domingo, outubro 18, 2009

(livro de contos)


Apetece-me beber um copo. Lisboa é para mim uma cidade estranha hoje, sou um estrangeiro por cá, é isso. Lisboa é uma cidade bonita interessante para se desfrutar com uma companhia, para se partilhar. Dou-me conta que nos últimos anos tenho sido só, sem partilhar o tempo e as emoções. Desço a avenida em direcção ao Rossio, gosto de me sentar na esplanada da pastelaria que não lembro o nome, só a reconheço pela escultura de Pessoa o poeta. Espero que esteja ainda aberta, gosto de me sentar ali e observar o movimento das pessoas. Lisboa é uma confluência de culturas e de raças agora, já o era quando aqui estive a estudar, mas hoje são muito mais as pessoas que aqui deambulam, de raças diferentes, mais africanos, mais asiáticos, mais dos países de leste, é fácil de os reconhecer, pelas roupas, pelo tom de pele, pelos modos. Lisboa é uma cidade de contrastes.
A pastelaria está aberta, hoje o fim de tarde é esplêndido, quente e luminoso. A esplanada completamente cheia, nem uma mesa vaga, olho em volta, pareço meio perdido na névoa, é assim que me sinto por breves momentos. Apetece-me sentar-me em qualquer lado e descansar um pouco, sinto-me terrivelmente cansado. O almoço em casa dos pais de Laura, o reencontro com Laura ainda estão dentro de mim a fazer estragos, ou sou eu que ainda não tive tempo para clarear as ideias. Por breves momentos tenho a impressão que estou a ser observado. Uma sensação que sobe por dentro do estômago à garganta, uma espécie de pânico silencioso. Instintivamente busco com o olhar alguém ao redor. Debaixo de um guarda-sol acenam-me, acho que me acenam, um casal está sentado, dirijo-me para eles e reconheço Esmeralda, a funcionária do hotel onde estou hospedado.
- Sente-se aqui connosco Sr. comandante, a esplanada está cheia diz Esmeralda. Obrigado, aceito o vosso convite, estou cheio de sede e de calor, digo enquanto me sento ao lado do jovem que acompanha esmeralda e me apresento. Sou o João Pedro estou hospedado no hotel onde trabalha a menina esmeralda digo enquanto estendo a mão num comprimento.
– Olá João, sou o Filipe irmão da Esmeralda, a minha irmã disse-me quem era quando o viu descer a avenida. Olho Esmeralda neste repente, os seus olhos estão a observar-me, e sinto outra vez aquela sensação estranha de estar a ser observado sem saber de onde.
– Obrigado de novo Esmeralda pelo convite a partilhar a vossa mesa, a verdade é que não se arranja lugar a esta hora, e mesmo que alguma mesa estivesse vazia é sempre mais agradável estar aqui sentado com companhia. Lisboa é uma cidade para se desfrutar em companhia acho eu, mas posso estar enganado.
– É capaz de ter razão comandante, costuma-se dizer que Lisboa é uma cidade mágica, mas eu pessoalmente penso que a magia existe nas pessoas e não depende do lugar ou do momento, diz Esmeralda a rir.

(continua)

2 comentários:

Maria disse...

Tão bom voltar a ler-te...
é um regresso ao conto?

Abraço daqui, com o Bugio em frente

Parapeito disse...

Lisboa tem de facto para mim uma certa magia...ainda encontro as mesmas esquinas...os memsos pedrados que pisava quando criança...
E depois nesta altura gosto muito de descer a avenida desde o Marquês até á Ribeira das Naus.
Esse café nao será a Brasileira no chiado? :)
Dias cheios de brisas mansas*