quinta-feira, outubro 05, 2006

Uma história...O final possível

Este é o final possivel para uma história que um dia postei aqui no memórias virtuais.Porque este blog tem esse proposito, fazer jus ao nome. As minhas memorias virtuais agora, porque não passam de memorias espaçadas no tempo, espessas no tempo, láminas no tempo...
Obrigado a quem tem a paciência, o trabalho de ler. Gosto de escrever admito, quando escrevo sou outro, como quando navego. Quando sinto o vento e o sabor do sal na boca, sou livre, fora disso deixo de ser o marinheiro ausente que sou...
VIII

Vou até ti…

Quero ir até ti. Em tua busca. Estou farto de olhar os números do telemóvel que ficaram e não tenho a coragem de premir. Pareço um puto de volta do brinquedo. E estou exausto acredita. Chego a um ponto, uma espécie de promontório ventoso de onde não sei sair. Acho que estou viciado. Viciado em ti, nem sei se é um vício o que sinto já, não sei, sei que me fazes falta, és uma espécie de presença que existe mas não se toca. Tentei substituir-te, como uma peça de um carro que avaria, mas tu és demasiado especial, peça única valiosa, nem te dás conta do valor que tens em ti, não consigo substituir-te, fico com o carro cheio de defeitos…
Tentei escrever-te, não sei se recebes as minhas palavras, porque agora que já passaram todos estes anos e eu me sinto mais triste, acho que já não vale a pena escrever-te. Também acho que já não tenho a coragem para te procurar, para dar os passos que me levem até ti. É o que mais desejo acredita. Para recomeçar ou matar de vez o amor que sinto. Porque, dou-me conta, não é um amor bonito este que sinto. Existe uma espécie de véu que me tolda o olhar, sempre, e me impede a amar de novo completamente outra mulher. Assim sobrevivo e o teu amor mata-me lentamente. O mais grave é que tu já não me amas, então tudo isto não passa de uma teimosia minha ou uma loucura. Enlouqueço aos poucos, fecho os olhos para não te ver, mas tu vens, vens profundamente. Assim, construo um outro mundo paralelo onde vivo e escondo o teu para que não se saiba que é doloroso e obscuro, um lugar construído em silêncios e paixão. Quero ir até ti. Mas vou só no tal mundo paralelo de ruas estreitas. Tenho medo. Parece que te encerrei numa masmorra com porta espessa e paredes de metro onde o sol não entra e o barulho da vida não existe. Não consigo olhar-te de frente. Ou libertar-te.
Que me adianta ir pelo meio da rua, que me adianta olhar as pessoas. Sabes, deixei de olhar nos olhos de frente, deixei de olhar os olhos de outra mulher com medo de me apaixonar, o medo de revelar um amor que existe encerrado e em segredo em mim. Tu não sabes. Tu não imaginas. Não é importante o pormenor. Mas, as lágrimas assomem aos meus olhos quando te escrevo. Porque a tua saudade mata-me aos poucos, tira-me as forças, sangra-me. Por isso tento não te lembrar para não morrer de amor por ti. Mas hoje não resisti. Olha o resultado. O que acontece. Como fico extenuado…
Acho que errei em algo na minha vida, já te escrevi a dizer isto mesmo, que o meu amor por ti padece de algum mal misterioso. Ficamos a meio de nós, e eu pareço o vagabundo doido a meio da ponte pênsil em dia de ventania. Balanço ao sabor dos ventos que me esfriam o corpo, mas vou sempre seguindo mesmo a medo para o outro lado de mim. E tu não estás para me dar a mão.

Queria navegar até ti. Encontrar-te uma última vez na nossa praia do cabo do mundo. Dar-te a mão. Não precisas de me dizer nada. Basta que estejas ali tu, com a tua presença o teu perfume, o brilho do teu olhar. Basta-me isso. Já te disse que me contento com pouco e a tua presença já é mais que muito, já é tudo para quem não tem nada. E eu de ti não tenho nada. Só a saudade e o pequeno livro com dedicatória que me ofereceste um dia lá no sul junto ao Guadiana. Mas já o li não sei quantas vezes, preciso que me ofereças outro urgentemente. Preciso de ti. De te olhar, mesmo que já não olhes para mim da mesma maneira. Quem sabe assim não me curo de vez. Não tenho uma imensa desilusão, e assuma que tudo não passa de um labirinto confuso que eu construo dentro de mim para me sentir vivo. Quem sabe. Temos de fazer a experiência pois só experimentando se sabe e se aprende.
Existe um problema que é grave em tudo isto. É que o beijar-te não foi uma experiência. Ás vezes, nas noites onde me sinto perdido, envolto nos pesadelos, agitado, tu chegas e beijas-me de novo, eu sinto os teus lábios, a tua boca pequena em mim, o calor dos teus seios junto ao meu corpo, então sereno dissipam-se os pesadelos, finalmente descanso.
E isto é muito grave, porque não sei se imagino já, ou acontecemos os dois um dia. Assim vivo sempre num dilema desde que foste embora. Se te perpetuo na memória ou te renegue. Mas és tu que me acalmas nas noites de temporal, nas noites de sofrimento quando me sinto com o corpo dorido, as minhas dores de costas que não passam, são uma espécie de hera trepadeira que me envolvem. Tu tens o dom de me acalmar. A tua voz serena-me. As tuas mãos que afagam são um linimento milagroso nas minhas costas. Toda tu és um milagre de amor que acontece, e eu que já não acreditava em milagres sinto as dores passarem pela imposição do calor das tuas mãos pequeninas.

