
Um bom motivo para ver de perto as embarcações ...
...São as pequenas embarcações de trabalho, usadas para o mar e para os rios. Embarcações de pesca, de transporte ou de lazer, que sobreviveram até aos nossos dias, a que agora chamamos “embarcações tradicionais”.
São afinal as embarcações que foram construídas de forma artesanal, envolvendo os conhecimentos de várias gerações de carpinteiros navais, armadores e profissionais do mar.
Estão condenadas ao progressivo desaparecimento. Em 1986 a política de redução da frota pesqueira por parte da CE, incentivou o abate indiscriminado de embarcações. Conhecida como “lei do abate,” a troco de uma recompensa monetária ao proprietário da embarcação, sem salvaguardar as embarcações de trabalho com interesse histórico e tradicional.
Em 1996 o quadro do sector pesqueiro era assustador: o número de embarcações tinha sido reduzido a menos de metade, Portugal foi o país europeu que mais embarcações abateu à frota de pesca, e as embarcações de pesca longínqua tinham-se extinguido em quase todos os portos armadores. Atrás vinham a extinção das fábricas de conserva, de redes, as fundições, serralharias marítimas, fábricas de plásticos para a pesca e outros aprestos navais. A construção naval acompanha este declínio.
A montante e a jusante do barco coabitam uma infinidade de artes e ofícios que se interligam e se completam e que se extinguem pura e simplesmente com a extinção do próprio barco.
Existem hoje muitos meios de transporte e comunicação mas foram as embarcações os primeiros e mais bem sucedidos meios de transporte, permitindo passar de uma margem à outra de um rio em segurança, pessoas, bens e ideias, políticas, religiosas e culturais. Permitiam também deslocações de um sítio a outro e em alguns casos são embarcações aptas ao rio e ao mar, fazendo cabotagem e entrando pelos rios dentro, transportando mercadorias e pessoas.
As qualidades náuticas apuraram-se sempre em função da ecologia do lugar e do rio, da carga a transportar e das capacidades de quem a construía ou mandava construir. Por isso são muitas as tipologias de embarcação de transporte fluvial, variedade que garante a riqueza patrimonial de cada comunidade ribeirinha
As embarcações que ainda existem são as que sobreviveram nos estuários de rios porque continuaram a trabalhar até aos nossos dias, ainda que obsoletas e velhas.
Poucas das grandes embarcações sobreviveram e mesmo estas só pela boa vontade de Municípios, Museus, Associações e pessoas particulares.
As embarcações menores, afinal o grande universo das tipologias navais portuguesas, sobreviveram porque eram funcionais e facilmente transformadas para o motor fora-de-borda ou motor central.
Nenhuma sobreviveu pela sua inegável qualidade estética, náutica, tecnológica ou pelo seu intrínseco valor cultural ou histórico.
Só nos últimos 20 anos a sociedade científica e civil se apercebeu desta verdadeira catástrofe da qual resultou a extinção de parte significativa do nosso património náutico, marítimo e fluvial, património integrante da nossa identidade cultural como País.
Assistimos hoje à própria extinção das comunidades ribeirinhas.
Com a visibilidade que nos dão os Encontros de Embarcações Tradicionais, resta-nos a esperança de estarmos, juntos, a fazer finalmente a diferença.
Excerto da comunicação "
Embarcações tradicionais Portuguesas, apresentada nas jornadas técnicas que decorreram no VIII Encontro de Embarcações tradicionais da Galiza de 05 a 8 de Julho na cidade de Ferrol