segunda-feira, junho 11, 2012

Ahh, se tivessemos mar...





Ahh, se tivessemos mar...

"Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE)


demonstram que o Pingo Doce (da Jerónimo Martins) e o Modelo


Continente (do grupo Sonae) estão entre os maiores importadores


portugueses."

Porque é que estes dados não me causam admiração? Talvez porque, esta


semana, tive a oportunidade de verificar que a zona de frescos dos


supermercados parece uns jogos sem fronteiras de pescado e marisco.


Uma ONU do ultra-congelado. Eu explico.


Por alto, vi: camarão do Equador, burrié da Irlanda, perca egípcia,


sapateira de Madagáscar, polvo marroquino, berbigão das Fidji, abrótea


do Haiti? Uma pessoa chega a sentir vergonha por haver marisco mais


viajado que nós. Eu não tenho vontade de comer uma abrótea que veio do


Haiti ou um berbigão que veio das exóticas Fidji. Para mim, tudo o que


fica a mais de 2.000 quilómetros de casa é exótico. Eu sou curioso,


tenho vontade de falar com o berbigão, tenho curiosidade de saber como


é que é o país dele, se a água é quente, se tem irmãs, etc.


Vamos lá ver. Uma pessoa vai ao supermercado comprar duas cabeças de


pescada, não tem de sentir que não conhece o mundo. Não é saudável ter


inveja de uma gamba. Uma dona de casa vai fazer compras e fica a


chorar junto do linguado de Cuba, porque se lembra que foi tão feliz


na lua-de-mel em Havana e agora já nem a Badajoz vai. Não se faz. E é


desagradável constatar que o tamboril (da Escócia) fez mais


quilómetros para ali chegar que os que vamos fazer durante todo o ano.


Há quem acabe por levar peixe-espada do Quénia só para ter alguém


interessante e viajado lá em casa. Eu vi perca egípcia em Telheiras?


fica estranho. Perca egípcia soa a Hercule Poirot e Morte no Nilo. A


minha mãe olha para uma perca egípcia e esquece que está num


supermercado e imagina-se no Museu do Cairo e esquece-se das compras.


Fica ali a sonhar, no gelo, capaz de se constipar.


Deixei para o fim o polvo marroquino. É complicado pedir polvo


marroquino, assim às claras. Eu não consigo perguntar: "tem polvo


marroquino?", sem olhar à volta a ver se vem lá polícia.


"Queria um quilo de polvo marroquino" - tem de ser dito em voz mais


baixa e rouca.

Acabei por optar por meio quilito de bacalhau da Noruega, assim como


assim, já estamos habituados. Eu, às vezes penso: o que poupávamos


se Portugal tivesse mar.

Recebido por mail, não conheço o autor mas palavras para quê!

Fotografia de Manuela Azevedo www.olhares .com

2 comentários:

Maria disse...

Se tivessemos mar tínhamos esse peixe todo de que falas.
E bota aí também percebes das Berlengas. Isto se tivessemos mar. E Ilha...

Abraço, já de terra.

Bruxinha disse...

Seja lá quem for o desconhecido, está simplesmente fantástico! :)