 anos a sociedade científica e civil se apercebeu desta verdadeira catástrofe da qual resultou a extinção de parte significativa do nosso património náutico, marítimo e fluvial, património integrante da nossa identidade cultural como País.

Assistimos hoje à própria extinção das comunidades ribeirinhas.

Com a visibilidade que nos dão os Encontros de Embarcações Tradicionais, resta-nos a esperança de estarmos, juntos, a fazer finalmente a diferença.


Excerto da comunicação "Embarcações tradicionais Portuguesas, apresentada nas jornadas técnicas que decorreram no VIII Encontro de Embarcações tradicionais da Galiza de 05 a 8 de Julho na cidade de Ferrol

4 comentários:

tb disse...

E que nso dá um quadro muito fiel da triste realidade.
Lá nos encontraremos. Espero eu!
Abraço até lá

Besnico di Roma disse...

Não comento, está tudo dito.
Até as memórias vão no entulho… digo eu que sou amnésico.
Um abraço

Eme disse...

Parece tudo ter esquecido de que matéria se formou a história deste povo.
No entanto, ainda tenho fé no Homem :)

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

VOU DE FÉRIAS! BOAS FÉRIAS!