terça-feira, março 18, 2008

Amar-te é uma derrota minha...


Amar-te é uma derrota minha. Só minha.
Acordei tarde e repeti-me de novo a olhar o mar na pequena praia onde existo
Tudo permanece igual a ontem
Podes vir
Podes vir e alojar-te de novo em mim como fazes sempre
Já não me importo com as dores na pele, as dores nos ossos, as dores em mim
Já não me importo
Amar-te é um desnorte, um desacerto no rumo
Uma declinação da agulha
Um rasgar de velas
Um partir de mastros
O navio demasiado cansado a desarvorar e a borda a orçar, a amura a descair no mar
Somos um naufrágio de sentires os dois só
Só!
Imagino-te tanto
O meu mar dos sonhos
O meu mar de anseios e desvarios
Espécie de eco na neblina cerrada
- Mar!
- Mar!
- Mar!
Eu sei que te invento
Que os breves momentos em que existimos não existem e que os invento para sobreviver
Invento-te
A cor dos olhos negros na noite
A cor dos cabelos negros na noite
O cigarro na mão na noite
Tu na noite eu na noite perdido em ti
O navio que parte
O farol de braços abertos de luz branca a rodar
O rio que vaza a maré toda para o mar de sal
O mar aqui, a enseada redonda batida do vento, áspera
Toda tu és mar
Sabes a sargaço
Flor do sal
Algas vermelhas
Como me liberto de ti?
Se me estás nos poros da pele
No ar que respiro
O olhar
Amar-te é uma derrota minha. Só minha
O vento de norte chega agora
As palmeiras agitam-se dançando

Tudo permanece igual a ontem…

joão marinheiro 2008
Fotografia de Barcoantigo2008