
Passam os anos. Vou envelhecendo. Só o meu amor por ti é jovem como o primeiro beijo que demos. Sei que já não somos unos. E um destes dias morro, não me despeço de ti. Mas queria-te uma última vez. Descansar as minhas mãos nas tuas. Olhar-te apenas. Só isso. Tão pouco para ti. Tanto para mim. Olhar-te só. Porque já não sei se isto que guardo dentro e me consome é amor, ou uma loucura que habita em mim. Acho que é loucura, porque só um louco ama o nada, ou a lembrança, ou a saudade. Só um louco completamente louco. Só um louco tem ainda saudade…
Maldita saudade que me marca a fogo. Maldita saudade que me deixa marcado. Ferida que custa a sarar. Não sara, é uma espécie de ferida com dreno que diariamente trato.
O amor é uma química entre duas pessoas. A minha química está estragada. Só pode ser isso! Completamente estragada. Tira-me o brilho do olhar. Tira-me a suavidade da expressão e sou um homem fechado, um olhar distante. Um rosto cansado. Ausente. Demasiado ausente de mim. A química não funciona sem ti. És o meu reagente. Sem ti sou o tal composto químico fora de validade…
Estou cansado sabes. Demasiado cansado para andar sempre em estado de alerta vigilante. Não descanso o suficiente. Não vivo o suficiente. Não dou importância aos outros porque nos outros não estás tu. E eu não posso viver assim sempre em vigília para que não me apareças no pensamento. Não posso fechar os olhos durante o dia porque apareces logo e o grande problema é que me fazes falta ainda. Desejo-te ainda como da primeira vez e isto é uma coisa parva, é uma prisão sem grades visíveis. Não posso fechar os olhos porque me custa depois abri-los. Quando adormeço então sim, não sei de nada. Os comprimidos são poderosos. Fico num sono profundo, não sonho. As imagens por vezes são negras, portanto não és tu. Acordo exausto e isso não é um bom sinal.
Porque não escrevo outras coisas, ou simplesmente deixe de escrever. Apago tudo, mas tudo! Letra por letra e te apague da minha memória. Eu tento. Tento mesmo a todas as horas do dia e da noite. De noite já não sonho. Isso já consigo fazer, não estás comigo na noite porque as noites são longas sem ti, e os lençóis frios, a cama imensa. A maioria das vezes adormeço no sofá da sala. A sala pequenina onde partilhava-mos um livro, bebíamos um chá.
Que raio fiz eu? Para que continuo a escrever-te? Para que continuo a escrever desta forma a ti. Já não existes, eu sei. Para que teimo? Para que ando sempre em sobressalto pensando que me vou cruzar contigo nas ruas do nosso Porto, se nunca és tu, e eu ando apressado, o medo em mim porque penso que podes ser tu um dia.
O nosso banco está vazio. O mar em silêncio...
Tenho urgentemente de mudar de cidade. Atravessar a ponte para o outro lado do mundo...
Já não és amor. És uma doença e eu não me curo!
Fotografia, Google