segunda-feira, outubro 26, 2009

(livro de contos)


– Bom vou deixa-los porque tenho alguns afazeres ainda diz Filipe enquanto se levanta. A despesa é por minha conta. Prazer em o conhecer João Pedro, apareça um dia destes para dar-mos uma volta por Lisboa se quiser.
- Obrigado pode ser que aceite o seu convite, ainda vou estar por Lisboa mais uns dias antes de ir para Londres.
Olho Esmeralda nos olhos, está a sorrir, o seu rosto espelha alegria, os olhos são dois pontos brilhantes, duas pérolas luzidias que sobressaem aqui nesta esplanada tão concorrida, tão a transbordar de pessoas. Ou sou eu que me admiro com a sua serenidade o seu ar feliz. Esmeralda é uma mulher bonita que prende a atenção, simpática, sou tentado a querer conhece-la melhor, mas a minha timidez, não me deixa à vontade para lhe perguntar quem é, sei lá se não me vai achar uma pessoa demasiado curiosa ou intrometido.
Durante uns momentos, demasiado longos acho, estivemos calados, sinto que agora é Esmeralda que me observa, tenho outra vez aquela sensação de estar a ser observado.
- O João Pedro acredita em coincidências, ou nas partidas do destino?
- Não sei Esmeralda porque pergunta isso?
- Se lhe disser que já o conhecia. Acredita?
- A Esmeralda está a dizer que já me conhecia? De onde? Como pode ser possível?
- Partida do destino ou a tal coincidência João Pedro. Diz Esmeralda a sorrir enquanto solta uma pequena gargalhada. E não faça essa cara de incrédulo ok. Deixemo-nos de formalismos, eu não gosto de tratar os amigos por senhor, nem doutor nem comandante ok, tu, para mim és um amigo que quero descobri, conhecer melhor, afinal à mais de 5 anos que desapareceste e não sonhava encontrar-te de novo. Muito menos no hotel onde agora trabalho. Foi uma surpresa quando abriste a porta do quarto e te levei o jantar.
Mas de onde me conheces Esmeralda? Pergunto cheio de curiosidade.
Daqui de Lisboa mesmo, temos, ou tínhamos uma amiga comum, Laura, diz a sorrir enquanto me olha inquiridora, já estiveste com ela?
Sim estive, respondo, estive em casa dos seus pais a almoçar hoje, e estive com ela, ainda sinto o efeito do reencontro. É natural diz Esmeralda.
– Laura casou com um colega médico, vivem no norte, está de bebé, falei com ela ontem pelo telefone. Não lhe disse que te tinha encontrado aqui em Lisboa, foi a tal coincidência que te falei à pouco, hoje ela veio com o marido para um congresso de medicina e passou em casa dos pais e tu, por coincidência hoje foste visitar os seus pais e foste em sua busca. Partida do destino, hoje eu que estou de folga estava aqui com o Filipe e tu vinhas descendo a avenida meio perdido nesta cidade viva de movimento, ou não é verdade. Demasiadas coincidências.

- Conheço-te do tempo da Escola Náutica. Lembras o café onde paravas, onde ias com Laura, é dos meus pais, era porque já o venderam. Na altura estudava Relações Internacionais fazia o 2º ano da faculdade, Laura estava em medicina também no 2º ano, tu fazias a especialização. Cumprimentamo-nos duas ou três vezes só, durante esse ano. Depois quando foste embora, cheguei a falar com a Laura muito sobre ti.. Laura sofreu um bom bocado, foste demasiado duro e insensível com ela, acho que te amava, embora fossem só amigos. Nunca me disse mas notava-se o seu grande carinho por ti quando falávamos as duas.
- Imaginavas uma coisa assim. Uma partida do destino destas. Os dois aqui no Rossio a falar de um tempo à cinco anos atrás. As probalidades, uma num milhão de aqui estarmos, tu e uma desconhecida que sabe de ti, da tua passagem por Lisboa, do amor marinheiro deixado no porto a desaguar nas águas frias do Tejo. ..

( continua)




1 comentário:

Maria disse...

Afinal cinco anos é pouco tempo. Quantas vezes nos voltamos a cruzar com amigos ou amores que não víamos há tanto mais tempo... e não é preciso ser um amor marinheiro, basta ser um amor menino...

Sorrio-te. E deixo um beijo...