Possivelmente esta é a ultima vez que te escrevo. Já não vale a pena, sinto que já não vale a pena confessar o meu amor por ti.
Este que é um amor puro. Branco. O amor puro é sempre branco, os outros podem ter todas as cores. Ás vezes são negros, mas isso não é amor verdadeiro, os amores negros são perigosos. Este é um amor branco verdadeiro, da cor do linho puro. Um amor que perdura para alem da distância ou da saudade. Não envelhece. Eu sim. Desfaleço todos os dias. Imagino-te sempre perfeita. Ficaste parada no tempo, não envelheces, o teu riso tem ainda o mesmo timbre, o olhar o mesmo brilho, os cabelos o mesmo perfume, os teus gestos de manhã são os mesmos. Gostas de acordar devagarinho, eu observo-te ao acordar, gosto de passar os meus dedos nos teus cabelos espalhados na brancura dos lençóis, gostamos do branco os dois. Gostas de ficar frente ao espelho na casa de banho lavando lentamente o rosto. Eu gostava de te agarrar e beijar no pescoço. De envolver os teus seios redondos nas minhas mãos grandes. Estremecias sempre, e eu queria-te ainda mais…Gostava de ver como espalhavas o creme, para evitar as rugas dizias a sorrir. Ficas parada nesse tempo na minha memória. E hoje nem sei se vale a pena alterar esse tempo sublime e breve porque sei que não estamos mais iguais ou se nos iríamos reconhecer.
Estou a escrever-te neste computador que me tem acompanhado ao longos dos anos, também ele se ressente, mas vou trocando as peças, acrescentando memória, gravando e apagando no disco, em mim não consigo fazer isso. Ás vezes tenho vontade de carregar no reset e iniciar tudo de novo, na esperança vã que o tempo ande para trás e voltemos ao início. Sei perfeitamente que isso nunca vai acontecer por ser impossível, assim vivo com o possível no momento e com este computador por onde espero que surjas on-line, mas não surges nunca, ou se surges não é aqui no meu computador. Acho que também já não é importante isso.
Tenho medo de não te reconhecer, de seres uma estranha para mim. De eu ser um estranho para ti. Sei qual é a sensação de ser estranho na nossa terra. Sei por experiência pessoal porque o tenho sentido ao longo da vida. Já não me reconheço na terra onde nasci. Tenho medo que sintas isso por mim e eu por ti. Que já não sejas a mulher que amei um dia e que habita em mim num lugar secreto. Por mais que se estude o coração, a máquina fabulosa que é, nunca se chega a compreender o seu sentir. Dizem que se guarda o amor no coração, eu não sei onde guardo o teu amor, acho que és um todo em mim. O amor tem de ser inteiro não pode ser aos bocados, interrompido, isso não é amor, pode ser paixão ou outra coisa qualquer mas amor não é de certeza, pelo menos da forma como eu o concebo, grande, pleno, puro. Envolvente. O nosso amor foi assim, durou foi pouco tempo, foi breve mas forte, gravado a fogo, perdura escondido no meu corpo num lugar de acesso difícil. Sente-se, é isso. Sinto-te como um movimento perpétuo em mim.

