terça-feira, julho 17, 2012

Estranhos. Diferentes. Ausentes.



Deixaste-me exausto sem as palavras nossas que prometemos cuidar
Uma incerteza nas respostas que tardam e nunca mais chegaram.
Um mundo de duvidas e interrogações.Infelizmente não perduraram em nós, esmoreceram. Afinal não conseguimos chegar um ao outro pelas palavras que nos uniram no início. A amizade alicerçada nas palavras tão nossas que íamos descobrindo.
Faltaram-nos os actos dou-me conta. Eu sei que fui culpado.
Não deixei que me descobrisses por completo.
Agora, hoje tão distante de ti no espaço e no tempo, revejo-te
Reencontrei as tuas palavras que julgava perdidas para sempre
Reencontro as cartas que trocamos, algumas públicas.
Reencontro as cartas que guardei e tinha lhes perdido o rasto
O tal cérebro que guarda esconde e perde a password de acesso.
Hoje em plena África revisito-te.
Revisito as tuas palavras e dou-me conta que fui um louco
Um louco com medo que fingia não perceber a tua amizade
Disfarçando o que sentia amizade/amor por ti, quando nos encontrávamos
Das poucas e fugazes vezes que acontecemos os dois.
Escrevi-te é isso, tantas palavras intensas. Plenas de amor confesso e tu sabias. Ficaste a saber. Sempre soubeste.
Mas existe um tempo para tudo. Tivemos o nosso. Demasiado curto. Demasiado incerto. Demasiado por cumprir.
Amordaçamos o coração...

A praia está deserta de nós. Nunca caminhamos por lá os dois de mãos dadas. Nunca sentimos o sal do mar nos pés descalços enquanto caminhávamos na praia do Cabo do Mundo. Descobriste que essa era a minha praia mágica, confessei-te isso.
A Casa de Chã do Sisa onde nunca chegamos a ir encerrou e abandonada desmorona-se aos poucos.
O livro de Vergílio ficou por ler a dois.
Os meus lábios que nunca encontraram os teus, ficou-nos o desejo mútuo queimando dentro. Estivemos tão perto.
Só as tuas mãos por breves momentos se aninharam nas minhas enquanto o pardalito no muro da esplanada interior do café, debicava migalhas imaginárias.
Demasiado por cumprir em nós…

E hoje no coração de África enquanto aguardo e espero que o tempo avance descubro-te.
Não foi propositado, antes um mero acaso inesperado, motivado pela espera. Descubro-te guardada no velho computador onde guardo as minhas memórias que me acompanha faz anos. Velho cansado e pachorrento.
Releio-te e é como se não tivessem passado já uma mão cheia de anos por nós. É como se nunca tivesse pegado no telefone para te ligar e não atenderes. É como se tudo neste tempo não tivesse sido uma repetição de gestos e lembranças. Já não estás!
Não sei se existes do outro lado do número de telefone que guardo. É um vazio de respostas no teu endereço electrónico. Perdi-te o rasto algures ao largo do mar de Leça num dia complicado de manobras de cabos e velas. Imagino que foi assim. Imagino que foi o mar a separar e não a ponte móvel nova e bonita na minha opinião da qual discordaste.

É um vazio espécie de fronteira de continentes e cores e sons em nós.

Estranhos. Diferentes. Ausentes.

Sem palavras. Para sempre. Porque não sei se existes ainda…

João Marinheiro Luanda, 13 de Julho de 2012

segunda-feira, julho 02, 2012

a uma mãe...




Faz anos neste dia
Que também tu partiste
Foste embora
Mas estas aqui por dentro de mim ainda
Onde o sangue se junta
E o coração se abre.

Deixo-te um abraço imaginado
O abraço possível
A ternura eterna
Um sorriso
E o cheiro das açucenas
No canteiro da casa...

João Marinheiro, Antas, 02 Julho 2012
Fotografia da Net