domingo, outubro 15, 2006

Tu não sabes…

Tu não sabes o efeito das palavras em mim
Tu não sabes
Não podes saber
O efeito devastador da ausência das palavras em mim
Tu não sabes
Não imaginas
A dor da ausência das palavras
As tuas palavras em mim
Tu não sabes
E eu não sei como fazer para que entendas
Que elas são a minha linha de vida e que sem ti não sou nada
E que o tempo que tenho já não é um tempo de esperas
Porque esperei demasiado tempo e o meu tempo passou
E que agora não sou nada
Porque estou ainda esperando as tuas palavras que já não chegam
Porque tu já não existes…
E então
O porque existes deixou de ter sentido
E assim termina por ora esperando que o Outono passe
O Inverno chegue
E cheguem as neves e o frio
E a terra cumpra o ciclo da renovação
E eu que aqui estou esperando
Sentindo a ausência
Já me dei conta não sei quando
porque lhe perdi o tempo do tempo da tua ausência
Porque tardas
E quando chegas verdadeiramente não chegas
Avivas o meu sentir
E é um sentir doloroso porque sei que existes mas verdadeiramente não existes
Portanto o que me mata não são as horas mas a tua ausência
Porque te queria mesmo sem as palavras mas a ti presente
Porque verdadeiramente só estamos presentes os dois
Quando me olhas de olhos nos olhos, de frente
O mais é invenção ou puro devaneio da escrita
E as palavras que te escrevo não são palavras mas invenções a ver se chegas
Mas tu tardas de novo
Eu é que vou
Porque me habituei à ausência de notícias
À ausência de palavras
Me habituei a esperar em silêncio, que é como fico
Quando tardas
Ou depois que partes por te ter visto por um breve momento num clarear do sol
E nesta altura da vida em que já não espero nada
Que arrumei os sonhos
Arrumo as memorias e as partilho para que fiquem como uma recordação de mim
Despeço-me de ti
E vou
Porque nunca vais saber o efeito das tuas palavras em mim
E eu não digo
Porque nunca o perguntaste
Porque na realidade não existes para além das palavras que gostas de ler
E me trazias para eu ler
E já não trazes
E eu que sou de hábitos rápidos, adapto-me como um camaleão de vida curta
Solitário
Que é como sou nas palavras
Portanto já não vou tentar dar-te a mão para não me sentir só
Porque só, tem sido a minha escrita
Uma escrita de saudade
Sabes lá o que isso significa em mim
Uma escrita de ausência
Sabes lá o que isso dói em mim
Uma escrita de silêncio
Sabes lá o barulho que faz em mim
Uma escrita de esperas
Espero faz tanto tempo que já perdi o tempo
O tempo que tenho ainda
Até fechar os olhos e abandonar de vez a espera
Porque não me quero lentamente a morrer de amor
Morro de outras coisas ou de morte natural
Ou deixo-me ir no meu mar que amo
Ou então não vou
E fico aqui esperando as notícias que tardam
As palavras que não chegam
A ausência que é
E volta tudo de novo num ciclo ao princípio de ti
E porque existes
E eu não

Tu não sabes o efeito das tuas palavras em mim…

João marinheiro ausente, 14 de Outubro de 2006

14 comentários:

Maria Azenha disse...

"Sabes lá o barulho que faz em mim
Uma escrita de esperas"... apenas para lembrar o poema todo,perturbante porque vive no fio da espera que é outra Espera.


Um abraço de quem nunca se cansa do Mar,

***
maat

Sónia disse...

Acabei de ler , estou completamente arrepiada.Li-me em tanto aqui, tanto que até doi.Eu conheço essa espera, esse desejo, essa necessidade, essa força, essa doce desilusão...E essa vontade de amar!

Um bj

APC disse...

(...) "o tempo que tenho já não é um tempo de esperas" (...) "não me quero lentamente a morrer de amor".

... E sabes tu o efeito que estas têm em nós? :-)))
Um beijo fraterno! :-*

APC disse...

Ah... E "Tu não sabes" que eu respondo às mensagens que me deixas!
Lol :-)

Claudia disse...

Não sei que te diga João... Quero escrever mas não consigo. As palavras não saem. Não por ser tão bonito o que acabei de ler, porque já li mais coisas bonitas tuas. Mas, porque me custou lê-las...