Já não sei que faça. Dói-me a cabeça. Hoje acordei com a necessidade de te escrever. De saber de ti. De te querer. De te ligar. Tenho dias assim, acho que estou a ficar doente pois os dias assim são cada vez mais. Mais uma vez não o faço. Sei que não atendes por saberes qual o meu número. Podia ligar de um número privado, não o faço. Não o faço porque me parece mal fazer isso. Espero que um dia me atendas se eu ganhar a coragem para te ligar. Passar dos pensamentos aos actos. Não olhar só para os números mudos e frios no mostrador. Tenho de arranjar um telemóvel inteligente, que me leia os pensamentos e que por iniciativa própria te ligue, e que te diga o que já deves imaginar e eu não disse. Sabes. O que existe é uma falta de comunicação em nós, isso é o que existe. Mas respeito a tua opção o teres saído da minha vida sem uma despedida sem um adeus. Eu também não me despedi de ti. Ficamos a meio de nós, entendes, uma espécie de história interrompida. Falta-nos o fim. Fico sempre esperando que voltes, que a tua ida tenha sido um até mais logo, um até breve. O breve tornou-se longo e o longo tornou-se distante. A distância dilui-se no tempo o tempo já não existe em nós. Um dia escrevi sobre o tempo, umas palavras de que recordo só o nome: “O tempo que temos” acho que nunca leste o que escrevi. Tenho a impressão, quase a certeza que nunca lês o que escrevo. Eu também já não te envio nada do que escrevo. Faz anos que não te mando nada, que não partilho os meus escritos contigo, mas todos os dias quase como uma rotina diária ao abrir o pc o teu endereço aparece em primeiro lugar, já tentei apaga-lo mas arrependo-me. Pode ser que um dia me queiras escrever, ou possas de novo aparecer no msn, esta coisa nova que dá para teclar à distância e mascarar as saudades. Sei que estou bloqueado no teu pc, só pode. Um dia falaste disso, uma das últimas conversas que tivemos já a magoar os sentidos. Disseste e fizeste, não te sabia tão determinada. Mas admiro isso em ti, essa força que tens de não te amarrar a nada, de não teres saudades, de não olhares para trás para o passado. De seguires sempre em frente. Tu tens razão. Admiro-te por isso. A tua força. Eu já não sou assim. Tenho andado em busca de uma explicação para isso, para este meu sentir, para a dor que sinto, as saudades que incomodam, deve ser coisa da infância, só pode. Tive uma separação que me marcou em menino. Deve ser disso, as saudades que sinto devem vir dai. Hoje falo-te nisso. Quer dizer, não te falo, escrevo, e ao escrever liberto-me de mim, de ti, da memória conjunta. Tenho já dificuldade em recordar o teu rosto nítido. Tenho de fechar os olhos para te ter plena, abstrair-me do mundo ao redor. Mas isto é a evolução natural do tempo. O tempo tudo cura, tudo patina com a capa da distância dos anos. O envelhecimento é lento e progressivo, chegamos ao auge e depois definhamos. O tempo é o melhor remédio para tudo, e eu, à medida que vou tendo mais tempo para mim vou deixando de ter tempo para ti. Queria saber parar o tempo por uns tempos e ter-te de novo, fazer o tal reset milagroso. Depois deixava-te ir como uma andorinha que parte no início do Outono. Reparo que as que por aqui faziam os ninhos já partiram, estamos no Outono, nem me dou conta do tempo. Eu vivo, não existo. Deve ser isso, esta falta de atenção ao que me rodeia. Escrevo-te enquanto escuto musica do Leo Ferré, “Cette Blessure”, gosto de escutar as musicas do Leo, falei nisso um dia, dizias que não eram musicas para a tua idade, eu sei, temos uma diferença de idade que se nota mas não é importante. Gostavas de me oferecer as musicas que gostas de ouvir, agora não sei se gostas das mesmas, ensinaste-me a conhecer novos grupos, novos estilos. Durante não sei quantos meses só tocaram os teus cds, sentia-te assim mais próxima. Mas afastaste-te, até porque eu comecei a saber de cor cada faixa de cada cd. A coisa começou a tornar-se repetitiva, e na música como no amor não podemos ser repetitivos sob pena de definharmos, de entrarmos num círculo rotineiro e perigoso que tende ao extermínio do amor e á abolição da música. Assim mudei os cds, fui ás compras, escolhi alguns dos mesmos grupos, penso que tu também gostas destes que comprei, fica a duvida e a impossibilidade de saber a resposta. Também comprei novos livros que leio. Livros diferentes dos que costumava comprar e ler, já não leio livros que falam dos barcos antigos e do património que permitiu o nosso reencontro, lembras? Agora compro livros de autores da moda, alguns que falam do amor, alguns que nem sei do que falam mas também isso não é importante, o importante é que leia e me distraia de ti. Dou-me conta que tudo o que te escrevo, tudo junto parece um livro. Pena eu não ser um escritor famoso, se o fosse dedicava-te um livro, escrevia para ti um livro com dedicatória, e isso seria o motivo para ir em tua busca, para te oferecer o livro, seria um motivo mais que suficiente para fazer isso. Como não sou escritor, não te escrevo o tal livro em tua memória com dedicatória, nem vou em tua demanda. Como vês tenho quase tudo contra mim…Digo quase porque não desisto. No dia que desistir deixo-me afundar juntamente como o navio dos meus sonhos e afogo-me de vez, afinal o mar corre-me no sangue e é lá o meu último lugar, no mar profundo. Não sei se gostas do mar, acho que nunca falamos disso em pormenor, gostavas de me acompanhar na beirada da praia no cabo do mundo e apanhar beijinhos, aquelas conchas pequeninas e mágicas. Mas isso não quer dizer que gostes do mar da mesma forma que eu, ou o sintas como eu. Mas também não é importante saber isso de ti. Dou-me conta que não sei nada de ti. E isso assusta-me. Assusta-me não saber nada de ti, e assusta-me o já não ser importante o saber algo de ti. Parece uma contradição tudo isto. E é, somos uma enorme contradição, assim anulamo-nos, não nos queremos, não nos amamos. Aqui discordo. Eu ainda amo, não me adianta é rigorosamente nada, o que é outro universo bem diferente do universo onde te guardo e habitas em mim. Já te falei disso no início das minhas palavras.
