segunda-feira, maio 28, 2007

Dia do Pescador...


Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de varzim

Para falar dos homens e mulheres do mar da Póvoa

sexta-feira, maio 25, 2007

Do poeta...



O poeta é uma espécie de bicho
Ser irreal
Rodeia-se de palavras
Para se sentir pessoa

Morre aos poucos na saudade
Só o querer-te ainda lhe permite a sobrevivência
Dolorosa do amor que tarda
Do amor que se faz tarde
Do amor que não é.

Não descobriste o homem
E eu desconheço a mulher que há em ti
Resta o poeta para juntar as palavras ditas
Dispersas pelo vento

Morre aos poucos o poeta
Acho que já te disse tudo
Te escreveu tudo
Das diversas formas possíveis
Não me dei conta de te teres dado conta
Das suas tentativas de te dizer da palavra.

Amo-te!

Ainda…
João marinheiro 2007
Fotografia: Nuno A Monteiro/www.olhares.com

quinta-feira, maio 24, 2007

Já não sei...


Já não sei da ternura nos teus lábios
A carícia das tuas mãos
O amor pleno nos teus olhos
Já não sei de mim
Ou de ti que foste embora
Já não sei
Dos dias calmos quando passeávamos de mãos dadas
Pelo entardecer do rio
O adormecer do sol quente
O vento meigo
Já não sei.
joão marinheiro 2007
Fotografia de Barcoantigo

quinta-feira, maio 17, 2007

Principia tudo do mesmo modo...



Vieste possuída de todas as palavras. De todos os momentos plenos e partes em silêncio, quase como o larápio que apaga os rastos na casa profanada
Que leviano é o mundo
Que leviano é o sentir
Que levianas as palavras



As palavras tornam-se desejos demasiado pesados em nós
Do outro lado o tempo é um tempo demasiado efémero
Por vezes sentimos a corda nas mãos e na boca como uma mordaça
As palavras ficam a meio da garganta
Só o pensamento é livre e solto, e o regresso é um regresso que se desconhece



Ficamos temporariamente felizes, diria até anestesiados, esquecidos dos dias, das dores, das ausências



Preferia que nunca tivesses vindo
Esta é a forma de me magoar de novo
A desilusão que são as pessoas
O que são pessoas na nossa vida
Momentos breves?



Não posso amar-te com o amor com que amam os amantes
Pela madrugada sob os lençóis de uma cama de terceira categoria
Não posso amar-te com o desejo substituto da paixão animal de um lobo predador
Não posso amar-te com a violência no rosto demasiado lívido
A dor que perdura nas palavras findas



Os olhos demasiadamente abertos
Um rodopio de cordas por dentro do corpo
Todo ele range. Desfalece



As deambulações perdido por aqui
Altas horas da noite
Já não estás
Porque partes sempre?



Só o poeta vive em mim
Só ele é eterno e amado
O amor precioso
O amor preciso
O amor forte


Só ele sabe ver onde o olhar se confunde com o sal espelhado
Nas paredes rubras da saudade
A definhar no horizonte.


João marinheiro 2007
Fotografia de Barcoantigo

sábado, maio 12, 2007


Deixo passar o tempo. Não penso. Vegeto nestes dias…
Ouço musica e sonho. Não sou eu nestes momentos. Há um mundo diferente, um outro universo de luz e som. Se abro os olhos estou só, por isso continuo de olhos fechados não importa até quando como ou porquê...Agora até as pequeninas coisas, o mais simples gesto me parecem maravilhas de arte, provas de que existe vida e corações. Parece que quero registar tudo em mim intensamente para depois da despedida poder recordar…


Será o acto final fechar os olhos?


…Hoje acordei deslocado no tempo, de cérebro vazio, ouvi na rádio darem as treze horas…todos os dias se fala do mesmo…


Imagino a última semana do juízo final. 7 dias para o apocalipse. 168 horas únicas. 10080 minutos supremos. Cada um, um pedaço de vida único…Começou a contagem!


…mas essas recordações nada contam.

Não preenchem o vazio que sinto.

A recordação que teima em não sarar…


Algures grita uma criança
Algures uma outra estende a mão magra
Algures uma outra ainda agoniza ao sol…
Ao longe num outro continente decorre uma festa
Ao longe come-se. Bebe-se. Divertem-se os inconscientes.
Ao longe planeia-se mais um fim-de-semana a dois.
Ao longe suas excelências os todos poderosos
Evitam falar nas crianças que estão algures morrendo
Distantes drogam-se os ociosos da vida
E eu?
Embriagado de angustias.

Persistentemente lúcido até á exaustão
Demasiadamente vivo até ao último suspiro
Estremeço com tudo isto.


*Este texto que encontrei esquecido no meio dos poucos livros que não se perderam numa das viagens, foi escrito algum tempo depois de ter entregue a farda. Lentamente refazia-me por dentro dos trinta meses de hospital militar…hoje fica aqui junto das memórias virtuais.


João marinheiro 20/09/84

sexta-feira, maio 11, 2007

Dos barcos e das memórias ainda...


Quem...


Quem disse que eu não vi

Quem disse que eu não senti

Quem disse que eu não queria

O teu olhar terno poisado em mim

Quem disse! Quem?

Eu não fui e tu não querias


João marinheiro 2007
Fotografia de Barcoantigo

sábado, maio 05, 2007

De ti…


De ti sabia apenas a cor dos teus cabelos negros estendidos pelas costas.
Sentada à sombra do guarda-sol não deste por mim hoje. Ou ontem, ou antes de ontem, ou nos outros dias todos em que te esperava e não vieste.
De ti sabia o teu porte altivo e seguro.
Acho que lias um livro. Acho. A chávena fria do café forte manchado no bordo, O jornal impecavelmente dobrado a um canto da tua mesa.
A mesa era branca, moderna. Plástica. Destoava de ti.
De ti sabia a cor dos óculos de marca. Armani, talvez?
Grandes. Negros que te escondiam o olhar.
De ti sabia das horas incertas da tua presença. O desalento em que ficava sempre que terminavas a leitura, fechavas o livro, ajeitavas o cabelo, te levantavas e ias embora sem olhar para trás.

Só eu fico sentado nesta cadeira moderna afastado na esperança que regresses.
És a mulher que eu sonho quando se dissipam as angustias e por breves momentos a ternura nasce em mim.
De ti sei apenas a cor dos teus cabelos negros.
A tua silhueta recortada na linha do horizonte imaginário onde te observo.
Um universo demasiado cativo.

Quando cheguei foste a primeira mulher que vi.
Acreditas no destino.
Na predestinação das almas?

Tu não sabes que regresso sempre ao mar, que preciso de sentir o frio da água salgada nas mãos, de sentir o aroma da maresia, o murmúrio das vagas contra o casco, a fúria ou a mansidão do vento de encontro às velas alvas.
Quando vou deixo tudo.
Uma espécie de despedida sem lágrimas, sem lenços brancos, sem os três apitos prolongados do navio no cais na hora de partida para a guerra.
Que sabes da guerra que me faz ainda sofrer por dentro…
Vou sempre.
Comigo vai na lembrança a primeira mulher que vejo quando desembarco depois da travessia.
Desta vez antecipei a chegada porque foste e vieste comigo desde a última vez.

João marinheiro 2007
Fotografia Glover Barreto/www.olhares.com