Sinto-me cansado. Muito cansado. A espera é longa. Demasiado longa.
Não voltas. Já li todos os livros. Escrevi todas as palavras. Abandonaste-me. Agora vou por esta rua da cidade, as mãos nos bolsos, vou desamparado. Sou um estranho aqui.
Não sei se te amo ainda, ou o pensamento que tenho de ti, me tem cativo, do amor que imagino. Já não sei. Sinto-me terrivelmente cansado.
É já noite, e a rua mal iluminada cai em mim, como o negro do luto carregado nas vestes das mulheres, do mar da Póvoa.
Queria dizer-te. Queria olhar-te. Queria tocar-te as mãos. Percorrer a tua face. Sentir a tua pele, e já não sei rigorosamente nada de ti – Não existes por fora da minha cabeça pois não? – Sou eu que te imagino pois sou? Olho-te se fecho os olhos. Os teus olhos negros a rirem de mim. Da minha fragilidade.
Haja o que houver vou sempre esperar por ti. Só tu não. Já não esperas. Já não chegas. Já não vens. Já não voltas. Só eu fico aqui, exposto ao tempo a enferrujar como uma máquina velha obsoleta.
Ás vezes as lágrimas escorrem por dentro, são lágrimas de saudade, mas tu nem sabes o significado, nem o sabor das lágrimas. Nem sabes que eu aqui fico sempre à espera das notícias que não chegam. As cartas vêm devolvidas, perdi a tua direcção, o teu endereço postal.
Há dias fui em tua busca até à foz. Fui em vão.
Fui em tua demanda até à nossa praia. Viagem inútil. As memórias são só minhas agora. Escrevo uma invenção da memória, a ver se coincide com a tua memória minha, e te lembras de mim, um dia, e então regresses à minha memória de hoje, em que me sinto angustiado e terrivelmente cansado.
E o tempo agora é um tempo de Inverno que vai chegar aqui, junto a mim.
E eu para me aquecer, para me sentir reconfortado precisava de um mimo teu. Queria dar-te um abraço hoje, um abraço grande. Com os braços a envolverem-te toda. As mãos a agarrarem-te toda. Uma espécie de laço forte feito de amores e de afectos. Com o sentir, todo, à flor da pele arrepiado. Enquanto o tempo, esse, se reúne no céu, a decidir se há-de deixar cair as lágrimas em bátegas de chuva, ou nos ensurdecer os sentidos com o ruído dos trovões a fingir que nos atemoriza.
Sou eu que me assusto, só, com o vazio da tua ausência em mim.
A falta que me fazes.
João 2007
Fotografia Barcoantigo 2007
13 comentários:
Não sei se te amo ainda, ou o pensamento que tenho de ti me tem cativo do amor que imagino. - passagem perfeita!
Deixo-te um abraço.
haja o que houver. eu continuarei a ler.Te.
a passar.
a sentir o teu sentido.
haja o que houver continuas a dizer "diferente".
beijo.
Ausência de ti em mim...
Beijo fantasma.
A vida tem outros caminhos...procura!..
Beijo
*
"Criei-te no interior da minha mente"
Tantas vezes regresso à Sylvia Plath...
Mas faço minhas as palavras da Vertigo, embora eu não seja exemplo para ninguém... Tenta fazer outras viagens...
Beijo.
"Nem sabes que eu aqui fico sempre à espera das notícias que não chegam."
Bem te disse que os teus Verbos são tantas vezes um espelho de mim!
Estas tuas palavras ficaram-me coladas à pele. Já aconeceu outras vezes, com palavras escritas por ti.
Sei do que falas. E sei que sabes o que eu sinto...
Um abraço, daqui, quando começa a chover cá dentro
Vim reler-te. Sempre....
Um abraço, daqui
Não tenho passado por aqui, mas agora que vim, não entendo pq não tenho vindo. Os teus textos são lindos!
Beijo.
João cometi a ousadia de citar-te num post, referindo, claro, a fonte. Espero que não te importes...
Beijinho,
Andreia
devagar, deixa-me ler, devagar
esse abraço, sonho com ele, sinto-o assim tal como o escreves. Como se escreve um abraço? Serias capaz? De me dar esse abraço? Serias? Ainda ... me abraçavas assim? Dessa maneira?
deixa-me ler, devagar ...
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