Acho que estou a ser extremamente monótono. Repetitivo, acho que mesmo estúpido. Mas peço-te desculpa por te maçar com estas palavras que escrevo, não é uma carta, não tem o propósito de ser uma carta, é mais uma história nossa, à qual eu tento dar um final feliz como todas as historias de amor que se prezem. Não vou é terminar com a frase: E foram felizes para sempre…Porque não corresponde à verdade. Ainda estou a tentar descortinar um final para nós, um final onde eu não me sinta vencido ou impotente. Porra! Na lei dos homens, os homens ganham sempre, ou não é assim. No amor e na guerra, devíamos ganhar sempre, afinal somos o sexo forte. Quer dizer, sei de alguns que ganham sempre, ás vezes leio isso nos tais livros que comprei, mas fico com a impressão que não falam de amores brancos, falam de amores com outras cores, e para mim o amor é branco, não vou repetir de novo o que já te disse atrás e penso ainda recordas. Tu ganhas-me em matéria de amor. Mas também não deve ser um facto importante a esta distância. Eu não vivo, existo. Lembras? Na maioria dos dias sobrevivo, o que já é uma enorme vitória pessoal, assim também sou feliz, pode ser pouco, mas para mim já é muito. Sobrevivo sem ti. Aprendi a não te buscar em cada rosto de mulher. A não olhar nos olhos directamente., A não olhar o céu sempre que escuto um avião, já me habituei porque moro num sitio onde eles passar regularmente. Também cresci por dentro e envelheci por fora, mas não me importo. Tu é que estás igualzinha para mim. Não tenho uma foto tua para comprovar isso, as que tinha perderam-se um dia, uma história que não quero recordar. Até porque a minha memória ao contrário do computador não dá para acrescentar. Noto que está em movimento decrescente a esvair-se, fica só a memória antiga, a memoria presente é fugaz, como clarões que passam e isso traz-me muitas dificuldades no dia a dia. Acho que também isto se deve ao facto de ter abusado em novo do mergulho em profundidade, as minhas apneias prolongadas ao limite do folgo, durante anos, os anos intensos que vivi no Algarve, agora o cérebro ressente-se da falta de oxigénio desses tempos…a cabeça não tem juízo e o corpo paga. Pode ser mais tarde mas paga, dou-me conta que paga. Adiante que não quero falar-te de mim, ainda se fossem coisas bonitas, agora estas coisas que não são importantes. Se calhar é porque já não sei o que te dizer mais, além de dizer quer me apetecia ir até ti hoje. Mas é uma tarefa impossível eu sei. Vou de memória como tenho feito estes anos todos. E tu estás em casa sitio onde pouso o olhar. E ás vezes descanso o olhar em ti. Tu não estás é certo, mas é como se estivesses, és como eu queria que fosses. Perfeita. Ao redor o mundo é que é imperfeito, e eu como faço parte desse mundo também sou, cheio de arestas vivas que cortam ao toque, por isso foste embora, com medo de te cortares. Eu sou uma espécie de vidro reciclado grosseiramente, daqueles cheios de bolhas de ar prisioneiras por dentro. Tem graça que é assim que me sinto muitas vezes. Prisioneiro desse mundo paralelo, encerrado numa bolha de ar. A diferença é que por lá o ar está rarefeito, perigoso, pouco, e eu noto a arritmia em mim, o desfalecimento, a vertigem, a embriaguês da narcose. Vou ao fundo. A custo liberto-me do lastro como tenho feito muitas vezes e subo à superfície, quase a sucumbir, os pulmões a arderem, a quererem sair do peito. Queimam por dentro. Nunca faças uma coisa destas por favor, eu fiz por sobrevivência, para me testar, para saber os meus limites, agora não faço porque tenho já medo, e, descobri que afinal não tenho um coração perfeito, as batidas que sentia lembras, eram prenuncio de algo. Faz tempo despedi-me do mergulho. agora vivo das lembranças, da liberdade que sentia, do prazer que era. Já não é, porque a vontade ainda é muita de ir de novo para o silêncio azul. O mar puxa-me para ele porque ele sabe que o amo e principalmente o respeito, pronto! Revelo-te, não sei se alguma vez desconfiaste deste meu amor pelo mar. Não existe ciúmes, ele está sempre lá, eu, é que sou um marinheiro muito ausente mesmo. Não te vou dizer para que não tenhas ciúmes deste meu outro amor, seria extremamente ridículo dizer-te isso. Até porque tu já não me tens amor, que eu sei, eu sinto essa verdade, estou quase como uma balança defeituosa, de dois pratos mas só com um, portanto inútil. Não pesa, finge, e os pesos estão errados por lhe faltar a tara. O meu amor de respeito pelo mar não faz concorrência desleal com o que sinto escondido por ti. São diferentes. Um de existência, outro de sobrevivência. Sobrevivo sem ti. Vê lá a imensidão deste amor. Aqui ele toca-se, as tais linhas paralelas que ás vezes falo, aqui tocam-se finalmente. A imensidão do meu amor por ti confunde-se com a imensidão do mar que amo. Ás vezes, ao olhar o horizonte és tu que vejo caminhar sobre as ondas lá onde o sol se põe, na linha do horizonte, e vens resplandecente, é por isso que me farto de fotografar o por do sol, a ver se de uma vez por todas fico com uma foto tua mesmo distante, uso um zoom de dez vezes mais o digital, e a máquina no máximo das definições possíveis e impossíveis, mas nunca apareces na foto, só os meus olhos te vêem. Assim não posso provar nada. Que te vejo a caminhar sobre o mar. Passo por louco. Mas só o Cristo tinha o dom de caminhar sobre as águas, e acalmar os mares, e multiplicar os pães, e transformar a água em vinho, e ressuscitar os mortos. Estou meio moribundo dou-me conta. E não era isto que eu queria hoje, queria ir até ti com todas as forças, no máximo do meu vigor. O mais alerta possível nos sentidos. Excitado até, tu sabias como me dar a volta, ou me excitar…Às vezes ainda me dizem para não me prender ao passado. Como pode ser possível não me prender. Se não me prendo fico vazio, sem nada, será isso viver? Um homem vive vazio de nada? Eu não vivo, vivo com pouco, não sou de muitos gastos, a tua memória alimenta-me, não será um manjar, será um pão ázimo, sem fermento, uma espécie de pão da última ceia, portanto respeito este pão que me alimenta o suficiente para me manter vivo e lúcido. E quando penso em ti, tu renasces porque o meu espírito que é livre te visita e vela por ti para que nada te falte, para que te sintas feliz. Porque se estiveres feliz eu também estou. Amor é isso. O meu amor de branco, como gosto de o ver é isso. Uma dádiva de partilha sem algemas, sem prisões, livre como o pensamento. Confesso que por momentos te queria prender nos meus braços como antigamente, mas isso sou eu a cometer um pecado egoísta. Tu és livres de voar. Não voaste, foste de avião, eu fui levar-te ao aeroporto. Nunca mais lá voltei àquele aeroporto, dizem que já está diferente, as tuas pegadas na porta de embarque já não existem, substituíram o piso do chão e diariamente lavam com uma máquina que põe o chão a brilhar. Perdi portanto o teu rasto. Não sei efectivamente por onde te procurar. Na tua rua ninguém sabe de ti, só lá passei recentemente. As janelas estavam com os estores cerrados. Tu não estavas. Mas se