quarta-feira, agosto 02, 2006



Não estás!
Hoje não estás comigo, e eu por não te encontrar ando novamente de roda das palavras para te dizer o quanto és importante em mim. Não estás. Tardas. E a tua ausência já não sei se me dói ou se me habitue a ela. Guardo-te comigo nas palavras. Hoje fui comprar livros, muitos livros, para aprender as frases bonitas na moda. As palavras que lés de não sei quais os autores, e vou desfolhando os livros e lendo e relendo. Paro aqui, paro ali. Penso. Esta passagem com certeza que gosta, é bonita, sentida, grande no voar. Como gostaria de te dar a mão e voar contigo, para um outro lado só nosso, feito de miríades cores. Árvores perfumadas. Magnólias. Não sei se te disse que gosto das magnólias, ficas a saber. Como gostaria de te abraçar. Perder-me na tua cintura, os meus braços como asas de um condor imponente, e voar. Mas tu tardas! Nem sei já se algum dia virás ou tudo não passa de uma fantasia minha, sei que não é um sonho porque estou acordado aqui esperando que chegues. A porta está semi fechada, e tenho a luz acesa para que saibas que estou em casa à tua espera. E tu tardas. Não sei se sabes mas tardas hoje. Logo hoje que eu queria dizer-te uma palavra importante. Logo hoje.
Olha, enquanto não chegas vou escutar umas músicas do Joaquin Tabuada, de um Cd que comprei um destes dias, do qual gosto muito, não sei se te disse já, ou se conheces o músico. Entretanto também folheio os livros, os livros que ando a comprar para me enriquecer de leituras. De palavras. Porque não sei as palavras bonitas que escreves nas tuas cartas, e lembro. Já não me escreves cartas. Dou-me conta da sua falta em mim, as tuas cartas, espero que não seja nada de mais grave que não um esquecimento ou uma falta de tempo. Que eu sei és muito ocupada, por isso te encontro sempre de fugida. Costumas fazer uma visita de medico. Dizes a brincar. Tenho de arranjar uma doença bastante grave para que demores a consulta, quem sabe assim podes ficar mais um pouco comigo.
É quase meia-noite e não chegas ainda, e tenho sono, sinto o corpo cansado, e tu por onde andas? Não sei se continuo ainda a esperar-te. Nem sei se vale a pena. Mas tu és mesmo assim, uma mulher misteriosa, envolvente, quente. Não sei o que vi em ti ou tu em mim. Em ti eu sei o que vi, claro que sei. A paixão, o desejo, o proibido apetecido. Claro que é isso, agora tu? Que raio valho eu, um velho ridículo nas ideias, desajeitado no trato. Que valho eu? Nem sei. Sei que espero por ti diariamente com a luz acesa da sala, a minúscula sala onde me lês os livros que trazes e eu te sirvo um chá naquele serviço velho e frágil de porcelana chinesa, com as tais bailarinas que sorriem para nós quando sorvemos o chá, gosto de te ver sorridente aquecendo as mãos, as tuas mãos pequeninas ao redor da chávena, bebendo em pequenos sorvos o chá fumegante. Sei preparar umas boas infusões de chá, isso eu sei. E acho piada, em pleno verão um calor sufocante e tu a beber o chã e a aquecer as mãos na chávena, dizes que assim te sabe melhor. Gosto de te olhar assim. Dou por mim com o olhar perdido em ti. Dou por mim a imaginar-te minha. Como seria beijar-te, dar-te a mão. Dou por mim…
-E não chegas! Fico preocupado, sabes. O chá esfria.
Logo hoje que te queria dizer uma palavra importante.
Não faz mal, tenho de me habituar à tua ausência. Vens quando te apetece, quando queres aquecer as mãos e saborear um chá. Quando te apetece ler uma passagem que achas bonita num livro que estás a ler. Obrigado por vires.
Acabou a música no Cd, vou colocar a tocar de início, tenho ainda a ténue esperança que voltes. O chá está frio já. Faço outro se vieres. Mas tu tardas.
Acho que já não te vou dizer nada. Acho que foste embora mesmo.
Não estás!

João marinheiro ausente 02/08/06
Fotografia Google

9 comentários:

Anónimo disse...

Feliz quem consegue que o que lhe vai no peito e na alma transborde para as palavras e tão belas como as tuas. Assim elas fazem parte exterior de nós e podemos contemplá-las aliviando o peito...mas quem não consegue...

Ana Luar disse...

Simplesmente lindo João...

Anónimo disse...

Ainda bem que me deste a conhecer este teu cantinho.Valeu a pena.Voltarei mais vezes.

isabel mendes ferreira disse...

________________________eu tb não estou.



embora excepcionalmente aqui. para te agradecer. Tudo.



abraço Mar.....

Claudia disse...

Até me doeu meu João ler-te, ler-nos. Eu estou cá. Sempre cá. Mais ausente, mas sempre contigo, sempre em ti...

Beijo enquanto te faço perceber que fico contigo

Ana disse...

Muito bonito :-)

Su disse...

gostei de ler.te
jocas maradas de ausencias

Mikas disse...

Porque não lhe dizes que a esperas...

cm disse...

Lindo este amor... o que dizer perante estes sentimentos, estas palavras... está tudo aqui, para quê procurar nos livros, outras palavras... elas estão todas aqui!
Lindo
sorrio-te.