as velas prenhas de ventos e de ideais
o rasto nas águas frias do navio
uma ardência de fluorescências que desenham riscos de sal sobre as ondas breves
acabaram-se os ancoradouros antigos
os meus navios foram sempre uma miragem alucinada
um sonho por cumprir
demasiados naufrágios
morrem-me os dedos nas mãos vazias
e a pena perde o tino nas palavras
seca na folha amarelecida a tinta azul água
o diário de bordo de um capitão velho
rumo a Oeste de nada
uma carta náutica falsa, sem valor
as coordenadas imperfeitas
longitudes, latitudes, declinações magnéticas por corrigir
um imenso erro a escrita
dou-me conta
um marinheiro não pode ser poeta, ou o contrário
não existe poesia na rudeza do sentir no mar
as velas ainda se içam ao vento e enfunam
prenhas, redondas, alvas
é assim que as imagino
mas todo eu sou um engano…
João marinheiro Fevereiro de 2009
Fotografia de Barcoantigo em 2009
7 comentários:
Mas há poesia maior do que a rudeza do sentir do mar quando beija a rocha ou abraça o areal, prenhe de ternura?
Um abraço, marinheiro poeta
(tanta saudade...)
Quem disse?
O teu poema trai o teu pensamento. O que é um facto é que tu és um poeta, navegas no mar e nas palavras.
E não deve haver aqui ninguém que me desminta.
Quero o poema enrolado em pergaminho numa botelha e atirado ao mar para daqui a tantos naufragios seja recolhida algures num ancoradouro. O mundo lerá a doçura de quem soube sentir o mar nas letras.
Abraço.
"um marinheiro não pode ser poeta, ou o contrário
não existe poesia na rudeza do sentir no mar..."
Lembrei de um velho marinheiro..que dizia odiar o mar...que não entendia como podiam pessoas escrever a enaltecer a sua beleza...que era cruel e mesmo quando manso...nunca era doce......mas sim cheio de sal de tantas lágrimas...
Gostei de passar por aqui..que os ventos possam soprar de feição...
Adoro ler t e confesso que tive saudades das tuas passagens no meu cantinho.. mas como regressei resolvidar-te um beijo
Fiquei fascinada com a tua poesia. A minha inspiração vem do rio e do mar também.
Abraço,
Vitória
Existe sim, e a negação é uma defesa contra ela! :-)
E erros de trajectória, assim na terra como no mar...
Suscitou-me uma certa curiosidade indevida, aquele texto por debaixo da caneta, originário de terras de Vera Cruz. Que sentidos terá ele?|...
... E que sentido terá negar-se a poesia? Se tantas vezes os riscos do sal desenhados sobre as ondas breves terão sido os seus cabelos esvoaçando na brisa da espera...
;-)
Grande abraço para ti!
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