estivesses era como se não estivesses. Vieste uma vez pelo natal lembras. Quando ligaste a dizer que me querias ver e eu fui, fui demasiado depressa acho que em excesso de velocidade. Excesso de amor por ti. Vim embora devagar. Lentamente. As separações a mim custam-me muito. Não gosto de me separar de nada mas separo, as coisas acabam naturalmente, são como as flores colocadas na jarra viçosas no momento, depois murcham e deitamos fora. Desculpa eu ter deixado morrer as flores que te ofereci. Mas foi impossível fazer com que elas vivessem eternamente. Foram cortadas do tronco da roseira, a partir desse momento tinham o destino traçado e efémero. Perdoa-me por isso. Podia ter guardado e seco as rosas envoltas num jornal, como fazia nas aulas de ciências quando estudava as plantas. Não me lembrei e deitei-as ao lixo. A saída mais fácil. Afinal tu não estavas e as rosas já estavam todas caídas, as pétalas secas no chão. Deu uma trabalheira limpar tudo. Também já escrevi sobre este episódio que se passou. Não sei porque recordo tudo isto agora, quando o que eu queria hoje era ir até ti. Mas tu foges sempre, parece que estás do lado de Matosinhos e eu do lado de Leça, e temos a ponte móvel aberta permanentemente. Assim não consigo chegar à tua beira. Já viste a volta que tenho de dar. Quando chegar tu já não estás á minha espera por pensares que eu não vou. Eu vou, demoro é muito tempo porque vou a pé pela ponte nova, e demoro-me a olhar os navios no porto a descarregarem. Fascinam-me os navios. Sonho com viagens que nunca fiz. Mas posso sonhar. Ainda posso sonhar. O problema que verifico no sonhar é que me perco de ti, já não estás em sitio nenhum. Não devia sonhar com barcos e partidas. Devia sonhar contigo a todo o momento. Mas isso era privar-te da tua liberdade. És livre como o pensamento. Quero-te livre para cresceres, porque em mim ainda és como naquele tempo, a mulher perfeita na plenitude da beleza, não envelheces. Estás numa cápsula do tempo, uma espécie de épave, como as que encontro nos mergulhos arqueológicos, onde os destroços permanecem incólumes há séculos, e assim podemos reconstituir a história. Só não reconstituímos o sentir dos esqueletos que por vezes encontramos, os ossos não falam, são o testemunho só. Lembro-me da Papoa em Peniche. Esse é um testemunho que ficou, foram uns amigos que estudaram o naufrágio. Amigos que não revejo, faz anos. Mas tudo isto são fugas minhas a ti. Tudo são pretextos para te prender, para que te interesses pelas palavras que escrevo, sei perfeitamente que não é uma área que te interesse. Te apaixone. Eu é que tinha a leve esperança que tu gostasses do que eu gosto. E gosto de poucas coisas acredita. O mais vou convivendo delicadamente com elas, uma espécie de fio da navalha. Também escrevi um poema com este nome; O fio da navalha. Já nem sei porquê, mas as coisas saem sem que eu me dê conta, acho que as palavras não são minhas. São de alguém que me usa para as alinhar na escrita para que se percebam. Fico muitas vezes com essa impressão, por não me reconhecer nas palavras escritas. Por não me lembrar delas depois, por não conseguir de memória dizê-las num acto de declamação, como o que assisti um dia, num almoço, o dia que passei perto da tua casa como já falei atrás. Podia ter tocado á campainha. Mas já não sei o andar nem o número nem nada. A minha memória atraiçoa-me muito. Sei que escrevi num papel a direcção certa, mas também não sei onde o guardei. Um dia aparece amarelecido pelo tempo e fora de prazo…
O tempo de hoje era para ir até ti. Em tua demanda. Uma espécie de Dom Quixote em demanda dos monstros que rodopiavam. A imagem não vem a propósito, mas à tempos, numa das minhas viagens ao mediterrâneo, vi os geradores eólicos alinhados a girarem nas suas rotações certas e lentas, e lembrei-me disso, o susto que o Sancho Pança, o fiel escudeiro teria para convencer o seu amo a não investir contra aqueles monstros…Mas o Dom Quixote era um cavalheiro sonhador, gostava de defender as donzelas. Eu também sonho, só já não encontro as donzelas daqueles tempos, e nem tenho escudeiro, nem ando a cavalo. Mas sei como são os moinhos de vento, isso sei. Porque em pequenino levava o milho com a avó para moer. Mas isso também já não interessa. O importante és tu de novo, e esta é certamente a ultima vez que te escrevo desta forma pública. Sabes, tenho a secreta esperança que te disponibilizes a ler o que te tenho escrito ao longo destes anos. Que o teu coração se enterneça e possa receber noticias tuas a dizeres que te encontras bem, mesmo que já tenhas envelhecido como eu, mesmo que tenhas um corte de cabelo diferente, ou tenhas mudado de perfume, por o que eu gostava já não ser o que gostas actualmente.
Acho que a dor de cabeça se dissipa aos poucos. Vês o que me fazes ainda, mesmo à distância. Basta-me pensar em ti com desejo, com amor, para as dores desaparecerem. Para me sentir vivo, para esboçar um sorriso, acho até que o olhar fica mais brilhante quando penso em ti. Só não sei se será mesmo amor o que sinto ainda, porque, dou-me conta, não vai a lugar nenhum isto que sinto. É uma espécie de dependência, uma droga desconhecida que cria habituação. Uma obsessão. Tenho rapidamente de encontrar uma clínica onde me interne e cure de ti. Levar uma transfusão de sangue completa para que o coração não descubra o caminho até ti, um sangue frio, impessoal, sem sentimentos. Uma espécie de plasma sintético. Uns glóbulos brancos pouco brancos, e uns vermelhos pouco vivos. Pode ser que seja a cura, porque o que sofro é uma doença rara, não vem nos livros de medicina. Não se estuda na faculdade. Sente-se só. Tão simples como isso. Sente-se só. E porque para amar são precisos dois, eu não amo porque estou só.
O mais nem sei que escrever, queria só que soubesses que hoje acordei com a vontade estranha de ir em tua demanda, chegar a um cais onde tiveste um veleiro, soltar amarras, içar o pano e atravessar o atlântico em tua demanda. Queria fazer isso. Não o faço porque deixei o veleiro faz anos. Não é importante que o saibas. O importante és tu. O importante és tu. O importante és tu.
A primeira vez que te vi…
O telefone está mudo e neste pc tu já não habitas, eu é que persigo a tua memória, porque hoje ao acordar queria-te comigo e estou só. E agora vou de novo, já te escrevi esta longa carta de despedida. Já terminei a história, dei-lhe mais um capítulo. O oitavo. Não é o final que queria, entende, é o possível na tua ausência. O final perpétuo. Se voltares um dia então terminamos a história. Eu só não sou capaz.