Doeu-me... Dói-me cada uma das palavras escritas por ti. E imagino que as escreves-te ontem, depois de termos falado, e de eu te ter sentido assim... Assim, como escreves-te depois. E custa-me saber que é esse o efeito que tenho em ti. Porque não era esse que eu tinha, nem é esse que eu quero ter.

Eu quero o João, que dizia que não sorria, mas sorria comigo. O João que gosta do meu nome. O João que não se entristece comigo, mas que fica contente por ter as minhas mãos pequenas nas suas. Porque esse é que é o meu João.

E depois de te ler, senti-me tão mal comigo mesmo (desculpa a redundância). Porque faço-te mal. Faço-te sentir triste. Faço-te sofrer. Mesmo sem eu querer. E acho que isso tu sabes. Que nada do que eu faço, ou neste caso não faço, tem qualquer intenção de te magoar.

Mas a vida é tão difícil, tão complicada. E a nossa vida também é assim. E tu o sabes melhor do que eu! Não posso continuar eternamente a pedir-te desculpa pela minha ausência, eu sei. Mas é tudo tão difícil para mim. E eu sinto-me como a andorinha, que tu sabes que eu sou, que chega o Outono e precisa de partir para o sol. Mas eu não consigo partir. Simplesmente, porque não consigo vislumbrar, nem sentir o sol. E continuo aqui presa, ao cinzento e frio do Outono, sem me encontrar a mim mesma...

Sei que me queres e precisas de mim. Sei que às vezes bastavam as palavras. E eu nem isso te tenho dado. E faço-te sentir perdido. E se é só isso que eu já faço, se eu só te mago-o, não me queiras mais. Despede-te de mim, como dizes que o fazes. Porque, simplesmente, não te mereço. És muito melhor que eu. Porque nunca me abandonas, nunca me deixas só, nunca me deixas-te sentir que estavas lá, sempre à minha espera... E eu não...

E eu não quero que te habitues à ausência, à espera, à dor que se sente por dentro. Porque foi exactamente para o contrário que eu entrei na tua vida. E passei a ser a tua miúda, com menos vinte anos (e que eu tanto gosto de te dizer, e imagino o teu sorriso de antigamente, quando te dizia isto, e tu não gostavas que eu te lembrasse, por mais que dissesses que não te fazia diferença)!

Mas numa coisa te enganas. Eu sei o efeito das palavras em ti. Como sei o efeito das tuas palavras em mim. E sei que eu existo, mas tu também existes. Que nós existimos.

E que assim continue... Não me deixes, faltar-te... Não me deslargues a mão, porque é pequena...

Beijo meu João, enquanto existimos sempre em nós

Anónimo disse...

Mais uma "carta a Claudia" :)
e acredita João, que ela sabe o poder que têm as palavras. Nem sequer duvido disso. Ela sabe, mesmo que tarde a chegar, sabe, entende e sobretudo, existe.

Kuska disse...

Marinheiro Sonhador. O sonho nunca acabará dentro de ti, enquanto tiveres coisas tão bonitas para nos deleitar os olhos.
Beijos da tua amiga.

BETTINA PERRONI disse...

Parece que muchos estamos dándole vueltas al mismo asunto... las palabras, sus significados y el impacto que ellas tienen en nosotros...


decir lo que no queremos, interpretarlas erróneamente... o siemplemente no escuchar lo que necesitamos.

Linda reflexión... seguiremos aprendiendo

Besitos :))

Ana Luar disse...

Eternamente á procura do sentir da palavra, marujo...

Bendito encontro que te faz escrever assim...

Lindooooooooo... aliás,como sempre!

Beijos lunares.

Sonynha disse...

Lindos os teus poemas!
Estarei sempre aqui visitando esse BLOG encantador.
Venhas me visitar. Sou iniciante e adoraria aprende mais com os vossos comentários!
damadeourosbr.blogspot.com

Cinza disse...

Que viagem de calafrio... muitas vezes o Outro não sabe... é isso mesmo... belo!

Anónimo disse...

que interessante...onde já teria eu ouvido isto?...

Su disse...

palavras..palavras....
gostei de ler.te
jocas maradas de actos

Anónimo disse...

...doloroso.demais.