segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Das palavras III...


Nem tudo foi mau. Nem tudo foi mau em nós. Alguma verdade existia nas tardes que passamos juntos a escutar o murmúrio das águas e o som dos nossos lábios. Nem tudo foi mau.
Ouvir a voz do mar. O oceano pleno.
Nem tudo foi mau. Escutávamos a voz do mar e eu olhava-te e falava-te de viagens e sonhos e descobertas e gostos e quereres e partilhas que queria contigo, tentando distrair-te, para que não percebesses que a voz do mar me dizia baixinho da tua partida eminente. A mim que sou marinheiro e aprendi a escutar as vozes do mar quando fala baixinho ao coração dos homens que são no fundo homens, embora nos dias, em todos os dias, sejam marinheiros disfarçados de lobos-do-mar a esconderem as emoções. Não deste por nada. Não deste por nada e continuaste a olhar para mim e a sorrir. Só eu desviei o olhar. O perdi no longe. Soube demasiado cedo da tua partida eminente.
O mar empalideceu, tornou-se lívido, um cinza esverdeado. Não me deveria ter dito nada. Distraiu-se o mar.
João marinheiro 2007
Fotografia de Barcoantigo

8 comentários:

Anónimo disse...

Tenho esta obsessão em compreender. Não me basta apreciar, não me basta ler a paixão nas entrelinhas, tenho de compreender! E ainda que eu pudesse compreender o que tu és, no teu mais profundo interior, consegues ter sempre a capacidade para me maravilhar e fazer pensar que a vida faz todo o sentido quando tudo o que tem valor permanece à nossa frente ou na nossa memória. Abraço

Anónimo disse...

adorei.. volto já para comentar..:)

Anónimo disse...

fui ler mais um pouquinho de ti,fiquei sem palavras..ofereço-te qualquer coisa..

a quietude não me tráz nada de novo
vazei de dores, vazei de amores
vazei inteira e dei ao mar
onde naufrágios não havia
só lá estava eu
sem ondas, vazia.

RUTH BAÑÓN disse...

Entré en tu blog persiguiendo los rastros de otro marinero que curiosamente también se llama Joao. En ese caso yo fui la sirena que viajó por otros mares. Tus palabras me llegan profundamente y parece que hay muchas historias imborrables que se gestan cerca del mar. Todavía guardo ese amor azul.

Bruna Pereira Ferreira disse...

Chega aqui o barulho da rebentação das ondas nas tuas palavras...

:)

Anónimo disse...

Que a voz do mar... fale baixinho
De um abraço silencioso
Em alguma casa, com alguma janela.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

João

Li as tuas palavras e até parece que estamos em sintonia(tenho 3 postes com o mesmo titulo), embora tu escrevesses em prosa...

Gostei...

tb disse...

Mesmo que seja de partida que fale, é bom saber escutar a voz do mar...
Abraços daqui deste lado do mar que também é teu.