PS: Não é importante que saibas que te amo ainda.
Não é. É importante que te sintas feliz, isso me basta para ficar feliz também. Até sempre meu amor…

João marinheiro ausente, Outubro de 2006

24 comentários:

Anónimo disse...

Simplesmente delicioso...emocionei-me...
Quase me projectei no futuro...fizeste-me pensar.


Elsa

Anónimo disse...

Uffa.. era grande mas não me cansou. Pelo contrário. Tocante. E tão semelhante a tudo. Uma vez disseram-me: "não te agarres a nada que tenha um nome". Eu acho de todo, impossivel. Resta saber superar de uma forma especial e singular esta ausencia de alguém por quem sentimos amor.
Bjs

Ana Luar disse...

Finalmente João... foi bom ler-te novamente assim de seguida sem interrupções. Como costumo dizer-te nas nossas conversas, leio-te como o faço com um bom livro.

Jinho eterno em carinho:)

Anónimo disse...

...dias assim.em que a dor e a saudade não nos larga.ás vezes ainda dou por mim perdida no meu passado sem entender que a razão é continuar a ter esperança.logo tento reagir...e começo a viver realmente a minha vida.a dor limita joão...a dor não deixa a vida fluir.passei por momentos que me deixaram amarrada a um amor que já não existe...a um amor que talvez nunca tenha sequer vivido.

perdi sim...perdi tempo,perdi tanto por não saber dizer adeus na hora certa.
João,meu querido João...esperar por um telefonema,por uma palavra,por um simples ON no mssger é tão doloroso...não te faças mais isso...não vos faças mais isso.tenta olhar á volta...mas olha mesmo,com olhos de quem quer ver...com os olhos de quem quer voltar a sair de dentro de si...e voltar a dar,e voltar a sentir paz na solidão.
hoje...e longe da presença de quem amei...vejo a minha paz logo ali...quase lhe toco,quase a sinto outra vez...e é tão bom saber que a vida só pode ser melhor assim...longe de tudo aquilo que nos faz doer.cuida de ti...cuida também de um amor que foi bonito...mas que talvez seja altura de lhe dizer verdadeiramente adeus.guarda-o sossegado.guarda-o de uma forma mais facil e branda de se olhar um dia...um dia,naquele dia em que o vais voltar a ver com os olhos de quem já não sofre...com os olhos de quem já voltou a amar outros caminhos...outros espaços...outras vidas.de quem já voltou a amar a própria vida.

desejei tudo de bom para vocês,desejo ainda...mas ver sofrer...nunca será o que mais vos posso desejar.
meu querido amigo dos mares.um beijinho.

Su disse...

li.te e perdi o folego mas adorei que assim escrevesses, tornando consciente o que seginfica gastar/perder tempo....

mas lê e rele a a. pois como ela "perdemos tanto tempo por não sabermos dizer adeus na hora certa", ela tem razão no que escreve...tão sentido e feito por tantos, por ela, por mim, tantos ..até por ti....

não duvides não deixamos de amar nunca, mas acredita deixamos de sofrer assim.....um sofrimento que nos destroi...esse sentimento que dizes sentir

vive..respira....grita..chora..mas vive....não deixes que o tempo te arraste....

jocas maradas de bom tempo menino do mar

joão marinheiro disse...

Olá Su de novo. Que dizer-te. Se eu fosse um escritor famoso. Tipo Paulo Coelho ou algo assim, tinha todo o mérito, não sofria de amor como dizes mas escrevia. Engraçado que ainda hoje, fui comprar uns cds e mais uns livros e estive a ver as montras das livrarias conceituadas e da moda todos cheias do seu ultimo livro, pensei para comigo; mas este tipo tem uma fábrica de escrever livros ou um programa no pc que debita livros ou é um iluminado não sei a resposta, nem quero saber, até porque dos livros dele só li algumas partes, nunca comprei nenhum, mas isto é só um exemplo que te dou, geralmente compro autores portugueses das novas gerações, assim faço uma coisa boa; ajudo os autores e fico a conhecer novos pensadores, dos consagrados não preciso, são consagrados, adiante...tudo isto que estou para aqui a escrever ao correr da pena sem rede, é para dizer o quê: que quando escrevo assumo o papel do escritor, do artista porque me acho com o direito a ser artista quando escrevo, já escritor acho um exagero porque não sou, nem tenho essa pretensão no momento. E fico algo perplexo com alguns comentários. Bom reconheço que tenho tido desde declarações amorosas (pasme-se) até quase a oferta de um lenço para eu enxugar as lágrimas…Acho que os blogs, pelo menos alguns, e estou a dar-me conta que o meu está já nesse limiar, parecem um muro das lamentações e frustrações pessoais de cada um…Aprendi algumas coisas ao longo da minha vida, e dessas coisas vou partilhando no que escrevo, recordações de infância e outras, alguns amores mesmo, pincelados do suficiente drama ou dor, já sei que nenhuma palavra é inocente, já sei o efeito das minhas palavras em algumas pessoas…Já me dei conta ao longo destes 9 meses que levo este blog, e pelas mais de 7500 visitas que tenho, devo a quem me lê quase a obrigação de escrever, mas escrevo porque quero, porque sempre escrevi, quando deixar de me dar prazer o blog, ou tenha de escrever por obrigação, tenho uma tecla que faz o contrário do reset, o delet. Apago como já apaguei outros que tive. Só que este, gosto verdadeiramente dele e espero que tenha vida longa, afinal a net e todo o seu universo virtual serve para isso.
Para concluir que se faz tarde… fico decepcionado com alguns comentários. Fico a questionar se as pessoas entendem o que escrevo ou lêem nas minhas palavras o que querem para si. Um destes dias volto aos pequenos textos…
Fernando Pessoa tem razão, mas também ele no seu tempo era um incompreendido e hoje é um marco na nossa literatura.
As palavras continuam a não serem inocentes…

Anónimo disse...

