segunda-feira, maio 29, 2006

NENHUMA PALAVRA É INOCENTE…


Escrevo-te agora
Porque já não existes em mim
O coração gotejando
E tu sem te importares despedes-te assim fria
Ficas do lado de fora do abraço, logo não existes
Deixas de ser sonho.
Porque o que sinto hoje é a dor da história repetida
Hoje escrevo
Dedicado a ti,
Já em tua memóriaTenho uma memória fantástica
Selectiva, diziam-me um dia destes…
Memória estranha que deixa o sonho apagar-se
Como um ficheiro anexo neste velho cérebro com processador virtual.
Questionavas porque escrevia a um amor, uma amor assim…
A minha história instituída.

No momento escrevo-te a ti, és a minha história do momento
De novo instituída, só historia, não sei de ti.
Quem és?
Porque vieste até mim
Disfarçada em palavras
Sedenta de amor
A transbordar sonho.
Porque surgiste na minha vida?
Porque andaste de roda de mim?
Porque andei de roda de ti?
Porque andamos de roda um do outro?

O meu coração sangra
Não sangra de amor.
Estou curado!
Sangra de saudade
Sangra de conversas contigo
Sangra em cada frase que já não partilhamos…
Sangra em cada letra na msg moderna por móvel que mandaste a despedir-te
…Tenho a impressão por dentro de uma repetição, uma segunda via…
Preferia uma carta de despedida escrita numa folha de papel pardo como antigamente.
Mas,
Já não se escrevem cartas de amor, quanto mais cartas de despedida à mão…
Tempos modernos estes em que miseravelmente nos reduzimos ao nada vazio…
Refugio-me no silêncio da tua ausência, como pedes…
E
Quando as saudades comigo passearem de mão dada como queria andar contigo
A ver o Tejo na nossa Lisboa
Escrevo-te.
Se um dia leres
Porque espero que um dia possas ler
Escrevo-te
Agora dedicado a ti
Como antigamente dediquei a alguém
Com a mesma ternura
O mesmo sentimento
A mesma paixão
Chama-lhe amor se queres, já não interessa…
Escrevo
Com a mesma vontade de confessar o que sinto
Para lá da ausência tua, porque te despediste também.
Agora por ti
Em tua memória que não sei se és…
Porque verdadeiramente não sei quem és
Nunca te revelaste fora do sonho que dizias querer viver
E porque agora me dou conta ou talvez não
Afinal eu fui sempre o papel secundário dentro do teu sonho
Mas não importa isso, fico magoado só, para que saibas.
A minha memória é selectiva
Recordo o bom de ti
Tudo o resto são palavras

E

NENHUMA PALAVRA É INOCENTE…


João marinheiro , Estoril Maio 2006
Fotografia de Barcoantigo

10 comentários:

Claudia disse...

Deixa-me corrigir-te(acho que já te posso tratar por tu!) , dizendo que temos mais que uma coisa em comum. Temos o gosto pelo mar...Não me inspira parar escrever mas é parte integrante da minha vida. Moro à beira mar, numa cidade com mar. É um privilégio poder ler um livro à beira mar o ano todo...A ouvir o barulho do mar, sim, o barulho do mar. Não o som das ondas. Porventura seria mais bonito dizê-lo, mas não é isso que me atrai. É mesmo o barulho do mar. E além disso, também leste Cartas a Sandra. Como já percebeste, gosto muito de Vergílio Ferreira. Mas, relativamente a essas cartas, também a mim me transportam a muitas memórias. Espero não te relembrar nada que não queiras, mas deixa-me transcrever, mais um excerto. Quando eu digo mais, quero dizer, o excerto. É engraçado! Nem no meu blog tive a coragem de o publicar, mas faço-o para ti. Pelos vistos, a tua escrita também me alcançou...de que forma é que eu ainda não sei.
Não conheço outro texto, um qualquer poema, que diga ou melhor, que me faça sentir o que é o amor como este. Aqui revelado através da ausência. A mesma ausência que tanto falas nos teus poemas, claro que aqui é definitiva.
"Assim hoje ao acordar fiquei aterrado ao ver que de noite me rolara para o meio da cama. Deitei-me como sempre do meu lado, para deixar livre o teu no caso de resolveres voltar e te deitares nele. Mas o sono levou-me para o sítio que é o bom e fica à minha esquerda. Porque é que eu passei para o meio da cama? e só acho uma como resposta o teres morrido para sempre. E fiquei horrorizado da minha libertação. Não vás ainda. Volta de novo. Vou deitar-me outra vez no meu lugar e deixar o teu à espera. Vem de noite sem eu dar conta e acordar contigo ainda no teu sono e tocar-te e seres tu.
Paulo"

Depois disto, qualquer palavra que diga, será sempre a mais...

Beijo

Lanna disse...

Bem, nem me arrisco a dizer nada...

Anónimo disse...

percorrendo os caminhos da nossa memória, vamos arrumando as gavetas do tempo...
Excelente a tua escrita, como sempre por aqui fico "ouvindo" o silêncio das ausências presentes.
Abraços

Claudia disse...

Que a curiosidade se transforme em acção...Lê, não te arrependerás. Confia em mim. E também eu não te disse, que o Pedro (como tu lhe chamas!), também deamboleia por uma praia perto de mim...Pelos vistos o nosso mar é o mesmo!

Anónimo disse...

E na saudade te desnudas como nunca o fizestes
Na confissão de um amor não sentido,
tornas-tes selectivo
O certo se tornou incerto
E o encantou virou saudade
Conforme dizes:
Afinal já não interessa....


A palavra perdeu a inocência.

Anónimo disse...

...hoje recebi uma carta.
uma carta linda,escrita á mão,com letra bonita em 4 folhas de papel.

as palavras assim...não
perdem a inocência.

isabel mendes ferreira disse...

verdade...nenhuma palavra é inocente....e quantos vezes é criminosa...insidiosa....e por aí.


bom dia marinheiro ao leme de palavras que guiam....

Vanda disse...

...que venha a luz se te leio pensamentos.

...que venha para me iluminar.

Hoje estou triste.


Um beijinho

Van

Goticula disse...

As tuas palavras são lindas! Teu mar marulham palvras de amor e saudade...joão marinheiro...

Mikas disse...

Boa semana... cheia de palavras ou de silêncio... faz falta de tudo um pouco!