As palavras não são inocentes. Mas tu és. Em todo o teu esplendor. Hoje alomoçámos juntos. Fiz um brinde a ti. E faço-o de novo. Não costumo comentar (fiz 2 comentários confesso mas tu sabes quais foram, nem sequer faço a minima ideia quem são as pessoas que te comentam) mas hoje comento. E o meu brinde faz sentido, porque te quero bem. Sabes ao que brindei?A uma vida longa.
Longa, tão longa como as tuas palavras. Tão longa como o AMOR que feito apenas de 4 letras, consegue passar sem filtro a barreira mais forte, porque é puro. Como tu.
Durante o almoço fiz-te uma pergunta. Desviaste o olhar. Mas volto a pedir-te.
Podes responder-me?

Anónimo disse...

"Tudo vale a pena quando a alma não é pequena..."
e tu...
tens uma alma do tamanho do mundo...

beijos grandes*

joão marinheiro disse...

Olá Maré-cheia, confesso que gosto das marés-vivas, porque são fortes cheias de energia, revigoram e lavam a alma.
Reli o teu comentário, não sei quantas vezes, e de repente tocou um sininho cá dentro. Não faço ideia quem sejas?
E também já não sei onde comentaste no meu blog, porque tenho o hábito de apagar os comentários de anónimos na cx. de correio para onde vão, assim já não sei onde e porque comentaste.
Não te posso responder a nada sobre a tua pergunta, porque me falas em sentido figurado.Verdadeiramente não sei qual por ser tarefa impossível, e eu não ter artes de vidente, tenho outras... Existiu um tempo em que não desviava o olhar, agora é certo desvio mas para me proteger… Se existe coisa que gosto de fazer é partilhar um almoço ou jantar com uma mulher, se tivesse acontecido como iria esquecer-me? Esqueço-me de muitas coisas eu sei, mas revelo, estou fazendo um esforço enorme para remediar essa falta, a escrita é um bom exercício.
Portanto acho que estás a confundir-me com alguém que não eu, mas também a isso estou habituado, dizem que tenho umas costas largas, e sei que tenho uma caixa torácica grande, algo que ficou do mergulho, portanto aguento muitas coisas, essa confusão também.
Mas como dizia no início tocou cá um sininho, um clic num repente. Se fosses quem eu imaginei assim num clarão compreendia o sentido das tuas palavras porque então me conhecias. Verdadeiramente não acredito. Podes ser tudo e não seres nada. Vou pelo nada, entretanto obrigado pelo comentário, passada que está a fase das explicações, que isto mais parece um fórum, estou a achar piada e vou deixar ir a ver o que dá.
O meu abraço para ti porque hoje chove, e o barco está quedo no cais da memória, e nunca respondi tantas vezes como o estou fazendo ultimamente…

joão marinheiro disse...

Querida Ana, perdoa-me então o ter escrito desta forma que tanta dor te trouxe à memória. Foi sem intenção. Tenho de ter tento nas palavras. Tento nas emoções. Tento no meu voar.
Escrevo sabes, e tu Bailas. Voas na ponta dos pés que parecem ter asas, não sei quem és para além do teu blog e das palavras escritas, isso me basta, no entanto um dia deixei uma pergunta num comentário no teu blog, uma curiosidade que poderia ter explicado. Adiante. Não espero por telefonemas minha querida, nem sofro por um amor que teve o seu tempo, guardo-o como algo de puro. Os meus amores foram assim, perdoa eu dizer desta maneira, é como sinto. Não sei se os amores das outras pessoas são ou foram assim. Temo que o teu não tenha sido…
Se eu revelasse algo da minha vida pessoal alguma luz se faria, mas é minha, privada, aqui assumo o papel do artista como tu assumes no palco. Mesmo que sintamos o estômago na garganta, sei a sensação de pisar um palco…vês, já revelei algo mais sobre mim…assumo o papel de artista que cria com as palavras, não sou escritor, escritores são outras pessoas, eu escrevo só. Eu sou como uma ave marinha, ás vezes demoro muito a fazer uma travessia, chego extenuado, geralmente ando assim e assim escrevo, como que a tirar camadas de sal da pele…
Fazes um desejo. O desejares tudo de bom para nós? Quem é o outro nós em mim? Tu não imaginas, porque tudo o que parece por vezes não é. Existem é pessoas com quem me sinto bem, com quem partilho as palavras…Pessoas a quem quero bem, o tal amor puro, mesmo virtual que seja. E tu também estás incluída nesse pequeno grupo.
Agora vou, que hoje farto-me de escrever. Estou feliz, já andei à chuva como em menino…
O meu abraço no inicio do Outono.

rtp disse...

Muito belo! Ler o que escreves faz-me bem!

happiness...moreorless disse...

pela primeira vez na minha vida chorei ao ler um texto num blog...
está perfeito, até hesitei em comentar porque nao sei as palavras que escolher para explicar o que senti.
é tao bonito esse amor que sobrevive à distancia e à renegaçao...foi uma liçao de vida para mim, deste-me força para acreditar que tudo é possivel quando se deseja muito!

nao digo mais nada porque nada é suficiente para um texto assim

parabens!

um beijinho

Kalinka disse...

Pela 1ª vez te leio.
Já não tenho por hábito ler textos tão longos, mas este, apeteceu-me.
Envolvi-me nele, arrepiei-me e algumas lágrimas deslizaram pela minha face. Não é de admirar, estou ainda bastante deprimida e qualquer coisa me faz chorar. Mas, aqui não foi qualquer coisa, senti mesmo as tuas palavras: perseguir a memória de alguém!!! porque ao acordar queria-te comigo e estou só; Hum, como te entendo.
Revejo-me em muitas partes deste texto. Parabéns pela inspiração.
Bom fim de semana.
Abraços.

Paulo disse...

Não é normal um homem deixar que os seus olhos se transformem num "mar alagadiço", mem "nevagar" em mares nunca antes navegados; nem mesmo comentar mensagens de amor eterno escritas por outros homens.Porém,a aculturação e mutação constante do ser humano, por vezes, faz com que os homens também se rendam às tecnologias sem rosto humano e à virtualidade do msn e outros meios de comunicação sem cheiro e sem sentimentos.O testemunho deste post é, inequivocamente, o "desvario"....quase loucura, de quem sabe que o mar salgado são lágrimas de Portugal e que amar sem ser amado é pior do que a noite escura.
Obrigado Pela visita lá nos "filhosdeumdeusmenor"....

Abraço
Paulo

I disse...

As tuas palavras estão apetrechadas de asas.Neste momento em que acabei de as ler, estão poisadas em mim.

Ana disse...

Muito, muito bonito...

Anónimo disse...

As palavras não são inocentes...as tuas são lindas!...
Parabéns pelo texto tão bem conseguido que assim termina estas partes (VII) de um sonho/realidade que tanta coisa pode ser.
Abraço demorado no silêncio dos encantos

Vanda disse...

Deve ser dessa forma -da forma como escreves e como esse teu amor me soa- que as ondas durante a noite, te embalam os sonhos.

Bons ventos para ti, Marinheiro, presente...

Van

Anónimo disse...

Olá Marinheiro;

Não vou deixar nenhum endereço de blog, porque de momento despi-me deles todos, exactamente para não ter que, em cada abertura de uma página ter que reviver o passado. O passado não se dissipa nunca, mas dói lembra-lo sempre dessa forma como tu o fizeste, carregado de ternura, tal e qual como tu és quando te despes desse marinheiro que tenta a todo custo permanecer ausente, como quando de alguma forma me vem à memória o menino que corria ao longo do muro do farol mais bonito deste nosso portugal (e assim sei que já estou identificada :) ).
Não vou dizer que este texto não me emocionou, sou sensível tb, e perceber que fala de um amor que não se perdeu no tempo, mais tocante se torna.
Falei-te em "janelas mal fechadas, assuntos por resolver" e acho que as deves abrir todas e partires em busca de uma resposta a esse passado/presente, o hoje é quase sempre tão diferente do ontem, nem tu imaginas quanto..., ou então fecha as janelas de uma vez por todas e vive, vive esta vida que é tão curta e tem tantas belezas,felizmente a vida não são só "blessures".
Tornei-me mais longa do que queria, acho até que desaprendi a comentar blogs, agora nunca o faço..., mas neste texto apeteceu-me deixar algo.

Um beijo

APC disse...

Tantos, tantos minutos vivi a história ao lê-la...!
Belíssima está, mas não precisarias que to dissesse, porque não foi para o que a escreveste. Escreveste para a arrancar, para a completar, para a guardar... E, contudo, sem quereres que te saia do peito, que se complete, que se arrume para sempre.
É o amor branco, o amor a sós, o ázimo que é pouco mas tudo, de que tu falas; de que vives nesta história longa, não em letras, mas em ti.
E depois ainda tens graça, tantas vezes, mesmo que não queiras, porque há sempre uma criança a falar por ti; e um velho lobo do mar; e tu no meio deles...

"Agora compro livros de autores da moda, alguns que falam do amor, alguns que nem sei do que falam mas também isso não é importante, o importante é que leia e me distraia de ti."
:-)
E tu no meio... De tudo o que recordas, queres recordar e esquecer, e assim o escreves... Vivendo de vivências que não vivem mas que te inflamam de vida se as revives, quando as chamas a curar esse vazio, esse frio, esse abandono.
Até que, exausto, chega o sono... E um serão que é preto envolve-te o amor alvo que te envolve as trevas que te envolvem a ti...
...
...
...
Um beijo, Marinheiro! :-)

Nina Owls disse...

:'( esse amor ainda te leva a alma para o limbo e a nós tb que te lemos ...sweet ;)

Anónimo disse...

Se escreves assim doce Marinheiro...deixa que sintam o que escreves...deixa que voem por entrem as tuas palavras...não interessa aquilo que são...não interessa aquilo que significam hoje...apenas interessa tudo o que nos tiras de dentro.

Se disse algo que não devia,
desculpa João...foi sem intenção
Apenas fiz parte de alguma coisa que foi crescendo...mesmo que virtual,existiu...e assisti a coisas bonitas.

Não me recordaste nenhuma dor
...ela ainda vive por aqui,perene,
só o tempo a poderá esbater como letras nas folhas de papel deixadas e largadas á passagem das horas...descolorando.


Beijos meu marinheiro...Artista.
Poeta,Actor,Escritor...Humano

apontinho disse...

Simplesmente magico!! Adorei!
Obrigada por as colocar aqui para que eu as possa ler!!

Andreia disse...

João, às vezes acredito que as coisas acontecem por algum motivo. Hoje, nas minhas habituais viagens de comboio matinais, recordei o passado. Este 5 de Outubro, que tu não sabes mas que me diz muito. E também tive esta vontade de fazer essa tal transfusão de sangue. Mas perdiria esse tal amor puro de que falas. Esse tal amor que só alguns privilegiados têm a sorte de viver - acredito nisto.
Já me conformei com o fim que não é fim. Com as marcas para sempre. Pode ser que a história tenha uma final diferente um dia :)

Um beijinho grande